Esporão troca vinha por olival em mais de 180 hectares da herdade no Alentejo
Grupo controlado pela família Roquette passa a comprar as uvas para o vinho Monte Velho a fornecedores locais. Reforça "autonomia e rentabilidade” no azeite, que já vale 20% das vendas de 50 milhões.
O histórico grupo Esporão, detido pela família Roquette, decidiu substituir 184 hectares de vinha por 182 hectares de olival biológico no âmbito de uma “reorganização estratégica” assente numa “análise criteriosa das condições agrícolas e económicas” e que vai “otimizar a utilização do solo” na herdade alentejana.
As uvas usadas para produzir a conhecida marca de vinho Monte Velho “passaram a ser compradas a fornecedores locais”, com a empresa a contrapor ao ECO que esta aposta no azeite visa “reforçar a autonomia e rentabilidade” dessa área de negócio que “está a crescer bem e provavelmente ganhará ainda mais espaço no futuro”.
Com esta transformação, passa a ter ‘apenas’ 430,5 hectares de vinha no Alentejo, mas que diz serem suficientes para cobrir as necessidades de vinhos de origem com a marca Esporão (Colheita, Reserva, Monocastas, Private Selection e Torre), que é abastecida exclusivamente com uvas próprias com certificação biológica.
A empresa liderada por João Roquette esclarece que “esta operação está circunscrita ao Alentejo”, que no ano passado representou 84% das vendas do grupo nos vinhos de origem. Na Quinta dos Murças (peso de 10%) que comprou no Douro em 2008, e na Quinta do Ameal, adquirida uma década depois na região dos Verdes (quota de 6%), garante que continua a plantar e/ou a reconverter vinha.
No ano passado, em que a faturação do grupo se manteve “em linha” com o ano anterior a rondar os 50 milhões de euros, os azeites já valeram 20% do total. “Todos são elaborados com azeitonas do Alentejo, de olivais e variedades tradicionais, sendo laborados no nosso lagar da Herdade do Esporão”, realça, notando ainda que está “na calha” o alargamento da gama de vinagres.
Três em cada quatro euros (75%) continuaram em 2024 a ser faturados com os vinhos, com os restantes 5% a resultarem de atividades turísticas. A “base principal” está no Alentejo, onde tem dois restaurantes (um deles com estrela Michelin), visitas e loja. Na Quinta dos Murças e na Quinta do Ameal completa a oferta com alojamento. E “em breve” abrirá um “novo projeto [de enoturismo] em Lisboa”, no Instituto Superior de Agronomia (ISA).
Aumento de tarifas será penalizadora para os consumidores norte-americanos e com uma possível contração no consumo de vinhos importados. Dito isto, Portugal está numa posição melhor versus os seus concorrentes mais diretos.
Sobre a estimativa de vendas para 2025, fonte oficial do grupo Esporão prevê um crescimento de 5% assente sobretudo no azeite e no turismo. No vinho, o maior impulso virá da subida “acelerada” na região dos Verdes, que justifica com a “crescente procura por vinhos brancos leves, frescos e com menor teor alcoólico (…), alargamento de distribuição e aumento de notoriedade da Quinta do Ameal e [da marca] Bico Amarelo”.
Para um total aproximado de 40 mercados, com os “mais relevantes” a serem o Brasil, os EUA e o Canadá, a exportação rendeu mais de 60% das receitas de vinhos em 2024.
Como encara o provável aumento de tarifas aduaneiras por parte da administração Trump? “Penalizadora para os consumidores norte-americanos e com uma possível contração no consumo de vinhos importados. Dito isto, Portugal, pela sua pequena quota de mercado e pela relação preço-qualidade que pode oferecer, está numa posição melhor versus os seus concorrentes mais diretos”, responde.
Sovina “não está a andar tão bem”. Abandonado projeto para cultivar canábis
Controlada pela família Roquette – “não existem planos ou propostas para que deixe de ser”, assegura a empresa em resposta aos insistentes rumores no setor dos vinhos -, foi em 2018 que decidiu diversificar o portefólio nas bebidas com a aquisição da companhia ‘Os três Cervejeiros’, do Porto, que produzia e comercializava as cervejas artesanais da marca Sovina.
Na altura da compra, o CEO João Roquette assumiu que pretendia em cinco anos faturar dois milhões de euros com esse negócio. No entanto, volvido esse prazo, embora sem detalhar os valores, reconhece ao ECO que esse negócio “não está a andar tão bem como [previa]”. Aponta “desafios do lado da distribuição” e espera que “algumas mudanças” feitas no ano passado tenham “impacto já em 2025”.
“Os desafios da Sovina passam pela necessidade de ampliar a presença da marca e garantir uma maior acessibilidade ao consumidor. No último ano, a transição para a Herdade do Esporão trouxe novas oportunidades e sinergias, permitindo um alinhamento mais estratégico com o Esporão. Paralelamente, foram estabelecidas novas parcerias para reforçar a distribuição, garantindo que chega a mais pontos de venda e ao público certo, mantendo o foco na qualidade e autenticidade que caracterizam a marca”, explica a dona da cervejeira.
Outra mudança recente, concretizada no final do ano passado, foi a incorporação da sociedade Esporão Produção Biológica Lda. na Esporão SA, com o projeto de fusão consultado pelo ECO a indicar que “a alteração da atividade da empresa que se pretendeu implementar no final de 2023 não se veio, afinal, a revelar frutífera, não se justificando a sua continuidade de forma autónoma no grupo”.
Criada para gerir a exploração dos ativos biológicos do grupo, a Esporão Produção Biológica viu em 2021 essa atividade ser transferida para a Esporão SA e para Murças SA, “levando a empresa a explorar novas oportunidades, incluindo um plano estratégico para obter uma licença de cultivo de canábis para fins medicinais, que acabou por ser abandonado por questões de mercado”, revela o grupo.
No início de 2024, a empresa ainda “reorientou a sua atividade para a consultoria estratégica, ambiental e tecnológica no setor agrícola, procurando garantir a sua viabilidade económica”. No entanto, conclui o grupo alentejano, “a falta de oportunidades com escala relevante levou à decisão de integrar a empresa na Esporão SA, através de fusão”, no final do ano passado.
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