“Mulheres em cargos de poder devem devotar tempo a promover outras mulheres”

As vencedoras da terceira edição da Academy for Women Entrepreneurs já são conhecidas, tendo sido atribuído um total de 24 mil dólares (cerca de 22 mil euros) em prémios.

Randi Charno Levine, embaixadora dos EUA em Portugal, com as vencedoras da 3.ª edição da AWE

O que têm em comum um negócio de ilustração e cerâmica, um de reparações ao domicílio outro de agro-turismo ou uma escola de línguas online? São negócios de mulheres e vencedoras do Academy for Women Entrepreneurs (AWE), um programa de promoção do empreendedorismo feminino, promovido em Portugal pela Embaixada dos Estados Unidos da América (EUA). Ana Seixas, Irís Mira, Diana Costa e a ucraniana Ksenniia Golubytska foram as vencedoras desta terceira edição, tendo sido atribuído um total de 24 mil dólares (cerca de 22 mil euros) em prémios.

As mulheres têm também a obrigação de ajudar outras mulheres, mulheres no local de trabalho, mulheres em cargos como o meu, em posições de poder, devem assegurar que devotam parte do seu tempo a ajudar, a orientar a carreira de outras mulheres“, afirma Randi Charno Levine, embaixadora dos EUA em Portugal, em declarações ao ECO.

“Pessoalmente, sendo apenas a segunda mulher embaixadora dos Estados Unidos em Portugal desde 1791, as mulheres e a promoção das mulheres e das conquistas das mulheres são muito, muito importantes para mim. Tenho a sorte de trabalhar num ecossistema, o governo federal sob o presidente Biden, onde o presidente e a vice-presidente trabalharam arduamente para garantir que as mulheres estivessem representadas em todos os níveis de governo e em todos os níveis de liderança”, refere ainda a embaixadora.

“E estamos a tentar espelhar esses compromissos aqui em Lisboa. Na verdade, uma grande percentagem da minha equipa de liderança é composta por mulheres, quase 80%. Somos um grupo de mulheres fortes que sentem uma forte obrigação de ajudar e orientar outras mulheres“, reforçou a embaixadora pouco antes da cerimónia que viu, pelo terceiro ano, reconhecer mulheres e os seus esforços de empreendedorismo, na Casa Carlucci, em Lisboa.

Desde 2019, o programa tem vindo a ser implementado em cerca de 100 países, tendo empoderado cerca de 25 mil mulheres empreendedoras em todo o mundo.

“Há inúmeros programas em todo o governo federal que apoiam as mulheres. O que é único deste programa é que é localizado em cada um dos ecossistemas de empreendedorismo”, comenta Randi Charno Levine. “É ótimo podermos fazer isto localmente, porque são mulheres que vão implementar o seu negócio localmente”, reforça.

Na sua terceira edição em Portugal, o programa de 13 semanas composto por módulos online de empreendedorismo, sessões de grupo, técnicas e de inspiração, uma apresentação final a júri e financiamento seed para as vencedoras, acaba por juntar no mesmo cohort mulheres de áreas de atividade distintas.

“Acreditamos que ter indústrias diferentes é uma coisa positiva, porque as pessoas complementam-se. Não temos só um vertical”, diz Catarina Miguel Martins, diretora da Drive Impact entidade que tem implementado a AWE em Portugal, ao ECO.

“Aquelas mulheres que têm menos experiência, se calhar não são capazes de chegar aos prémios, mas ganham imenso por estarem no mesmo grupo de outras mulheres que têm mais experiência. E nós não trabalhamos com unicórnios e com tecnologia. Procuramos a economia real, mulheres que fazem projetos”, diz.

A designer Joana Duarte, do Béhen Studio, foi a grande vencedora da primeira edição. Usou o prémio para abrir a empresa e um espaço em Lisboa. “No ano seguinte ganhou um Globo de Ouro na moda em Portugal, continua a exportar para o estrangeiro, a crescer, a vestir estrelas internacionais”, descreve Catarina Miguel Martins. “Béhen quer dizer irmandade. Ela tem um projeto com a mãe e com a avó e ajuda as bordadeiras da Madeira e outros tipos de costureiras em Portugal a preservar o seu saber; e a utilizar tecidos esquecidos como as colchas transformando-os”, explica.

E Maria João Baeta foi outra das vencedoras com Happy Gang, “jogos que promovem a saúde, conversa emocional dentro das famílias”. “Entrou no programa no primeiro ano em que começou o projeto. Terminou esse ano com 270.000 euros de faturação”, relata a diretora da Drive Impact. “Utilizou o dinheiro do prémio para ir a uma feira internacional na Alemanha e começar a exportar e vender para vários mercados. Está traduzida em cinco línguas e está a exportar com o apoio de vários distribuidores.”

Vencedoras da terceira edição

As vencedoras da terceira edição evidenciam a variedade de projetos no programa. Ana Seixas, vencedora do grande prémio (9 mil dólares, cerca de 8,3 mil euros), teve um duro contacto com a ‘economia real’ mal abriu a sua loja de venda de peça de cerâmica e ilustração no Porto. A abertura foi em 2020, o mesmo ano da pandemia. Hoje tem uma equipa de três pessoas, vende online e já exporta para o mercado alemão, francês e norte-americano.

“Por não ter formação em negócios e por ter criado toda a empresa de uma maneira muito intuitiva, muito a apalpar terreno, sempre senti que precisava de acompanhamento e de aprender mais para poder continuar com o negócio, para que seja sustentável e poder crescer. A AWE fez isso por mim e por todos os projetos. Acabam por nos guiar nas várias áreas de negócio em que podemos crescer, ser mais frágeis e dar-nos as ferramentas para que possamos continuar, progredir, crescer e manter um negócio estável”, diz quando questionado sobre as motivações que a levaram a candidatar ao programa.

Randi Charno Levine (embaixadora dos EUA em Portugal) com Ana Seixas a grande vencedora da 3.ª edição da AWE

E já tem planos para esta injeção de capital. “Irei investir em recursos humanos, muito provavelmente. Precisamos de fazer crescer a equipa um bocadinho para podermos dar resposta aos pedidos que temos. Investir numa melhor estratégia de comunicação e de marketing que é o que me pode ajudar a alavancar o projeto de uma maneira mais consistente”, adianta. “O objetivo é crescer no mercado internacional, sobretudo os Estados Unidos e Canadá, e conseguir mais clientes fixos e regulares. Acaba por ser um mercado muito grande, muito difícil de entrar e muito difícil de manter uma relação constante”, diz.

Irís Mira, e o seu projeto SheDoes (reparações ao domicílio) e Diana Costa (projeto de agro-turismo tendo por base Quinta Mourisca do Alendouro localizada em Trás-os-Montes) foram a segunda e terceira vencedoras, tendo recebido sete mil e cinco mil dólares (6,5 mil e 4,6 mil euros), respetivamente.

Depois de na segunda edição o programa ter introduzido um bootcamp, nesta última introduziu também outra novidade: ter empreendedoras ucranianas a residir em Portugal. “Tomamos a decisão estratégica de as misturar no cohort das portuguesas para as integrar no tecido empresarial português, de forma a ficarem também com o networking que este programa pode providenciar aqui em Portugal”, explica Catarina Miguel Martins, diretora da Drive Impact.

Sete ucranianas – de um total de 24 participantes – integraram esta edição do programa. Ksenniia Golubytska e a sua escola de línguas Language Lab foi a vencedora. “A minha escola existe há sete anos, mas nunca foi um negócio grande porque nunca tive o conhecimento e as capacidades necessárias para desenvolvê-la. E eu queria muito crescer”, diz. “Este programa contém muitas informações úteis, muitas atividades e exercícios para fazer e não é um processo chato. É um processo realmente necessário”, acrescenta.

Os três mil dólares de prémio (cerca de 2,7 mil euros) já têm destino de investimento. “Definitivamente no marketing. Realmente precisava de orçamento para contratar alguém para me ajudar”, diz.

Hoje a escola – que atua sobretudo online – tem 55 alunos. “Antes da guerra tínhamos mais alunos, mas agora são 55, mas nunca chegamos a mais de 100. Para este ano, até junho, meu objetivo é conseguir 100 e até o final de 2024, 300 e, esperançosamente, crescer até 2.000”, aponta.

Para as mulheres ucranianas participantes este ano, por exemplo, a Eslovénia, promoveu uma conferência. “Estas sete mulheres, que também estão connosco, foram convidadas para, em junho, se juntarem a mulheres ucranianas de toda a Europa e se conhecerem”, adianta Catarina Miguel Martins.

“Não sabia, mas sim, estou muito animada e sinto que agora sei o que compartilhar e como ajudar os outros. Não no nível deste programa, mas, pelo menos para alguém que está a começar, acho que seria útil, e adoraria fazer isso porque apoiar mulheres é algo realmente ótimo. Deveríamos fazer isso”, diz Ksenniia Golubytska.

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