Neerlandesa Conclusion volta às aquisições em Portugal e Espanha para faturar 250 milhões
Grupo internacional que comprou o negócio de recrutamento tecnológico à Novabase está a trabalhar com assessores para fazer novas aquisições no país e avançar no plano de crescimento ibérico.
O grupo neerlandês Conclusion, que comprou o negócio de recrutamento da Novabase por 51 milhões de euros, vai voltar às aquisições em Portugal. A empresa de prestação de serviços empresariais, detida pela sociedade de private equity NPM Capital, está a trabalhar com assessores para procurar alvos que encaixem nas suas prioridades: cloud, dados e Inteligência Artificial (IA).
A estratégia de crescimento internacional passa pela Península Ibérica, através da filial Conclusion Ibéria, e tem por detrás um refinanciamento de 410 milhões de euros, concluído ainda em 2023. Após utilizar parte da verba para adquirir a alemã Diva-e logo no ano seguinte, o foco em 2025 está nos mercados português e espanhol.
A Conclusion conta com uma rede de advisors externos, quer em Portugal quer em Espanha, que a estão a auxiliar na agenda de fusões e aquisições (M&A). Embora não revele ao ECO quais são as entidades neste novo processo de busca, a multinacional tem trabalhado com o Banco Invest ou o CFI – Corporate Finance International.
“Com o apoio de entidades especializadas, estamos ativamente à procura de empresas de referência em cada uma das áreas para conseguirmos ter uma oferta que cubra a totalidade das necessidades (full stack aproach). Queremos desenvolver todas as áreas, mas estamos bastante interessados em cloud, dados e IA. São as prioridades”, afirmou ao ECO a diretora-geral da Conclusion Ibéria, Célia Vieira.
Para mostrar convicção no negócio nacional, a Conclusion promoveu recentemente Célia Vieira, até então apenas CEO da Neotalent Conclusion, e incumbiu-a de desenhar a estratégia lusa e do país vizinho. O objetivo é que o M&A lhes permita superar os 250 milhões de euros em receitas só na Península Ibérica até 2030.
A previsão financeira do grupo é que as receitas globais cheguem aos dois mil milhões de euros até 2030. Para 2025 não existem estimativas, uma vez que dependerá das compras que a Conclusion vai fazer. “Esse valor será fortemente influenciado”, assinalou Célia Vieira.
“O envelope financeiro [disponível para esta ronda de compras] não está fechado. Vai depender das oportunidades que apareçam nas diferentes regiões, da avaliação que for feita do potencial que as várias entidades considerem que faça sentido. Em Espanha já está estimado um crescimento maior e é lá que faremos a maior parte dos investimentos”, acrescentou a CEO.
A Conclusion é uma holding com sede em Utrecht, mais de 30 empresas e cerca de 4.500 trabalhadores. Quando o mercado dos Países Baixos se esgotou nas suas fronteiras, a empresa iniciou um plano de expansão europeu e dividiu o mapa do Velho Continente em três regiões de atuação: Benelux – Holanda, Bélgica e Luxemburgo -, DACH – Alemanha, Áustria e Suíça – e Ibéria, composta por Portugal e Espanha.
“A região ibérica é a que nós queremos agora desenvolver. Já não é pequena, porque neste momento somos mais de mil pessoas divididas entre duas empresas, a Neotalent Conclusion e a Score Conclusion, que faturam cerca de 60 milhões de euros [2024]”, esclareceu Célia Vieira.
A estratégia para a ibéria será replicar a dos Países Baixos, que está assente numa estrutura composta por cinco áreas tecnológicas (“domínios”): experiência digital (digital experience), dados e inteligência artificial (data & AI), armazenamento na nuvem (cloud & mission critical), aplicações empresariais (enterprise applications) e consultoria de negócio (business consultancy). “São os cinco da Holanda e os cinco que vamos criar aqui em Portugal”, disse a diretora-geral da Conclusion Ibéria.
Questionada sobre o impacto do contexto macroeconómico e geopolítico no setor tecnológico, Célia Vieira admite que não é imune, apesar de ser resiliente. Aliás, a gestora diz que os empresários estão a demorar mais tempo a decidir e a assinar contratos ligados a serviços digitais. “A incerteza é grande e reflete-se também no nosso negócio. As oportunidades estão aí e continuam a existir, mas sentimos que os clientes têm um ciclo de decisão mais longo, tomam decisões muito refletidas e avançam com os projetos que são realmente necessários”, conta.
A diretora-geral da Conclusion Ibéria compara os ciclos económicos dos últimos anos, desde a pandemia, para concluir que “as coisas estabilizaram” e a “dinâmica está mais calma e consolidada”. “Penso que o momento que vivemos é diferente do pós-Covid. Há dois ou três anos, era francamente positivo e foi o mais ativo nas TI [Tecnologias de Informação] que vivi em toda a minha carreira profissional”, recorda, visivelmente saudosista do boom tecnológico causado pelos confinamentos.
No primeiro trimestre deste ano, as subsidiárias Neotalent Conclusion – especializada em recrutamento – e a Score Conclusion – que faz consultoria e trabalha com SAP – decidiram investir num escritório partilhado no Parque das Nações, em Lisboa, de forma a tentar criar mais sinergias dentro do grupo. A próxima etapa deverá ser mudar a gestão da Neotalent Conclusion, tendo em conta que Célia Vieira está a acumular os dois cargos. Ao ECO, confirma apenas que delegou “grande parte” das funções e que a sucessão será um processo “natural, dado o foco e a exigência inerentes ao desafio”.
Talento permitiu assinar negócio em Portugal
O talento tecnológico foi o elemento-chave para a Conclusion escolher Portugal para investir e comprar e negócio de recrutamento para TI à Novabase por 51,1 milhões de euros em 2023, segundo a responsável do grupo neerlandês na ibéria.
Após colocar em cima da mesa critérios como proximidade cultural, diferença horária, estabilidade política, qualidade da educação e preços, a Conclusion conclui que “o investimento faria sentido em Portugal”. “Penso que o principal fator foi o talento”, referiu Célia Vieira.
Inicialmente, estava previsto a Conclusion adquirir a empresa por 49,4 milhões de euros, mas o valor acabou por aumentar dois milhões de euros.
“O interesse da Neotalent surgiu da aposta em nearshore. Para a expansão da Conclusion e do próprio negócio na Holanda, a escassez de talento era um impedimento e tinha de encontrar uma empresa com selo de garantia em disponibilizar capacidade e o melhor talento. Foram consideradas várias geografias na Europa, pela legislação de privacidade de dados”, lembra a CEO.
Por outro lado, as contas da Novabase foram penalizadas no ano passado pela venda. Os lucros de 2024 afundaram 86,4% para 6,4 milhões de euros devido a acertos na mais-valia na sequência do apuramento final das cláusulas de preço definidas no contrato (38,4 milhões de euros).
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