Lipor alerta que “país está a perder uma grande oportunidade de reindustrializar-se”
Vários especialistas participaram na conferência ECO Cidade, em Matosinhos, onde defenderam que os resíduos podem ser reaproveitados para a indústria e gerar valor acrescentado.
Atualmente, 57% dos resíduos urbanos produzidos em território continental português acabam em aterros. O CEO da Lipor considera que “Portugal está a perder uma grande oportunidade de se reindustrializar” e que o país “deve olhar para os resíduos como uma matéria-prima”.
“Portugal está a perder, nesses 60% de resíduos que coloca em aterro, uma grande oportunidade de se reindustrializar e de se tornar um país onde a indústria regresse para criar emprego e valor”, afirma Fernando Leite, CEO da Associação de Municípios para a Gestão Sustentável de Resíduos do Grande Porto (Lipor).
O líder da Lipor não tem dúvidas que o “resíduo já é um recurso” e que “pode ser uma matéria-prima para ser utilizada pela indústria como substituto de matérias-primas naturais”, refere durante a segunda conferência ECO Cidade que aconteceu esta sexta-feira, em Matosinhos.
Portugal está a perder, nesses 60% de resíduos que coloca em aterro, uma grande oportunidade de se reindustrializar.
O líder da Lipor recorda que a taxa de circularidade de materiais reciclagens entre os países da União Europeia é de 11,7%, enquanto em Portugal esse valor é de apenas 2,6%. “Os materiais da reciclagem têm que ganhar valor quando é reutilizado pela indústria e usado como matéria-prima”.
Resíduos devem ser valorizados
Miguel Pinto, vice-presidente da Associação Empresarial de Portugal e diretor-geral da Continental Advanced Antenna, corrobora a ideia do CEO da Lipor e realça que “a gestão de resíduos pode ter uma valorização positiva”.
O líder da Continental Advanced Antenna Portugal exemplifica que a empresa “recebe dinheiro pelos resíduos que entrega”. No entanto, apesar de considerar que o tecido empresarial “está fazer o caminho”, reconhece que “há necessidade de investimento”. “A transição climática tem que ser feita em parceria com as empresas”, conclui o gestor.
Emídio Sousa, secretário de Estado do Ambiente, recorda que as regras da União Europeia tornaram obrigatória a recolha de resíduos seletivos e limitam a deposição em aterro a 10% do total de resíduos urbanos produzidos”. Neste momento, em Portugal “vão para aterro 56%” e “temos que chegar aos 10% até 2035”.
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Perante os números, o secretário de Estado do Ambiente afirma que urge “mudar o comportamento dos cidadãos e das entidades responsáveis pela gestão dos resíduos”.
Para além dessa mudança comportamental, Emídio Sousa, antigo autarca de Santa Maria da Feira, defende que “quando um produto chega ao fim do ciclo de vida não deve ir parar ao aterro, mas sim decomposto de forma a tirar o máximo proveito possível desses materiais que podem ter uma nova vida”.
Fernando Leite sublinha ainda que os resíduos têxteis são um problema”. No entanto, salvaguarda que o país deve olhar para os resíduos de uma das indústrias mais poluidores “não só como uma despesa, mas também com uma fonte de receita”.
A CEO da Sociedade Ponto Verde recorda que “Portugal está a enterrar 35 milhões de euros em embalagens que não vão para a reciclagem”. Ana Isabel Trigo Morais considera que “os municípios são imprescindíveis para incentivar a reciclagem de embalagens”.
De acordo com os objetivos definidos pela União Europeia, os estados-membros devem reciclar cerca de 65% de todas as embalagens colocadas no mercado até ao final deste ano. A líder da Sociedade Ponto Verde constata que “Portugal está aquém dessa meta”.
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Maria Manuela de Carvalho Álvares, Vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos Ricardo Castelo -
Emídio Sousa, Secretário de Estado do Ambiente Ricardo Castelo -
Miguel Pinto, vice-presidente da Associação Empresarial de Portugal Ricardo Castelo -
CEO da Sociedade Ponto Verde, Ana Isabel Trigo Morais Ricardo Castelo -
Ana Isabel Trigo Morais (CEO da Sociedade Ponto Verde), Fernando Leite (CEO da Lipor), Maria Manuela de Carvalho Álvares (vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos), Miguel Pinto (vice-presidente da Associação Empresarial de Portugal) e Luísa Magalhães (diretora executiva da SmartWaste) durante a conferência ECO Cidade. Ricardo Castelo -
Carlos Mouta, vice presidente da Câmara Municipal de Matosinhos -
CEO da Sociedade Ponto Verde, Ana Isabel Trigo Morais Ricardo Castelo -
Ricardo Castelo
O Governo previu inicialmente que, até 2030, exista uma necessidade de investimento total no setor dos resíduos de cerca de 475 milhões de euros, que se destina sobretudo a aumentar a capacidade de tratamento e a fazer a reconversão de instalações.
Para a vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos este valor é “uma gota de água no oceano no financiamento que precisamos”. No entanto, Maria Manuela de Carvalho Álvares ressalvou que o Ministro da Coesão já reconheceu que o valor é insuficiente e estimou investimentos necessários em 3,7 mil milhões de euros.
Em entrevista ao ECO, presidente da Câmara de Matosinhos referiu que “há municípios que não têm condições para aplicar o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos 2030″. Luísa Salgueiro entende que o Governo deve financiar os municípios para que possam cumprir a diretiva europeia que, desde 1 de janeiro deste ano, os obriga à recolha seletiva de resíduos perigosos, têxteis, mobiliário e objetos volumosos.
Carlos Mouta, vice presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e vereador da mobilidade, realça que tem sido “alocada uma verba cada vez maior à gestão de resíduos“, mas que a crise “climática é um problema que toca a todos”.
Inteligência artificial pode ser um aliado na gestão de resíduos
A diretora executiva da Smart Waste Portugal considera que a digitalização dos dados e inteligência artificial podem ser ferramentas cruciais na gestão de resíduos. Luísa Magalhães considera que a digitalização é uma “forma de evitar que alguns resíduos vão parar aos aterros”.
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Fundada em 2015, a Smart Waste Portugal tem um marketplace online para resíduos e subprodutos, uma forma de promover a aceleração das taxas de reutilização e reciclagem dos diferentes fluxos de materiais.
A legislação europeia é muito dispersa. Espero que em 2030 a questão dos resíduos seja mais desburocratizada.
A diretora executiva da Smart Waste considera que a “legislação europeia muito dispersa” é outro dos problemas que o setor enfrenta, esperando que em “2030 a questão dos resíduos seja mais desburocratizada”.
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