Banco de Fomento reorganiza estrutura e cria novas direções

Dada a dimensão das mudanças em curso, o BPF vai criar um departamento para gerir a transformação, que vai reportar à presidente executiva, Ana Carvalho. Responsável da nova área já foi contratada.

O Banco de Fomento vai reorganizar a sua estrutura, criando novas direções e segregando funções, à semelhança do que acontece na banca comercial. As mudanças foram comunicadas à equipa, com um tom de urgência e exigência. A refundação da instituição tem de estar concluída até 31 de dezembro, data em que termina a autorização de despesa em vigor.

O Banco de Fomento vai passar a contar com uma direção de operações, para a qual serão destacadas várias áreas. “Estamos em transição. Temos muitas alterações em curso. Mas, basicamente, a primeira grande mudança é a criação de uma direção de operações, para onde será destacado tudo aquilo que está a ser feito nas várias áreas”, explicou ao ECO a presidente executiva do Banco de Fomento. “O banco não tinha uma direção de operações e todos os bancos têm uma”, justificou Ana Carvalho, acrescentando que esta mudança “afeta toda a estrutura”.

A segunda alteração surge na área comercial, que fica livre das operações”, prossegue a CEO do Banco de Fomento, com “a segregação do marketing” e o desenvolvimento de produto. “Hoje as áreas de negócio estão a fazer as três coisas: operativas, criação e desenvolvimento de produto e manutenção do mesmo e relação comercial” e o objetivo é “ter uma clara segmentação das funções e especialização das mesmas” acrescenta a responsável.

Além disso, dentro da atividade comercial, o plano da administração, aprovado a 28 de julho, passa por, “de alguma forma, separar o que é novo negócio do que é acompanhamento de portfólio”. “Estamos a falar do mercado de capital de risco, e quando estamos a lançar novos instrumentos e interagir com novos concursos temos de ter um foco especial, que é diferente do acompanhamento”, justifica Ana Carvalho.

Ao nível da função financeira também vão ser feitas alterações. “A área financeira tem hoje uma direção de fundos sob gestão, que também é uma parte da direção de operações”, explica a CEO. “Parte dessa área financeira tem de passar para a direção de operações. E depois é colocá-la no state of the art daquilo que é uma direção financeira”, sublinha.

Ana Carvalho dá um exemplo: “Hoje não temos ainda uma área que faça a gestão das aplicações, aquilo a que se chama asset liability management nos bancos, gestão de aplicações, tesouraria. Temos muita tesouraria e temos de ter uma equipa ativamente a geri-la”. “No fundo, a direção financeira vai ter uma transformação de 360 graus, que tem várias componentes”, concluiu.

Em termos de risco, o banco “não tinha ainda uma área que valorasse modelos de rating”. “A equipa de risco faz o modelo de rating que é utilizado pelo banco e pelas sociedades de garantia mútua, que depois cada um tem de adotar e decidir, obviamente”, sublinha. Mas, “é importante haver uma equipa segregada, que audita o modelo de rating. Ou seja, quem pensa o modelo de rating não pode ser o mesmo que implementa. Uma segregação de funções óbvia na banca toda”, diz a CEO.

Tendo em conta a dimensão das mudanças em curso, o Banco de Fomento vai criar um departamento para gerir esta transformação. “É um gabinete de transformação que vai reportar” à presidente executiva e que irá acompanhar todo o processo. Vai “ser o project manager disto tudo”, diz Ana Carvalho, acrescentando que é uma função que será assegurada “internamente”. “Já contratámos a responsável que entra no dia 1 de dezembro”, avançou, se querer avançar para já nomes. “É uma pessoa que vem da banca e tem experiência nisto”, disse.

Mas esta não é a única contratação. Estão abertos concursos para contratar cerca de 45 pessoas, “números redondos”, “que vão dotar as estruturas das valências e da dimensão necessária para este crescimento de negócio que temos”. Ana Carvalho justifica também a necessidade destas contratações com a especificidade de algumas funções, como a validação de modelos – “uma coisa muito técnica que não temos lá dentro”. “Muitas destas coisas são eficiência e outras são cumprimento de regras base de segregação de funções que a banca tem”, explica a responsável.

Equipa desconfortável com a mensagem

Estas alterações foram definidas no Plano de Atividades e Orçamento 2023-25, aprovado na assembleia geral de final de julho, e já eram do conhecimento da maior parte dos diretores, mas agora foram apresentadas à equipa técnica. A ação começou com um passeio no Douro e uma passagem pela Quinta da Pacheca mas, por falta de sigilo, a opção foi apresentar o plano estratégico depois. Ainda assim, os discursos da administração não foram bem recebidos pela equipa, apurou o ECO junto de várias fontes, porque entenderam a mensagem como uma ameaça velada: quem não está com a direção pode sair porque é possível encontrar soluções iguais ou melhor. A apresentação de um slide com a frase #aceitaquedoimenos, título de uma canção de Rute Marlene, seguida de frases motivacionais de John F. Kennedy e Peter Drucker, caiu particularmente mal junto da equipa.

O ECO questionou Ana Carvalho se não foi demasiado dura na apresentação. A CEO retorquiu que foram “pragmáticos”. “Explicámos esta reestruturação e que temos de nos focar na mudança. Até ao final do ano, temos um desafio muito grande”. A preocupação de Ana Carvalho é ter tudo pronto até 31 de dezembro, porque, a partir de 1 de janeiro de 2024 já não tem um orçamento aprovado e não sabe quando vai ter.

“A única certeza que temos enquanto organização é até ao dia 31 de dezembro. Daí em diante não sei. Agora posso contratar pessoas e iniciar os processos de contratação pública para apoiar esta alteração”, explica a CEO. “Precisamos de ferramentas de IT para fazer isto tudo e libertar as pessoas de trabalhos que não faz sentido serem feitos”, acrescenta.

“Claro que é muito exigente”, reconhece. “Temos de 1 de agosto até 31 de dezembro para fazer isso tudo, em simultâneo, porque o mercado não vai ficar à espera que nos organizemos. Não pode ficar à espera, é completamente exigente”, diz, acrescentando que vão entregar “agora um plano de atividade para 2024”. “Mas não controlo os timings de aprovação, essa é parte dura”, desabafa.

“O que tentámos explicar é que a mudança é esta. O plano é este. É muito claro nas nossas cabeças”, frisou. “Não fomos duros, acho eu. O que tentei explicar às pessoas, é que temos este tempo, e isto é certo. Daí em diante é uma incerteza. Agora tenho esta janela de oportunidade para fazer acontecer. Depois temos acionistas mais uma vez. Agora é para aprovar! Temos os meios aprovados para recursos humanos e financeiros. Temos de mudar já e sem conflito”, concluiu.

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