Investigação da Galp sem “impacto material” nas ações, só se CEO sair
A investigação interna que está a decorrer na Galp, dado um relacionamento pessoal do CEO dentro da empresa, não deverá pressionar significativamente as ações, a não ser que motive a demissão do CEO.
Uma denúncia anónima, que aponta um relacionamento entre o CEO da Galp GALP 0,99% e uma diretora de topo, parece ter feito derrapar as ações da cotada esta segunda-feira, na primeira sessão após a divulgação desta informação. De acordo com os analistas consultados pelo ECO/Capital Verde, o impacto deste evento nas ações não deverá ser material. Contudo, no caso de o processo levar a um afastamento do CEO ou a questões relevantes sobre a respetiva conduta, o impacto nas cotações poderá agravar-se.
A Galp iniciou o dia a desvalorizar 1,45% para 15,595 euros, depois de passada sexta-feira, já depois do fecho dos mercados, o ECO ter avançado que o CEO da petrolífera, Filipe Silva, está a ser alvo de uma investigação interna sobre um alegado relacionamento com uma diretora de topo da empresa, com base numa denúncia anónima. No final da sessão, a cotada fechou a descer 0,73% para os 15,71 euros.
“As notícias [sobre a investigação] terão um impacto limitado por agora, mas podem ter impacto em caso de dispensa do CEO”, indica ao ECO/Capital Verde, o analista da Oddo BHF Ahmed Ben Salem. Esta casa de investimento tem uma recomendação “neutral” sobre a empresa e coloca o preço alvo nos 20 euros.
"As notícias [sobre a investigação] terão um impacto limitado por agora, mas podem ter impacto em caso de dispensa do CEO.”
“Não é esperado que a notícia que envolve o CEO da Galp venha a ter um impacto muito prolongado no comportamento das ações da empresa, uma vez que se trata de um assunto com baixa relevância material para os mercados financeiros”, entende, por sua vez, o analista Henrique Tomé, da XTB. Mesmo no caso de ser aplicado algum tipo de penalização ao CEO, o impacto a médio e longo prazo deverá ser nulo, continua. No entanto, “a potencial substituição do CEO poderia provocar alguma volatilidade no curto/médio prazo, sobretudo pela incerteza inerente”, considera, embora ressalve que mesmo este impacto deverá ser “moderado e temporário”.
Uma posição também suportada pelo Responsável de Trading do Banco Carregosa, João Queiroz. “A denúncia e investigação em curso poderão gerar uma reação negativa nas cotações da Galp, sobretudo a curto prazo”, tendo em conta o impacto reputacional e incerteza criada por este tipo de situações, observa. Já o impacto material dependerá da evolução do caso.
"A potencial substituição do CEO poderia provocar alguma volatilidade no curto/médio prazo.”
“Se a investigação não revelar irregularidades graves e se o CEO permanecer no cargo com credibilidade intacta, o impacto tenderá a ser limitado. Contudo, se a investigação tiver como resultado a sua demissão ou a uma perceção de “desgoverno” corporativo, o impacto poderá ser mais significativo”, estima João Queiroz. A volatilidade pode ser agravada pela exposição da Galp como uma multinacional de relevo e pela elevada visibilidade pública do caso, alerta ainda.
João Queiroz assume que, caso se confirmem conflitos de interesse ou má conduta grave, a ação possa sofrer “um impacto negativo elevado”, traduzindo-se numa cotação abaixo do seu valor justo ou intrínseco, dado que pode ser interpretado como um risco de gestão prolongado. Existindo uma demissão ou despedimento, “a saída pode criar momentânea incerteza quanto à liderança futura e à continuidade da estratégia”, um impacto que poderá ser mitigado “se o sucessor for rapidamente identificado e reconhecido”. Neste caso, poderia verificar-se uma queda inicial com impacto adicional dependendo da perceção do mercado sobre a sucessão.
Se a investigação não revelar irregularidades graves e se o CEO permanecer no cargo com credibilidade intacta, o impacto tenderá a ser limitado. Contudo, se a investigação tiver como resultado a sua demissão ou a uma perceção de “desgoverno” corporativo, o impacto poderá ser mais significativo.
Já num cenário de prolongamento da investigação, sem serem apresentadas conclusões claras, aumentaria a incerteza e a pressão sobre as ações seria mantida. No melhor dos desfechos, em que não se confirma qualquer infração e o CEO se mantém no cargo, “o impacto deveria ser marginal e provavelmente de curta duração. A reação inicial negativa poderia ser rapidamente absorvida”, prevê João Queiroz.
As últimas quatro recomendações emitidas relativamente à cotada, que datam de dezembro, são de “compra” ou “desempenho superior”, de acordo com os dados levantados pela Reuters. A última, publicada a 31 de dezembro pelo Santander, revê o preço em baixa mas coloca-o nos 19 euros por ação, cerca de 4 euros acima do preço atual. Antes, a 20 e a 9 de dezembro, duas casas de investimento que não se encontram identificadas reviram os respetivos preços-alvo em alta, para 22 e 23 euros, respetivamente. A 2 de dezembro, o Berenberg inaugurou a cobertura da ação com um preço alvo de 21 euros.
Na visão do Banco Carregosa, “as perspetivas para a Galp a médio prazo permanecem positivas, sustentadas pelos seus fundamentais sólidos e forte posição no setor energético” e se adequadamente geridos, estes riscos poderão ter efeitos transitórios, não comprometendo as perspetivas de crescimento e rentabilidade da cotada”.
A XTB elabora que “apesar da performance fraca apresentada pela Galp nos últimos três meses, as recentes valorizações do petróleo e do gás natural oferecem uma oportunidade de recuperação a curto-prazo”.
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