Centeno defende prudência nos aumentos salariais e proteção do emprego

Centeno diz que é preciso que as políticas monetária e orçamental reconheçam os desafios do mercado de trabalho. Mas avisa que contração em excesso "é incompatível" com aspirações dos trabalhadores.

Há “poucas razões” para antecipar espirais inflacionistas alimentadas pelos salários na Zona Euro, mas o governador do Banco de Portugal recomenda “prudência” nos aumentos dos vencimentos e deixa claro que estes devem ser definidos pelos ganhos de produtividade. Numa análise ao mercado de trabalho divulgada esta segunda-feira, Mário Centeno salienta ainda que é preciso proteger o emprego. E avisa que uma contração excessiva da política monetária pode ser “incompatível” com “aspirações dos trabalhadores”.

“Na Europa, o mercado de trabalho tem funcionado como uma proteção, escudando os rendimentos face aos impactos imprevisíveis dos choques exogéneos. Contudo, a Zona Euro parou de crescer há um ano. Se não tivesse sido pelo emprego, a inflação e a estagnação teriam resultado em estagflação“, descreve o responsável, que detalha que as economias europeias só escaparam a esse cenário, uma vez que as empresas interpretaram “corretamente” a inflação como um “fenómeno temporário“.

Mário Centeno dá, portanto, quatro razões para esse bom resultado. Primeiro, a credibilidade do Banco Central Europeu (BCE). Segundo, o facto de a inflação ter sido gerada pela oferta, o que levou a uma “redução imediata” assim que os choques nessas cadeias se dissolveram. Terceiro, as políticas orçamentais, que evitaram medidas demasiado expansionistas. E, por fim, a flexibilidade e mobilidade do mercado de trabalho.

“Contudo, a complacência é injustificada“, avisa, defendendo que é preciso que as políticas monetárias e orçamental reconheçam os desafios que estão colocados ao mercado de trabalho.

Neste contexto, a função das políticas deverá continuar a ser a estabilização, diz. E aconselha paciências aos decisores políticos. “Devemos permanecer, assim, fiéis aos princípios de reconhecer os dados, reportar as conclusões, e reagir apenas se, mas sempre que, necessário“, assinala.

Avisa, contudo, que as “aspirações e investimentos dos trabalhadores” são “incompatíveis” com um aperto excessivo dessas políticas.

Por outro lado, Mário Centeno deixa claro: deve ser a prudência a guiar os aumentos salariais. E entende que é preciso salvaguardar o emprego e a sua flexibilidade, aproveitar as migrações para expandir o mercado e não ignorar as desigualdades entre os países, de modo a que a prosperidade e estabilidade sejam partilhadas por todos.

“O mercado de trabalho permanece o maior ativo da área do euro e deve ser preservado”, salienta o governador do Banco de Portugal.

A melhoria dos salários tem sido uma das principais bandeiras do Governo de António Costa. Mesmo com níveis históricos de inflação, em Concertação Social foi assinado um acordo que prevê aumentos remuneratórios acima de 5% no privado.

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