O que valorizam os médicos? E os enfermeiros? Estudo para medir satisfação e fixação no SNS arranca este mês

"É a primeira vez que se faz um estudo em Portugal com esta dimensão e metodologia", diz Ana Sofia Ferreira, referindo que vai permitir tomar decisões "mais informadas" em matéria de recursos humanos.

O que faz um enfermeiro abandonar a profissão? E o que mais valorizam os médicos? Vai arrancar este mês o primeiro estudo nacional que pretende dar respostas sobre a satisfação destes profissionais de saúde, quer no setor público quer no privado, assim como os fatores que os fazem ficar ou sair do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ao ECO, Ana Sofia Ferreira, uma das coordenadoras do estudo, realça que este é um projeto “inovador” e “ambicioso” e vai permitir ao Ministério da Saúde tomar decisões “muito mais informadas” em matéria de gestão de recursos humanos. As conclusões estão previstas para daqui a um ano.

O estudo é fruto de uma parceria entre o PlanAPP e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-UNL), a quem caberá a coordenação científica do trabalho, e o lançamento foi assinalado esta quinta-feira. Conta com a participação da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Enfermeiros, da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) e de representantes do Ministério da Saúde, tendo em vista juntar os contributos de todos os stakeholders.

“Queremos fazer a avaliação da satisfação e da motivação [dos profissionais de saúde] tanto no setor público como no privado”, bem como “avaliar os fatores de retenção profissional no SNS”, resume Ana Sofia Ferreira, ao ECO. “É a primeira vez que se faz um estudo em Portugal com esta dimensão e metodologia”, realça a coordenadora da área de planeamento de recursos humanos da saúde do PlanAPP, sublinhando que se trata de um trabalho “inovador” pelo facto de “cobrir os dois setores [público e privado], bem como “em termos de ambição ao cobrir duas grandes profissões”.

Nesta primeira fase, os investigadores, em conjunto com os restantes parceiros, vão “adaptar os inquéritos internacionais” à realidade portuguesa, de modo a avaliar quais são os fatores mais importantes a ter em conta nos inquéritos que serão realizados aos profissionais de saúde. “Em termos teóricos, identificam-se centenas de fatores de satisfação e insatisfação profissional nestes grupos”, explica Ana Sofia Ferreira, notando que “os mais óbvios” prendem-se com “a remuneração, a possibilidade de progressão na carreira, horários flexíveis, poder não fazer noite…”, entre outros. Mas tudo isso será discutido, tal como os fatores a ter em conta na avaliação da retenção ou abandono do SNS e a própria metodologia do estudo.

Ao ECO, a coordenadora da área de planeamento de recursos humanos da saúde do PlanAPP aponta que “só daqui a alguns meses” é que estas métricas estarão fechadas, mas o objetivo passa por começar a realizar os inquéritos “em maio” ou o mais tardar “no final do primeiro semestre”.

Nesse sentido, a amostra ainda não está definida, mas a responsável garante que esta será “representativa e segmentada”, de modo a que “haja representação de género, de setores – incluindo cuidados primários e cuidados hospitalares – e se possível por regiões“. “Isto vai exigir uma amostra muito grande”, afiança. Para o efeito, o IHMT vai subcontratar inquiridores, que idealmente farão os inquéritos presencialmente.

O trabalho “de fundo” será “longo” e dará origem a vários relatórios, podendo nomeadamente focar-se no “setor público ou privado” ou “afunilar os fatores de retenção e de abandono” do SNS. “Não vamos ter uma resposta única qualquer que seja a faixa etária ou género. Provavelmente vamos ter fatores de satisfação e motivação conforme a idade, conforme o setor. E é essa riqueza que o estudo vai ter”, acrescenta a coordenadora, sinalizando que preveem fechar todo o trabalho daqui a um ano.

Este estudo foi encomendado pelo Governo e tem como intuito permitir “ao Ministério da Saúde poder conceber medidas e tomar decisões muito mais informadas e alinhadas” com aquilo que são “os anseios e os desejos dos profissionais” de saúde, especialmente no SNS, e de modo a conseguir atrair e reter os profissionais no sistema público, explica a coordenadora.

De lembrar que este tem sido, aliás, um dos temas a marcar os últimos tempos com as avisos sobre a “fuga” de médicos e enfermeiros para o setor privado ou até para a emigração ou a dificuldade em preencher as escalas de urgência – pelo facto de os médicos se recusarem a exceder o limite das 150 horas obrigatórias (e que agora sobe para 250 horas para os médicos que adiram ao regime de dedicação plena) – a terem causado constrangimentos nos hospitais no final do ano passado.

O trabalho insere-se num conjunto de projetos de investigação que estão em curso e que são dedicados à qualificação das políticas de gestão e planeamento estratégico dos Recursos Humanos da Saúde, na sequência de um despacho conjunto do Ministério da Presidência e do Ministério da Saúde, publicado no ano passado. Entre os estudos previstos, consta o “Planeamento de Recursos Humanos em Saúde – Radiografia dos Instrumentos de Planeamento e “Os Profissionais do SNS – Retrato e evolução 2010/2023”, que serão divulgados em março.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

O que valorizam os médicos? E os enfermeiros? Estudo para medir satisfação e fixação no SNS arranca este mês

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião