TAP injetou 576 milhões de euros no negócio no Brasil para suprir necessidades de liquidez

O relatório da IGF critica a participação no negócio de manutenção no Brasil, antecipando perdas avultadas com este negócio que se tem revelado ruinoso para a companhia aérea portuguesa.

Os valores são sempre a somar. A participação por parte da TAP no negócio de manutenção no Brasil deverá resultar em “perdas muito significativas”, que poderão superar os 900 milhões de euros, antecipa o relatório da auditoria da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) às contas da TAP. De acordo com o mesmo documento, e apesar de a TAP ME Brasil ter sido encerrada no início de 2022, entre 2007 e 2023, a companhia aérea portuguesa injetou no negócio brasileiro 576 milhões de euros para colmatar necessidades de tesouraria.

A antiga Varig Manutenção e Engenharia (VEM), comprada em 2006 durante a gestão de Fernando Pinto, por 24 milhões de dólares, tem-se revelado um negócio ruinoso para a TAP, tendo a empresa decidido encerrar a companhia, cujo negócio não foi ainda liquidado. Segundo a IGF, o Brasil continua a ser um fardo para os cofres da empresa portuguesa, que teve que financiar ao longo dos últimos anos a unidade com várias centenas de milhões.

Entre 2007 e o final de 2023, a TAP “concedeu suprimentos para colmatar necessidades de tesouraria da VEM/TAP ME Brasil no montante global de 576 milhões de euros“, calcula a IGF, adiantando que “todos os contratos de suprimentos, com exceção dos celebrados em 2005 e 2007, são onerosos, ainda que, até 31/12/2023, a TAP ME Brasil não tenha efetuado pagamentos de juros, nem tão-pouco amortizações de capital“.

Contas feitas, no final do ano passado, relativamente à totalidade dos contratos de suprimentos, os juros vencidos e não pagos ascendiam a 187,6 milhões de euros, aponta a auditoria às contas da empresa.

Há ainda a somar mais 69,3 milhões de euros em prestações acessórias de capital na TAP ME Brasil, em 2017 e 2018. Juntando o montante de aquisição da empresa, “o valor total registado das transferências efetuadas pela TAP, SGPS, relacionadas com a VEM/TAP ME Brasil entre 2005 e 31/12/2023 ascendeu a cerca de 688 milhões de euros“, sintetiza a IGF.

As perdas com a posição na manutenção no Brasil não se ficam por aqui. Há ainda contratos de prestações de serviços, assim como dívidas da ME Brasil, relacionadas com processos judiciais no Brasil, registadas nas contas da TAP, que aumentam o valor potencial de perdas para a companhia aérea portuguesa com o negócio brasileiro.

No relatório divulgado esta semana, a IGF reforça que “não se encontra demonstrada a racionalidade económica da decisão da administração da TAP, SGPS, de participar no negócio da VEM/TAP ME Brasil e, posteriormente, de não aceitar uma proposta da GEOCAPITAL, de 23/01/2007, de renegociar a parceria no sentido, designadamente, de partilhar riscos e encargos, tendo, ao invés, optado pelo reforço da sua posição na VEM, sem orientações das tutelas ou da acionista Parpública nesse sentido, ficando acionista única da Reaching Force e detentora de 90% do capital da VEM”.

Face à situação da TAP ME Brasil, com atividade encerrada desde 2022, e perante a “difícil e prolongada situação económica e financeira e ao elevado passivo daquela empresa brasileira, leva-nos a concluir que a recuperação daquele valor pelas empresas do Grupo TAP será pouco provável“.

“Perspetivam-se perdas muito significativas com aquele negócio pela não recuperabilidade dos valores envolvidos, que, até 2023, ascendiam a 906 milhões de euros“, remata o relatório.

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