Novobanco “apaga” prejuízos de 3 mil milhões do passado para abrir a porta dos dividendos

Banco teve prejuízos de quase três mil milhões de euros nos últimos anos e quer limpar a folha através de uma redução do capital social, para abrir a porta ao pagamento de dividendos.

Mark Bourke, CEO do Novo Banco, em entrevista ao ECO - 02FEV24
Mark Bourke, CEO do Novobanco, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

O Novobanco continua a desbravar caminho rumo a uma venda, que pode passar pela bolsa. Esta quinta-feira, o CEO Mark Bourke admitiu junto dos analistas que o IPO se mantém bloqueado pelo acordo de capital contingente. A circunstância de não poder distribuir resultados pelos acionistas até final de 2025 não é o melhor cartão de visita para convencer os investidores a interessarem-se pela operação, argumentou o gestor irlandês, pelo que o fim antecipado do chamado CCA seria o cenário mais desejável: “Seria bom para todos: banco e acionistas”.

Mas o acordo de capital contingente não é o único fator que está a bloquear os dividendos do Novobanco. Embora venha registando lucros trimestre após trimestre desde 2021, que permitiria a distribuição de resultados mesmo num cenário sem o CCA, a instituição que nasceu das cinzas do BES há uma década traz uma bagagem pesada de prejuízos que acumulou nos últimos anos por conta do esforço de limpeza do balanço. Situação que impede o pagamento dos dividendos.

O banco continua na senda de reparação do seu balanço, para estar pronto para o IPO quando a oportunidade surgir. É nesse contexto que se prepara agora para “apagar” os prejuízos passados na ordem dos 2,8 mil milhões de euros, através de uma redução do seu capital social, de acordo com uma proposta que será votada na assembleia geral extraordinária de acionistas marcada para daqui a um mês.

Em concreto, Lone Star, Fundo de Resolução e Estado irão deliberar sobre uma redução do capital social no montante de 3,35 mil milhões de euros, dos atuais 6,57 mil milhões para 3,22 mil milhões, sendo que 481 milhões servirão para o reforço das reservas legais.

Contactado pelo ECO, o banco não quis fazer qualquer comentário sobre esta operação.

Recentemente, BCP e Banco Montepio também reduziram o seu capital social para cobertura de prejuízos acumulados, no sentido de poderem distribuir dividendos, que é o que vão fazer este ano: 257 milhões no primeiro caso e seis milhões no segundo.

Ao mesmo tempo que vai reduzir o capital para quase metade, o Novobanco também vai aumentar o seu capital de cerca de 130 milhões de euros por conta a conversão dos direitos de conversão atribuídos ao Estado no âmbito do regime dos ativos por impostos diferidos. O Fundo de Resolução tem até dia 4 de junho para comprar estes direitos e evitar que o Estado, através da Direção-Geral do Tesouro e Finanças (DGTF), se torne no segundo maior acionistas do banco.

Atualmente, o fundo americano Lone Star detém 75% do Novobanco, enquanto o Fundo de Resolução detém 13,04% e a DGTF possui 11,96%.

A assembleia geral extraordinária do dia 7 de junho irá ainda deliberar sobre a mudança da sede do banco da Avenida de Liberdade para o Taguspark nos seus estatutos, alteração essa que já foi aprovada pelo conselho de administração liderado Mark Bourke.

O Novobanco registou lucros de 180 milhões de euros no primeiro trimestre, um aumento de 21,8% em relação ao mesmo período do ano passado.

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