“Precisamos de mais sustentabilidade e de a alcançar num prazo mais curto”
John Elkington, Chairman Executivo na Volans, explicou, em entrevista ao ECO, de que forma a sustentabilidade está a mudar os negócios e as novas tendências que se aproximam.
No próximo dia 3 de julho vai decorrer, na Cordoaria Nacional, em Lisboa, a Conferência BCSD Portugal 2024, um evento organizado pelo BCSD Portugal que tem como tema “Empresas com futuro: Como navegar para uma economia sustentável e justa?”.
Na conferência irão marcar presença vários líderes empresariais e especialistas de diversos setores para discutirem a relação entre os drivers de sustentabilidade internos e externos e a economia regenerativa, perceber como podem as empresas que apostam na diversidade contribuir para uma economia competitiva, quais os desafios iminentes para as empresas e para o planeta e como desbloquear o financiamento e o poder das alianças para alcançar os objetivos.
Em entrevista ao ECO, John Elkington, Chairman Executivo na Volans, e um dos oradores que também irá marcar presença na Conferência BCSD 2024, partilha o seu ponto de vista sobre a forma como a sustentabilidade está a mudar os negócios e revela algumas novas tendências.
Como é que a sustentabilidade está a mudar a forma de fazer negócios?De forma geral, a sustentabilidade começou fora das empresas e dos mercados. O que aconteceu nos últimos 40 a 50 anos foi que a sustentabilidade começou a vir de fora, mas agora está devidamente alojada nas salas de reuniões e nas c-suites, nas empresas, principalmente nas regiões mais desenvolvidas do mundo. Mas isso não significa que as empresas estejam a fazer tudo o que deveriam estar a fazer. Elas sabem como falar sobre a agenda, conhecem alguns dos conceitos e termos, mas ainda não os estão a integrar devidamente nas suas estratégias, nos seus modelos de negócio, etc. E esta é a próxima fase do desafio.
Existe já uma convicção/consciência das empresas relativamente aos temas da sustentabilidade ou é algo que está a entrar na gestão como uma obrigação?Muitas empresas em todo o mundo adotaram publicamente a agenda da sustentabilidade através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. No entanto, ainda são relativamente poucas as que deram o passo lógico seguinte, que consiste em integrar a sustentabilidade nos incentivos, nos pacotes salariais e nos pacotes de bónus dos seus principais executivos. Mas isso está a começar a acontecer. E penso que, cada vez mais, veremos não só as empresas a incorporar esta questão nas entranhas do seu modelo de negócio, mas também a fazer passar estes novos requisitos pela sua cadeia de abastecimento.
Nesse sentido, penso que estamos a viver tempos muito emocionantes. Ao mesmo tempo, porém, estamos a assistir a alguns líderes a descobrirem que prometeram demais. A Mercedes, por exemplo, prometeu que atingiria 100% de veículos elétricos até 2030, mas já flexibilizou esse prazo. E houve outras empresas, como a Shell e a Unilever, em que os diretores executivos também tiveram de recuar um pouco. Ainda assim, penso que a trajetória subjacente é claramente a sustentabilidade, incluindo questões como as alterações climáticas, a inclusão, etc, que estão a subir muito na lista de prioridades das empresas de todo o mundo. E penso que esta tendência irá manter-se e intensificar-se.
No seu livro, Tickling sharks, faz uma visita à história de como é que as ideias de práticas mais sustentáveis surgiram e apresenta ideias sobre para onde é que as novas tendências se direcionam. Olhando para o cenário global, e para o português, como perspetiva a evolução desta jornada para a sustentabilidade?É notável, em muitos aspetos, que a inovação e a liderança num espaço de sustentabilidade, particularmente no que se refere às empresas e aos mercados, tenha sido tendencialmente pioneira no mundo anglófono. Mas o que estamos a ver agora é, por exemplo, a China, seja através de minerais de terras raras ou de tecnologias de energias renováveis, ou de baterias, ou de veículos elétricos, ou de robótica, a conquistar algumas das tecnologias críticas e algumas das indústrias e mercados críticos do futuro. Por isso, é de esperar que grande parte da agenda da sustentabilidade seja apresentada em chinês.
As partes do mundo que falam português e espanhol têm estado um pouco atrasadas, mas acabo de regressar de Madrid, onde estive na Cimeira do Sul, e também do Brasil, onde também estive no início deste ano, e é fascinante a liderança que estamos a começar a ver em algumas destas partes do mundo. Algumas semanas depois de termos saído de Porto Alegre, ocorreram as grandes inundações. As pessoas começam a sentir estes desafios na sua vida quotidiana. Por isso, mesmo que as eleições na UE e noutras partes do mundo nos estejam a prejudicar de momento, penso que a trajetória subjacente é clara: precisamos de mais sustentabilidade e de a alcançar num prazo mais curto e de forma mais eficiente e eficaz. Esse é um desafio para a liderança.
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