“É importante que se clarifique, tão cedo quanto possível, se vai haver Orçamento do Estado aprovado”, diz Vítor Bento

  • ECO
  • 22 Maio 2024

Vítor Bento, presidente do júri dos Investor Relations and Governance Awards, diz que agentes económicos têm de saber se "estamos perante um horizonte político de curtíssimo ou de médio prazo".

Para o economista Vítor Bento, a instabilidade política prejudica a formulação de expetativas e orientação de decisões, apelando, por isso “que se clarifique, tão cedo quanto possível, qual o grau de incerteza com que a sociedade terá que lidar, nomeadamente, se haverá perspetivas de haver um Orçamento do Estado aprovado para 2025“.

O presidente do júri dos Investor Relations and Governance Awards da Deloitte, que serão entregues esta quarta-feira, alerta ainda, em resposta por escrito ao ECO, que não é razoável esperar um regresso aos níveis de taxas de juro que existiam antes do disparo da inflação.

Sobre o impacto da inteligência artificial, que dá o mote à 36.ª edição dos prémios, o também presidente da Associação Portuguesa de Bancos, considera que “irá acelerar a obsolescência de algumas capacidades e funções” e “irá potenciar o desenvolvimento de outras capacidades”.

Os gestores portugueses estão a ser capazes de lidar com o contexto de taxas de juro mais elevadas ou as empresas estão a ressentir-se?

Um dos desafios que permanentemente se colocam aos gestores é o da adaptação aos contextos que a evolução das circunstâncias vai modificando. Lidar com o contexto que refere é apenas um, e não necessariamente o mais importante, dos desafios de adaptação que os gestores enfrentaram nos últimos anos. E, pelos resultados que se veem, estiveram à altura.

Face às dificuldades que atravessa a economia da Zona Euro, considera que o Banco Central Europeu já deveria ter iniciado o ciclo de descida das taxas de juro de referência ou estas têm de permanecer elevadas por mais tempo para debelar completamente a inflação?

O BCE tem seguramente mais informação do que os nossos “palpitómetros”. De qualquer forma, não creio que a inflação corrente seja o único indicador para que o BCE esteja a olhar para tomar as suas decisões sobre as taxas de juro, do mesmo modo que não creio que o regresso aos níveis de taxas de juro que tivemos nos últimos anos (antes do disparo da inflação) seja uma expectativa razoável.

Preocupa-o que a fragmentação e instabilidade política em Portugal possa ter um impacto negativo na atividade das empresas?

A instabilidade política, pela incerteza que acarreta, é sempre inconveniente para a tranquilidade social, bem como para formulação de expectativas e orientação de decisões, sejam elas das empresas ou das famílias e indivíduos. Nesse sentido, e para minorar os inconvenientes, vai ser importante que se clarifique, tão cedo quanto possível, qual o grau de incerteza com que a sociedade terá que lidar, nomeadamente, se haverá perspetivas de haver um Orçamento do Estado aprovado para 2025 e, portanto, se estamos perante um horizonte político de curtíssimo ou de médio prazo.

As empresas e os seus gestores mostraram – e estou certo de que continuarão a mostrar – elevada capacidade de se adaptarem às circunstâncias, por mais desafiantes que estas sejam, assim como de explorar as oportunidades que essas circunstâncias também criam.

As empresas portuguesas são muito dependentes do mercado europeu, que tem vindo a perder competitividade para os EUA e a China em vários setores. Os gestores devem aproveitar a vocação atlântica de Portugal e reforçar a aposta noutros mercados?

A reforma mais importante da economia portuguesa foi feita pelas empresas na sequência do último grande ajustamento macroeconómico que o País enfrentou. Essa reforma traduziu-se numa maior abertura da economia ao exterior, para vários mercados, e de que resultou o facto inédito em muitas e muitas dezenas de anos, de termos tido balanças comerciais duradouramente equilibradas. Portanto, as empresas e os seus gestores mostraram – e estou certo de que continuarão a mostrar – elevada capacidade de se adaptarem às circunstâncias, por mais desafiantes que estas sejam, assim como de explorar as oportunidades que essas circunstâncias também criam.

A escassez de talento já é um entrave ao crescimento das empresas portuguesas?

É um desafio importante. Mas não é só em Portugal. A rápida evolução tecnológica traz consigo a também rápida obsolescência de algumas capacidades e a escassez das capacidades tecnologicamente mais atualizadas, porque a formação leva mais tempo do que o ritmo das transformações, o que naturalmente cria um problema para as empresas se adaptarem, elas próprias e onde quer que esteja, aos desafios de tais transformações. Não creio que vá entravar, mas irá tornar o desafio mais difícil.

A edição deste ano dos IRGAwards tem como tema “Upscaling human strenght”, com um foco nas potencialidades da inteligência artificial (IA). A IA generativa será uma ferramenta decisiva para o desenvolvimento do talento?

A IA será, como praticamente todas as inovações, uma espada de dois gumes. Irá acelerar a obsolescência de algumas capacidades e funções, como referi anteriormente, e irá potenciar o desenvolvimento de outras capacidades.

A IA generativa vai trazer alterações profundas aos modelos de negócio. Como se devem preparar os gestores?

Como se preparam para todos os outros desafios com que tiveram ou têm que lidar. Perceber o problema, as ameaças e dificuldades que traz, mas também as oportunidades que oferece e, em face disso, colmatar as fraquezas na organização que tal diagnóstico e edificar as capacidades necessárias lidar com o problema e assegurar que as suas empresas se mantêm ou se tornam competitivas no novo entorno criado por essa inovação.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“É importante que se clarifique, tão cedo quanto possível, se vai haver Orçamento do Estado aprovado”, diz Vítor Bento

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião