BRANDS' ECO “Precisamos de mais investidores que coloquem as poupanças ao serviço da economia real”

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  • 5 Julho 2024

As tendências que moldam a economia portuguesa e as oportunidades que Portugal dispõe para empresários, gestores, analistas e investidores internacionais na conferência Portugal Capital Markets Day. 

Mercado de capitais robusto é chave para crescimento económico, atração de investimento, e ferramenta simples e alternativa a outros meios de financiamento das empresas. No entanto, em Portugal ainda falta conhecimento sobre o tema. Conclusões da conferência Portugal Capital Markets Day, que juntou empresários, gestores e analistas no Centro de Congressos de Lisboa.

“Portugal é uma economia em transformação com uma variedade de oportunidades e necessidades de financiamento”, disse Isabel Ucha na abertura do encontro. Para a CEO da EURONEXT Lisbon, o país conta já com uma oferta de investimento variada “capaz de dar resposta às empresas que querem dar um salto na sua capacidade competitiva”. No entanto, e como complementa Abel Sequeira Ferreira, é necessário criar awareness sobre o mercado de capitais nacional, precisamente um dos objetivos desta conferência. “Precisamos de mais IPOs (Initial Public Offerings) e de investidores que coloquem as suas poupanças ao serviço da economia real”, salienta o diretor executivo da AEM – Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado, que destaca a redução do número de empresas cotadas em Portugal, uma tendência desde o ano 2000 que “é preciso reverter”. Na sua perspetiva, para fazê-lo é essencial promover o acesso a capital através da bolsa, criar ambiente para o crescimento empresarial, facilitar o acesso a financiamento de dívida de longo prazo, aumentar a participação de investidores tradicionais e a disponibilidade de financiamento alternativo.

Além destes requisitos que considera fundamentais, Abel Sequeira Ferreira defende a importância de medidas fiscais atrativas, congratulando-se com a aprovação recente, na Assembleia da República, de novas condições para as empresas obterem capital de forma simplificada. “Agora temos as ferramentas, os mecanismos e a vontade de construir uma verdadeira cultura de capital e de transformação em Portugal, para ligar os investidores às oportunidades e reimaginar o potencial do nosso mercado”, sublinha.

Do lado do Governo, representado nesta conferência pelo Ministro do Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, o compromisso passa por contribuir para a construção de um mercado de capitais robusto, que ajude as empresas a financiar-se de forma simples e alternativa. “Vamos criar condições favoráveis para os investidores que queiram investir em dívida e ações de empresas portuguesas, criar um sistema fiscal favorável para start-ups e empresas inovadoras, e para empresas investirem em I&D e internacionalização com incentivos fiscais”, assumiu o ministro.
Joaquim Miranda Sarmento disse ainda que o país necessita de reformas estruturais “essenciais para ultrapassar as fraquezas da economia portuguesa”, de entre as quais destaca a redução da burocracia, uma maior independência de organismos regulatórios, uma reforma do sistema fiscal “que é complexo, instável e com elevados níveis de custos de compliance, e muito tempo de litígio nos tribunais”, a transformação do trabalho “muito rígido para quem já está no mercado e instável para quem está a entrar”, ou a reforma da justiça económica. Na ambição do executivo está ainda a intenção de aumentar a capacidade de escala das empresas, e de atração de investimento estrangeiro nas áreas tecnológicas, do clima ou das indústrias. Estas reformas, diz Miranda Sarmento, “permitirão aumentar o crescimento do PIB e criar melhores oportunidades para as empresas e famílias”, e manter a trajetória descendente na dívida pública que está atualmente ligeiramente abaixo dos 100%, mas que, prevê o ministro, chegará, no final do mandato em 2028, perto dos 80%. “Com esta trajetória, a dívida deverá aproximar-se dos 70% no final da década”, reforça.

Inovar e sair da caixa

Apesar do crescimento consolidado da economia e do aumento do investimento estrangeiro em Portugal, “não é possível continuar apenas a fazer mais do mesmo”, afirma Ricardo Reis. O professor na Católica Lisbon School of Business & Economics e coordenador do relatório “Structural Trends Shaping Portugal’s Economy and Growth”, cujas conclusões apresentou nesta conferência, defende que o potencial de a economia nacional crescer acima de 2 ou 3% é real, mas “é preciso inovar, arriscar em novas áreas e soluções, pensar fora da caixa e reunir recursos de várias áreas”.
Para o professor, Portugal tem um conjunto de pontos positivos que o tornam atrativo ao investimento e que “é preciso explorar”. Ricardo Reis destaca os incentivos governamentais e os programas de residência que fomentam o investimento, o clima político estável, a posição geoestratégica, e a presença constante no top 10 do ‘Security Index Global’, que distingue os países mais seguros do mundo. Por outro lado, o coordenador do estudo recorda fatores como a qualidade de vida, sistemas de saúde e de educação interessantes e as ligações culturais com todos os continentes como atrativos para estudantes e talentos especializados.

