Banca privada com lucros históricos de 3,15 mil milhões em 2023

Subida dos juros dão resultado histórico aos bancos privados: Totta, BCP, Novobanco e BPI lucraram 8,6 milhões de euros por dia no ano passado e tornam-se alvo fácil em plena campanha eleitoral.

Os quatro maiores bancos privados em Portugal registaram lucros históricos de 3,15 mil milhões de euros no ano passado, um disparo de 80% em comparação com o ano anterior e que foram conseguidos graças, sobretudo, à subida das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE).

Trata-se de um resultado inédito (embora esperado) e que surge em plena campanha para as eleições de 10 de março, colocando o setor bancário na mira dos líderes políticos e deixando os banqueiros com receio de medidas populistas para lucros que dizem que não serão repetíveis (deverão estabilizar este ano).

Entre os cinco maiores bancos em Portugal só a Caixa Geral de Depósitos (CGD) ainda não prestou contas, não divulgou ainda a data de apresentação de resultados, o que deixa a entender que o banco público só deverá fazê-lo depois de os portugueses irem às urnas para evitar cair no debate político. Em todo o caso, esperam-se resultados recorde no banco do Estado, depois dos lucros de perto de mil milhões até setembro.

Entre os privados, as contas são estas: Santander Portugal, BCP, Novobanco e BPI tiveram lucros de 8,6 milhões de euros por dia em 2023 (um número que os responsáveis dos bancos não gostam de ver nos jornais), acima dos 4,8 milhões diários registados em 2022.

O Santander Portugal registou o lucro mais elevado, na ordem dos mil milhões de euros, mais 70% em relação a 2022. Seguiram-se o BCP e o Novobanco, com resultados líquidos de 856 milhões e 743,1 milhões, respetivamente. O lucro do BPI cresceu 40% para 524 milhões de euros.

Com isto, os bancos deixaram para trás um dos seus calcanhares de Aquiles dos últimos anos: a rentabilidade dos capitais próprios (ROE): Santander e Novobanco atingiram ROE acima dos 20%, o BPI conseguiu praticamente duplicar a rentabilidade e o BCP fechou 2023 com um ROE de 16%.

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Margem quase duplica

Não é difícil explicar a razão por detrás destes resultados históricos na banca: com a subida das taxas de juro do BCE, os bancos cobraram mais pelos empréstimos às famílias (habitação sobretudo) e empresas, enquanto pagam menos pelos depósitos.

Essa é a chamada margem financeira dos bancos, que corresponde em grande medida à diferença entre os juros cobrados nos créditos e os juros pagos aos depositantes.

Os quatro grandes bancos privados em Portugal viram a margem de juros disparar 56% para 6,4 mil milhões de euros no ano passado, ainda que o volume de negócios (empréstimos e depósitos) tenha perdido terreno.

O gráfico em baixo ajuda a perceber bem o impacto do aperto monetário do BCE para controlar a inflação na margem financeira dos bancos. Esse impacto especialmente sentido em Portugal tendo em conta que o mercado de habitação tem 90% dos contratos associados a taxa variável (que sobe quando as taxas do mercado também sobem, e vice-versa).

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Se em 2022 já foi visível o impacto da subida dos juros, em 2023 terá sido atingido o pico, perspetivando-se agora uma inversão à medida que BCE se prepara para aliviar a política monetária a partir do verão, de acordo com os analistas.

Ainda assim, o desempenho excecional da margem financeira no ano passado compensou a descida ligeira nas receitas com as comissões bancárias, que atingiram os 1815 mil milhões, menos 1% em termos anuais.

E permitiu ainda fazer face ao aumento dos custos operacionais, que aumentaram 8% para 2,65 mil milhões.

Depósitos não resistem aos certificados e reembolsos

Apesar do aumento dos lucros e das receitas, a base de negócio dos bancos perdeu terreno em 2023. Os depósitos não resistiram à fuga para os Certificados de Aforro que se observou na primeira metade do ano passado, quando pagavam 3,5% antes de o Governo ter decidido cortar a remuneração no início de junho.

Por outro lado, outro fator levou as famílias a tirar as poupanças do banco: as amortizações antecipadas do crédito da casa, num esforço para conter a pressão das taxas de juro.

Neste cenário, os depósitos de clientes da banca privada recuaram 4% para 143,8 mil milhões de euros. O Santander foi o banco mais pressionado pela saída de depósitos: caíram 8,6% para 35,2 mil milhões. Já o BPI e o Novobanco conseguiram de alguma forma estancar a fuga de poupanças. No BCP a queda foi de 3%.

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Por outro lado, a carteira de empréstimos para a compra de casa caíram mais de 1% para 65,5 mil milhões de euros. A alta das taxas de juro teve dois efeitos negativos no crédito à habitação: levou a uma menor procura e também as famílias a pagarem antecipadamente a dívida aos bancos.

Saem 60 trabalhadores

Depois de anos de profunda reestruturação, que implicou a saída de milhares de trabalhadores e o fecho de dezenas de balcões, 2023 foi um ano relativamente tranquilo nesta área. Totta, BCP, BPI e Novobanco registaram saídas líquidas de 60 trabalhadores, empregando agora 19,3 mil pessoas.

Por outro lado, foram encerrados 26 balcões no ano passado. Os maiores bancos privados dispõem agora de uma rede de 1.337 balcões.

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