Passo da Galp na Namíbia anima ações. Têm potencial de 23%
No rescaldo dos anúncios da semana passada, na qual a Galp registou o cancelamento do projeto de refinação de lítio e a conclusão de mais testes na Namíbia, o balanço dos analistas é positivo.
Depois de mais uma atualização sobre o projeto de exploração de petróleo na Namíbia, as ações da Galp GALP 0,00% reagiram em alta. No rescaldo, os analistas consultados pelo ECO/Capital Verde tomam os mais recentes resultados partilhados como “muito relevantes” tendo em conta o que revelam sobre o potencial comercial do complexo de Mopane.
Em oposição, a desistência do projeto de refinação de lítio não está a ter um impacto significativo na cotação, e os analistas não esperam que o venha a ter. A perspetiva é a de que as ações tenham agora uma trajetória ascendente — em média, a ascensão esperada pelos analistas é de 23%.
Nesta segunda-feira, 2 de dezembro, a primeira sessão após o anúncio da conclusão “com sucesso” de mais uma fase de testes na Namíbia, as ações da Galp dispararam 5,38% para os 16,37 euros. Esta terça-feira, os ganhos foram reforçados em 0,79% no fecho, atingindo os 16,50 euros. “Os resultados anunciados têm tido uma relevância reduzida, uma vez que já tinham sido incorporados na cotação das ações”, balança Vítor Madeira, analista da XTB.
Do ponto de vista do Banco Carregosa, os resultados do poço Mopane-1A são considerados “extremamente relevantes” para a estratégia de exploração upstream da Galp, já que confirmam a extensão e a qualidade da prospeção nos diferentes reservatórios que formam o complexo, “demonstrando o potencial para um reservatório comercialmente viável”.
As areias de reservatório de alta qualidade com características (boa porosidade, permeabilidade e pressão) sugerem “forte potencial de produção”, explica João Queiroz, head of trading do Carregosa, enquanto o crude leve e condensado de gás com tipos de hidrocarbonetos de alto valor é indicador de “uma economia promissora”.
Combinando os dados conhecidos em relação ao complexo, “a Namíbia pode tornar-se um contribuinte significativo para a carteira upstream da Galp”, considera, fazendo o paralelo com recentes descobertas “importantes” na região por outros operadores como a Total Energies e a Shell.
Neste sentido, “os resultados podem afetar positivamente a valorização da Galp“, “devido à redução de riscos da exploração na Namíbia e aos potenciais futuros fluxos libertos de caixa”, conclui o analista do Banco Carregosa.
Na visão do Berenberg, os resultados partilhados no final de sexta-feira “fornecem um encorajamento extra em relação ao caráter comercial do projeto”. Os resultados “deverão ser bem recebidos pelos investidores mas notamos que mais clareza quanto ao conteúdo de gás e volumes recuperáveis provavelmente constituirão o próximo evento de redução de risco aos olhos do mercado”, escreveram estes analistas numa nota, citada pela Reuters.
O Berenberg acrescenta que os comentários positivos sobre o reservatório e os fluidos contrastam com as observações mais cautelosas da Shell e da Total Energies sobre as suas descobertas na Namíbia.
Os resultados dos próximos poços de Exploração e Avaliação (E&A), a campanha sísmica 3D de alta resolução e a atualização da estimativa de recursos são os próximos indicadores que João Queiroz considera “mais relevantes” e que “podem influenciar significativamente a estratégia e a avaliação da carteira de ativos da Galp”. Por seu lado, Vítor Madeira, acredita que o mercado estará principalmente atento ao cumprimento dos prazos estipulados pela Galp.
Ações com potencial de subida de 23%
Desde o início do ano, a ação da Galp conta uma subida acumulada de 23,69%, tendo já em conta um alívio de 12,7% nos últimos seis meses. O alívio sente-se após o frenesi de abril, quando a ação chegou a atingir os 20,54 euros, na sequência da primeira comunicação acerca do potencial comercial da Namíbia, que apontava para uma extração de 10 mil milhões de barris de petróleo.
O preço alvo médio, de acordo com dados da Reuters, está neste momento nos 20,29 euros, o que se traduz num potencial de subida de 23%. A Reuters aponta que, dos 22 analistas que cobrem a Galp, oito têm como recomendação uma “forte compra” ou “compra”, enquanto outros 12 defendem “manter” e dois contrariam, recomendando “vender” e “forte venda”.
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Entre as recomendações mais recentes, conta-se uma de compra, do Berenberg, de 22 de novembro. Esta casa de investimento acaba de iniciar a cobertura deste título com um preço alvo de 21 euros, apoiado na descoberta na Namíbia. A 29 de outubro o Banco Santander atualizou também a sua perspetiva de “neutral” para “outperform“, pelo que espera igualmente uma evolução positiva do valor da ação.
“Adeus” ao lítio não abala Galp, mas pede nova estratégia
Na mesma semana na qual a Galp libertou esta informação sobre a Namíbia, já havia comunicado, dias antes, que iria cancelar o projeto para a construção de uma refinaria de lítio em Setúbal. Confrontados com o possível impacto desta decisão na ação, os analistas não creem que será material, embora existam riscos associados à decisão.
“A anulação da refinaria de lítio não deverá ter um impacto material na avaliação global da Galp, atendendo que esta cotada continua fundamentalmente orientada pelo seu portefólio “upstream” de petróleo e gás”, afirma João Queiroz. “Uma vez que este projeto não constituía o principal foco da empresa nesta altura, o seu cancelamento não deverá afetar significativamente a valorização da empresa, tal como se tem verificado até aqui”, reforça Vítor Madeira.
A Berenberg assinala que os pares da Galp, com negócio integrado, têm vindo a reduzir os investimentos no upstream (exploração), “o que nalguns casos levou a um crescimento mais baixo, custos mais elevados e a um esgotamento mais rápido das reservas”, enquanto a Galp deverá ter melhorias em todas estas métricas, tornando-se “atrativa” para contrabalançar com desempenhos em queda.
No entanto, ressalva Queiroz, o cancelamento na área do lítio “poderá levar a um ajuste modesto na avaliação, devido ao potencial redução do crescimento no segmento da transição energética”, assim como a perceção de um aumento dos riscos de execução ou regulatórios e potenciais imparidades de custos e encargos incorridos.
“A capacidade da Galp tranquilizar os investidores com projetos alternativos ou uma estratégia de transição energética revista será crucial para mitigar e dissipar qualquer sentimento negativo“, defende o analista do Banco Carregosa.
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