Energia, Saúde e Turismo são, na perspetiva de Ricardo Reis, setores representativos da atratividade do país perante investidores estrangeiros, mas também muito relevantes para o crescimento económico.
Estes foram igualmente os setores que deram mote às três mesas-redondas que juntaram um conjunto de gestores, que perspetivaram quais os desafios com que se debatem e quais as oportunidades de que poderão tirar partido, nomeadamente através do mercado de capitais. “Ainda falta muito investimento para atingirmos as metas da transição energética”, aponta António Lobo Xavier, chairman da EDP, que acrescenta: “precisamos muito do mercado de capitais para reforçar investimentos”. “Teríamos que andar a uma velocidade quatro vezes superior para atingir as metas em 2030”, complementa Pedro Norton. O CEO da Finerge antecipa “desafios enormes apesar da evolução dos últimos anos”.

Licenciamentos demorados (dois anos, em média), escassez de talento especializado e centenas de milhões de euros necessários para descarbonizar são, para os participantes desta mesa-redonda, os principais bloqueios. “A Europa está a perder competitividade pela burocracia e pela demora nos processos, o que trava os investimentos e pode afastar as empresas para outros continentes. Portugal tem o talento e a capacidade atrair investimento que pode ser uma vantagem competitiva”, remata Filipe Crisóstomo Silva, CEO da Galp.

Saúde e turismo com grande peso no PIB

Investimento do setor privado da saúde em Portugal representa cerca de 4% do PIB, enquanto o público é 7%. Isto significa, diz Isabel Vaz, que “o setor privado é muito grande e não pode ser ignorado, especialmente porque é um setor muito valorizado pela população”. Contudo, para a CEO da Luz Saúde, “precisa de ser eficiente e produtivo e o grande desafio atual é a escassez de profissionais”. Uma opinião partilhada por Vasco Antunes Pereira, CEO Lusíadas Saúde, que participou também na mesa-redonda com o tema Healthcare: Construir a Partir de Dentro, moderada por Carlos Robalo Freire, CEO da AON Portugal. “Existe atualmente uma oportunidade enorme de fazer alterações regulatórias que permitam continuar a ter um bom sistema de saúde, mas faltam lideranças no setor público”, alerta.

Já no que se refere à atratividade do investimento, ambos os gestores acreditam que Portugal não tem dificuldade neste setor. “Temos investidores privados e não estamos dependentes do que os políticos decidem, mas, por outro lado, as necessidades estão a aumentar pelo crescimento da população imigrante e pela longevidade”, aponta Isabel Vaz. Mas, também devido a estes fatores, a CEO acredita que Portugal pode ser um ambiente ideal para testes tecnológicos de novas soluções e palco para a inovação.

Números interessantes são igualmente os que apresenta o setor do turismo em Portugal. Bernardo Trindade, administrador do grupo hoteleiro Porto Bay e presidente da AHP (Associação de Hotelaria de Portugal), lembra que o setor representa 8% do PIB (direto), a que se somam 15% (indireto) e 15% do peso do emprego. Isto significa que este é também um setor de investimento intensivo e aqui, aponta Bernardo Trindade, “o desafio passa por mostrar que existem alternativas de financiamento num mercado composto por microempresas e PMS, habituadas a financiar-se com capitais próprios e financiamentos de longo prazo”.

“Existem, em Portugal, grandes oportunidades de investimento”, acrescenta Gonçalo Oliveira. Contudo, diz o administrador do Pestana Hotel Group, “é necessário repensar o turismo, limitar e regular as entradas para não acumular pessoas. Se aumentarmos a qualidade o preço também vai aumentar, e isso atrai investidores”.

Aumentar a escala é igualmente uma mudança fundamental, como refere João Bugalho. Para o CCO da Arrow Global Portugal este passo implica, contudo, um suporte dos mercados de capital e alguma afinação estratégica. “Precisamos de definir nova estratégia do que queremos ser enquanto turismo, faltam hotéis de topo e grandes marcas internacionais que trazem clientes, e também políticas de migração e de formação, essenciais para desenvolver o setor”, conclui.

A conferência contou ainda com a apresentação de Pedro Cassiano Santos, Partner Bancário e Financeira da Vieira de Almeida, e de Paul Mihailovitch, Managing Director e Head of Southern Europe ECM da J.P. MORGAN que abordaram o tema da emissão de ações e de dívida no contexto nacional. A finalizar, Stéphane Boujnah, CEO do Grupo Euronext, realçou o papel do Grupo Euronext, através da Euronext Lisbon, ao conectar empresas portuguesas com os mercados de capitais internacionais, bem como permitindo aos investidores nacionais diversificar as suas oportunidades de investimento.

A conferência foi encerrada por Miguel Athayde Marques, Presidente da Direção da AEM, o qual, depois de apresentar e refletir sobre as principais conclusões dos diferentes oradores e painéis, e recordar um conjunto de fatores essenciais para o crescimento das companhias, concluiu realçando a relevância do mercado de capitais para o sistema financeiro e para o crescimento da economia, e notou o esforço que a AEM tem realizado ao serviço do desenvolvimento, competitividade e internacionalização das empresas cotadas portuguesas e o papel fundamental da associação na agregação de participantes do ecossistema financeiro, no debate sobre as oportunidades de investimento e sobre o desenvolvimento de um ecossistema de maior incentivo à entrada e permanência das empresas em mercado, e na análise e disseminação de conhecimento sobre as novas tendências, paradigmas e quadros regulatórios do desenvolvimento do mercado.

Assista aqui à Conferência:

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