Novas regras e metas para baterias são oportunidade para maior competitividade em Portugal, afirma Governo
Há novas regras e metas para o fabrico, recolha e tratamento de baterias e pilhas na UE. Governo admite que os objetivos são exigentes, mas vê uma oportunidade em termos de competitividade.
Há uma nova regulamentação da União Europeia que atribui uma renovada importância ao ciclo de vida das pilhas e baterias. Os 27 Estados-membros terão que alocar recursos para melhorar a produção dos equipamentos e reforçar a capacidade de recolha e reciclagem das pilhas e das baterias aquando do fim de vida, de forma a acautelar as necessidades industriais do bloco nos próximos anos, à medida que o planeta ruma em direção à descarbonização.
Em declarações ao ECO/Capital Verde, o Governo considera estas metas “ambiciosas” e adianta que conferem um novo desafio para o setor, uma vez que obrigam à aplicação de “um conjunto de medidas em todos os elos da cadeia de valor das baterias, que permitam evoluir a nível nacional”.
Desde logo, o executivo fala de medidas de promoção de ecodesign no fabrico de baterias e acumuladores, que possibilitem, depois, a reparação. E, chegando ao fim de vida, medidas que viabilizem o desmantelamento e a recuperação de materiais que visem a reincorporação noutras baterias. Estes passos, vão, por sua vez, obrigar ao desenvolvimento de uma “recolha mais eficaz” e irão assentar numa economia mais circular, que permitirá que Portugal “seja mais competitivo face a outros mercados”, afirma o Governo.
É nesse sentido, detalha o Ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC), que estão a ser preparadas as novas licenças no âmbito da responsabilidade alargada do produtor para o sistema integrado do fluxo específico de resíduos de pilhas e acumuladores, que entrarão em vigor em 2024.
O caminho será exigente. Não só por causa dos requisitos que nascem com a nova regulamentação, mas também porque o histórico de Portugal no que toca à recolha de pilhas não é o melhor. Segundo os dados da Agência Portuguesa do Ambiente, em 2021, o país atingiu uma taxa de recolha de pilhas e acumuladores portáteis de 19,5%, quando a meta comunitária era de 45%. Ainda assim, garante o MAAC, “a estratégia e as medidas que serão brevemente aplicadas irão contribuir” para que os objetivos sejam cumpridos.
Exigências europeias vão obrigar a mais investimento
Para a Eletrão, entidade que recolhe embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados em Portugal, “serão necessários investimentos significativos” tanto no bloco europeu, como a nível nacional, de forma a consolidar uma estratégia que procure impulsionar a recolha e reciclagem, que, “neste momento está muito condicionada na Europa”.
Ao ECO/Capital Verde Ricardo Furtado, diretor-geral adjunto da Eletrão, aponta que, atualmente, “Portugal não dispõe de recicladores para pilhas e baterias portáteis e para baterias de veículos elétricos”, isto é, entidades que fazem a recolha destes recursos, sendo esse o motivo pelo qual “estes resíduos têm sido exportados para recicladores estrangeiros”, alega. Para mudar parte dessa realidade, recomenda o responsável, será “preciso conquistar” os municípios e os Sistemas de Gestão de Resíduos Urbano a instalar mais pilhoes na rua, e ainda o setor da distribuição dado que será obrigado a retomar pilhas e baterias usadas dos seus clientes com esta nova regulamentação.
As dificuldades também passam pela sensibilização. Para a Eletrão, é fundamental “que cada cidadão esteja consciente da necessidade de entregar o seu equipamento para a reciclagem num local autorizado” ao invés de o depositar no lixo indiferenciado. A entidade alerta que elementos perigosos que integram estas componentes, como o mercúrio, chumbo ou cádmio, podem causar “graves impactos negativos” se não forem devidamente tratados, não só no ambiente, como na saúde das pessoas, nomeadamente problemas nos rins e nos sistemas nervoso, neurológico e digestivo.
Taxa de recolha de baterias chegará aos 73% até 2030
Perante as previsões que dão conta de que a procura por baterias irá aumentar em cerca de 10 vezes até 2030, o Conselho Europeu, que está sob a presidência espanhola este semestre, reuniu consenso entre os 27 Estados-membros sobre uma nova regulamentação que visa melhorar a conceção de todos os tipos de baterias (portáteis; industriais; de arranque; iluminação e ignição; baterias de veículos elétricos e baterias para meios de transporte ligeiros, como bicicletas e trotinetes elétricas), permitindo maiores níveis de reutilização e reciclagem.
Além disso, estabelece novas obrigações para a recolha no bloco europeu. Até 2027, os 27 Estados-membros terão que garantir 63% de recolha de pilhas e baterias portáteis em fim de vida, sendo que essa percentagem salta para 73% até ao final de 2030. Além disso, introduz um objetivo específico de recolha de baterias de meios de transporte ligeiros (51% até final de 2028 e 61% até final de 2031).
As metas são se ficam por aqui, uma vez que Bruxelas quer que a valorização do lítio a partir de resíduos de pilhas e baterias seja de 50% até 2027, e de 80% até final de 2031, dado que este mineral é um elemento essencial para a produção de painéis solares e turbinas eólicas, mas também bombas de calor, baterias ou semicondutores. Já a valorização de baterias de níquel-cádmio é fixada em 80% até ao final de 2025 e em 50% até ao final de 2025 para outros resíduos de baterias.
As novas diretrizes preveem ainda níveis mínimos obrigatórios de conteúdo reciclado para as baterias industriais, baterias de iluminação e ignição e baterias de veículos elétricos. Foram inicialmente fixados em 16% para o cobalto, 85% para o chumbo, 6% para o lítio e 6% para o níquel.
Valorização de recursos reduz dependência de terceiros
Além de impulsionar a economia circular, permitindo que a União Europeia esteja alinhada com os objetivos do Pacto Ecológico Europeu, as metas do Plano de Ação para a Economia Circular e a Nova Estratégia Industrial, também permitem que os consumidores ganhem poupanças, dado que os equipamentos poderão ter uma maior longevidade.
O regulamento aprovado em Bruxelas prevê que, até 2027, as pilhas e baterias portáteis incorporadas em determinados aparelhos possam ser facilmente substituídas pelo consumidor, deixando tempo suficiente para que os operadores adaptem a conceção dos seus produtos a este requisito. Já os novos produtos terão que vir acompanhados de um passaporte digital com informação sobre o impacto ambiental.
Além disso, a regulamentação nova impele que haja uma maior reutilização destes equipamentos. “Por exemplo, uma bateria de um veículo elétrico pode ser reutilizada para armazenagem de energia num sistema fotovoltaico, o que constitui uma novidade”, realça Ricardo Furtado.
Por outro lado, as novas pilhas e baterias passarão a ser feitas com materiais reciclados, “evitando a dependência de países terceiros”, acrescenta o diretor-adjunto da Eletrão, numa opinião partilhada pelo Ministério do Ambiente. Segundo a Comissão Europeia, cerca de que 98% das matérias-primas críticas, como o lítio, níquel, cobalto ou chumbo, proveem de países fora do bloco europeu.
De forma a minimizar essa dependência, o gabinete de Duarte Cordeiro refere ainda que o Governo está a trabalhar com a cadeia de valor das baterias “no sentido de fechar estes ciclos”, proporcionando uma “oferta de matérias-primas secundárias com a qualidade necessária para que possam ser reincorporadas em novas baterias, promovendo maior eficiência dos recursos”.
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