Ativos financeiros dos portugueses cresceram 3,8% em 2023, mas desvalorizaram 1,4% com inflação
"O poder de compra dos ativos financeiros ainda era 2,5% inferior ao de 2020 e apenas ligeiramente superior ao nível pré-pandémico de 2019 (+1,3%)", conclui um estudo da Allianz.
Os ativos financeiros das famílias portuguesas aumentaram apenas 3,8% no ano passado, abaixo da média regional de 5% e ajustados à inflação acabaram por diminuir 1,4%.
Segundo o estudo ‘Global Wealth Report 2024′ da Allianz, as novas poupanças caíram 66% para 2,5 milhões de euros, abaixo dos níveis anteriores à pandemia.
“O comportamento dos aforradores portugueses foi bastante singular”, visto que apenas os depósitos bancários receberam novas poupanças (6,6 mil milhões de euros), enquanto as outras classes de ativos sofreram saídas de fundos, em especial os seguros e fundos de pensões (-4,7 mil milhões)”, aponta o estudo da seguradora.
O relatório indica como principais “culpados” pela evolução dos ativos das famílias os produtos financeiros de seguros e fundos de pensões que registaram um declínio de 4,8%.
As outras duas classes de ativos registaram um melhor desempenho: os depósitos bancários um aumento de 2,8% e os títulos de 8,4%.
Em reação à reviravolta dos juros, as obrigações e os fundos de investimento registaram “entradas escassas” (1,1 mil milhões de euros), enquanto as ações foram vendidas (- 1,3 mil milhões de euros). “Em suma, os aforradores portugueses mantiveram o seu comportamento tradicional de poupança, orientado para os bancos”, sublinha a Allianz.
“Em termos reais, o panorama é menos risonho. Ajustados à inflação, os ativos financeiros diminuíram 1,4% em 2023“, adianta. “O poder de compra dos ativos financeiros ainda era 2,5% inferior ao de 2020 e apenas ligeiramente superior ao nível pré-pandémico de 2019 (+1,3%). Os aforradores portugueses sofreram quase quatro anos perdidos”.
“O passivo diminuiu 0,3%, empurrando o rácio da dívida para 68% no final de 2023, o nível mais baixo deste século e a par da média regional. Os ativos financeiros líquidos, por último, registaram um aumento mais significativo de 6,2%. Com um património financeiro líquido per capita de 31.460 euros, Portugal desceu um lugar, passando a ocupar a 25.ª posição no ranking dos 20 países mais ricos”.
Portugal em contraciclo da média global
A média global foi mais positiva. Os ativos financeiros das famílias cresceram 7,6% em 2023, recuperando as perdas do ano anterior (de cerca de 3,5%) e atingindo um valor total de 239 biliões de euros. A recuperação foi generalizada e apenas a Nova Zelândia e a Tailândia registaram taxas de crescimento negativas.
Este crescimento foi impulsionado principalmente pelo bom desempenho dos mercados bolsistas e pela subida das taxas de juro, que beneficiaram os títulos (11%) e os seguros e os fundos de pensões (6,2%).
No entanto, o crescimento dos depósitos bancários desacelerou para 4,6%, um dos aumentos mais baixos dos últimos 20 anos, após anos de expansão relacionados com a pandemia da covid-19.
O estudo salientou que as novas poupanças caíram 19,3% para 3 biliões de euros em 2023. Empurrados principalmente pela quebra de 97,7% dos depósitos bancários – os bancos de todo o mundo receberam apenas 19 mil milhões de euros.
Por outro lado, os fluxos de entrada em títulos registaram um aumento de 10%. Já “os seguros e pensões revelaram-se relativamente robustos, com o declínio das novas poupanças a nível mundial a atingir apenas 4,9%.”, refere.
O relatório da Allianz destaca também que a vantagem de crescimento das economias emergentes em relação às economias avançadas voltou a diminuir para dois pontos percentuais (p.p).
O economista-chefe da Allianz relembra que a diferença era de 10 p.p ou mais até 2017, ano em que eclodiram as disputas comerciais entre os Estados Unidos da América e a China. “Todos nós vamos sofrer as consequências da dissociação, mas são as economias emergentes que mais o vão sentir. Um mundo menos conectado é um mundo mais desigual”, alertou Ludovic Subran.
A subida das taxas de juro teve um impacto significativo no crescimento da dívida das famílias e no valor dos ativos imobiliários. A dívida privada cresceu a um ritmo mais lento, enquanto o crescimento do imobiliário foi o mais baixo dos últimos 10 anos. Além disso, o relatório alerta para os riscos das alterações climáticas para o valor dos imóveis, especialmente aqueles localizados em zonas de risco.
Para chegar a estas conclusões foram analisados dados de 57 países que abrangem 91% do PIB mundial e 72% da população. A seguradora esclareceu que em 42 países teve acesso a estatísticas das contas financeiras macroeconómicas. Nos restantes países, os valores foram estimados a partir de inquéritos às famílias, estatísticas bancárias, estatísticas sobre ativos detidos obrigações e reservas técnicas.
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