Economia chinesa cresceu 5,2% em 2023, mas crise no imobiliário ensombra expectativas

Preços das casas novas na China caíram 0,45% em dezembro, face ao mês anterior -- a maior queda desde fevereiro de 2015, segundo dados do Gabinete Nacional de Estatística.

A economia chinesa acelerou no quarto trimestre de 2023 e fixou a taxa anual de crescimento em 5,2%, ligeiramente acima do objetivo estabelecido pelo Governo chinês, mas inferior às expectativas de muitos analistas e investidores, já que se verificou um aprofundar da crise do imobiliário, são crescentes os riscos de deflação e de arrefecimento da procura o que ensombra as perspetivas para este ano.

A aceleração reflete também o efeito base de comparação face à paralisia da atividade económica no ano anterior, suscitada pela política de ‘zero casos’ de Covid-19. O PIB da China cresceu 3% em 2022, uma das taxas mais baixas dos últimos 40 anos. As expectativas de que a segunda maior economia do mundo protagonizasse uma forte e rápida recuperação no pós-Covid não se verificou tendo em conta o baixo nível de confiança dos consumidores e das empresas, crescente nível de endividamento da regiões e abrandamento do crescimento mundial o que pesou no emprego, atividade económica e investimento. Por isso, o índice de referência da Bolsa de Hong Kong Hang Seng caiu 3,71%, para mínimos de outubro de 2022. A única vez que desceu abaixo da marca dos 15.000 pontos desde 2009 foi no final de outubro de 2022, quando o Presidente chinês, Xi Jinping, obteve um terceiro mandato sem precedentes no cargo e conseguiu capturar a liderança do Partido Comunista da China (PCC) com membros do seu circulo de confiança, durante o 20.º Congresso do partido.

A produção industrial, que mede a atividade nos setores indústria transformadora, minas e serviços públicos, aumentou 4,6%, em 2023, em comparação com o ano anterior, enquanto as vendas a retalho de bens de consumo cresceram 7,2%.

Já o investimento em ativos fixos – despesas com equipamento industrial, construção e outros projetos de infraestruturas para impulsionar o crescimento — subiu 3%, em termos anuais, em 2023, segundo os dados oficiais avançados esta quarta-feira pelo Gabinete Nacional de Estatística da China.

No entanto, os indicadores apontam para uma recuperação desigual no país. As exportações, historicamente o motor de crescimento chinês caíram o ano passado, pela primeira vez desde 2016, de acordo com os dados das alfândegas publicados sexta-feira. Mas, os dados comerciais de dezembro, divulgados no início deste mês, revelaram um ligeiro crescimento das exportações pelo segundo mês consecutivo, bem como um ligeiro aumento das importações. No entanto, os preços ao consumidor caíram pelo terceiro mês consecutivo, sinalizando a persistência de pressões deflacionistas.

Também os preços das casas novas na China caíram 0,45% em dezembro, face ao mês anterior — a maior queda desde fevereiro de 2015, segundo dados do Gabinete Nacional de Estatística (GNE). Em novembro, este indicador — que tem como referência os preços em 70 cidades e exclui a habitação social — tinha caído 0,37%. O valor dos imóveis em segunda mão também caiu, segundo a Bloomberg: 0,79% em dezembro, em termos mensais, ao mesmo ritmo que no mês anterior. Este valor é um novo sinal da crise que afeta o setor imobiliário chinês, que pesa cerca de 30% do PIB, há mais de dois anos, frisa a Bloomberg.

O valor do investimento em construção imobiliária, que caiu 9,1% em 2023, é outro sinal dessa crise assim como o facto de as vendas totais de edifícios comerciais terem caído 6,5%, enquanto as vendas de imóveis comerciais medidos por área útil caíram 8,5%.

“Os problemas do mercado imobiliário persistem e não há sinais de que a correção no setor esteja perto de atingir o seu ponto mais baixo. Isto está a pesar no investimento privado e a dar boas razões para manter as despesas contidas”, explicou Harry Murphy Cruise, economista da Moody’s Analytics.

Para Cruise, o sucesso económico da China em 2024 estará intimamente ligado à eficácia das autoridades em inverter a situação do mercado imobiliário. “Sem o enorme aumento da despesa dos últimos anos, o investimento imobiliário, os preços da habitação e os preços das novas habitações parecem estar no bom caminho até 2024. Em 2025, esperamos que o mercado regresse como um humilde motor de crescimento, embora muito longe dos seus dias de glória anteriores a 2021”, sublinhou.

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, já tinha garantido no Fórum Económico Mundial em Davos (Suíça), na terça-feira, que a China alcançou o seu objetivo económico sem recorrer a “estímulos maciços”. Li Qiang disse que o país tem “fundamentais bons e sólidos no seu desenvolvimento a longo prazo” e que, apesar de alguns contratempos, a tendência positiva da economia mantém-se.

O desempenho da economia chinesa também reflete os esforços de Pequim para desalavancar a economia, tentando reduzir riscos financeiros e construir um modelo assente na produção de bens com valor acrescentado e alocação eficiente de recursos. Mas as perturbações causadas pela pandemia e a crise de liquidez no setor imobiliário, que concentra cerca de 70% da riqueza das famílias chinesas, segundo diferentes estimativas, afetaram a confiança dos consumidores e pesaram sobre a economia.

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