Cláudia Azevedo diz que “é preciso recuperar o mojo das empresas em Portugal”
A CEO da Sonae considera que é tempo de parar de demonizar os lucros das empresas e que Portugal só pode competir no plano internacional com negócios fortes e literacia financeira.
Num período em que a cada ciclo eleitoral se reacende o debate sobre o papel das empresas e a legitimidade dos lucros, Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, lançou um repto direto à classe política e à sociedade portuguesa. “Em Portugal há muitas eleições. Muitas. E há muitos políticos que dizem que as empresas são más. Elas até pagam dividendos aos seus acionistas”, ironizou.
A intervenção da gestora foi feita esta sexta-feira na conferência anual da CMVM subordinada ao tema “Uma Nova Ambição para os Mercados de Capitais”, e serviu para pôr o dedo na ferida na baixa literacia financeira e na ainda dificuldade em valorizar o papel das empresas no desenvolvimento económico.
Num contexto europeu em que a urgência de criar uma verdadeira União dos Mercados de Capitais se cruza com o desafio de tornar o investimento acessível e atrativo para todos, Cláudia Azevedo defendeu que “as empresas são boas para a sociedade: crescem, contratam pessoas, pagam impostos, e isso é o que financia o setor público”.
Para a CEO da Sonae, é preciso “recuperar o mojo das empresas em Portugal” e deixar de olhar para os lucros e dividendos como um pecado capital, mas antes como motor do progresso económico e social.
Cláudia Azevedo sublinhou ainda que a literacia financeira não pode ser vista como um pré-requisito para a inovação nos produtos de investimento, mas sim como um processo a acontecer em simultâneo. “Sou uma grande defensora de fazer tudo ao mesmo tempo, caso contrário não fazemos nada”, disse.
Para acelerar este caminho, a líder do grupo Sonae apontou o exemplo sueco, onde produtos de investimento com incentivos fiscais despertam naturalmente o interesse e o conhecimento dos cidadãos, mesmo em idades mais avançadas.
Durante a sua intervenção, Cláudia Azevedo deixou ainda críticas à complexidade regulatória e à lentidão europeia, defendendo que “tudo tem de ser muito mais simples” e que só uma Europa a atuar em conjunto conseguirá competir com os EUA e a China.
A CEO da Sonae alertou ainda para as diferenças estruturais entre a Europa e os EUA na contratação de talento, particularmente no setor tecnológico. “Por exemplo, nas empresas de tecnologia, é muito fácil nos EUA conseguir alguém que já tenha sido gestor de software ao nível do conselho de administração, e historicamente não temos isso na Europa”, observou.
Esta questão do talento surge num contexto em que, segundo Cláudia Azevedo, “com a situação atual nos EUA é mais fácil” para as empresas europeias importarem talento, algo que considera “muito importante porque não é só qualquer pessoa, e o know-how e as pessoas são extremamente importantes”.
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