“Podíamos ter um Estado mais inteligente com IA”, diz diretora da Google Cloud Portugal

Sofia Marta considera que a Administração Pública pode ir mais além na digitalização e respeitar o princípio de “só uma vez” pedir a informação a cidadãos e empresas.

A diretora-geral da Google Cloud Portugal considera que a Administração Pública deve investir em agentes de inteligência artificial (IA) no âmbito da Reforma do Estado para evitar pedidos redundantes aos cidadãos e empresas. Sofia Marta alerta, em entrevista ao ECO, para o risco de perda de quadros da função pública caso não haja modernização dos sistemas e apela à aceleração da execução dos fundos comunitários.

“Podemos acelerar nos serviços digitais. Se pusermos IA aí, respeitando o princípio do only once, quando dou a minha informação ao Estado e essa informação é dada só uma vez e não de cada vez que interajo com o Estado, podemos fazer muito mais. Podíamos ter um Estado mais inteligente e a proporcionar serviços mais simples de utilizar e eficientes para cidadãos e empresas”, diz a country manager da Google Cloud Portugal.

Parte interessada neste investimento, Sofia Marta vislumbra “uma janela de oportunidade única” para o setor público, até porque “ainda temos algum dinheiro disponível dos fundos que podemos canalizar para este tipo de iniciativas”. “Sabemos que temos alguns constrangimentos, como a média de idades [dos profissionais] na maior parte dos organismos, que está muito perto dos 60 anos. Isto significa que, num horizonte de dez anos, vamos ter muita gente que vai deixar de fazer o que está a fazer e com poucas perspetivas de se conseguir renovar esses quadros”, adverte.

“Não faz sentido” ser a próxima líder da Google Portugal

Questionada sobre a nova liderança da Google Portugal, na sequência da saída de Bernardo Correia da empresa para assumir o cargo de secretário de Estado para a Digitalização, Sofia Marta negou ser a sucessora. “Eu sou a responsável pela Google Cloud em Portugal. O Bernardo Correia era o responsável da Google Advertisement em Portugal, portanto, éramos peers, cada um com a sua área de atuação. São áreas completamente diferentes, quase de empresas diferentes dentro do mesmo grupo. Não faz sentido nem tem a ver com o meu background ou as minhas qualificações liderar a área de Advertisement”, justificou.

No panorama internacional, a diretora-geral da Google Cloud reconhece o histórico das empresas norte-americanas nesta indústria, mas recusa dar a guerra da IA como perdida na Europa. Antes, diz que “não devemos deixar que o contexto geopolítico internacional vá ditar o facto de podermos ou não tirar o bom da tecnologia disponível”, apela ao cumprimento das normas por todos os fornecedores e ao investimento em clouds soberanas para que as empresas não tenham “medo” de que a sua informação se perca caso um estado invada outro.

‘Águias’ investem nos agentes de IA

Em Portugal, os agentes começam a entrar na dinâmica de digitalização das empresas, mas a passo de caracol (ou quase analógico). “O tema é a velocidade. Estamos a falar de coisas lançadas no mercado em abril. Mesmo para nós, que estamos aqui no olho do furacão, às vezes é muito difícil acompanhar esta evolução para as organizações, principalmente para as grandes, que são organizações pesadas. Não é uma tarefa fácil”, admite a country manager da Google Cloud.

O Sport Lisboa e Benfica (SLB) é uma das instituições que se chegou à frente neste tema e esteve a trabalhar com a Google e a consultora Devoteam nos agentes para melhorar a recolha e análise da informação que consta da centenária base de dados do clube e, a partir daí criar experiências diferentes para os adeptos e visitantes do Museu Cosme Damião.

Com um arquivo que remonta a 1913, nove anos após a fundação do clube, o SLB sentiu necessidade de ter um sistema que lhe permitisse navegar melhor no manancial de nomes, jogos e resultados de 120 anos e responder, em segundos, a dúvidas como “quantos jogos o Benfica jogou com o Atlético em 1955?” sem depender de chatbots externos que confundissem Rui Costa presidente com Rui Costa ciclista.

O robô criado pela Google e Devoteam “vai ver o jornal do dia a seguir à inauguração do estádio, por exemplo. Muitas vezes, com os sistemas [tradicionais] de IA não temos essa capacidade. Tem de ser um pouco ‘acredita no que te estou a dizer’. Enquanto eu for o humano no controlo, digo o que quero, mesmo sem a prompt [pergunta ou texto enviado aos modelos de IA] perfeita”, afirmou João Lopes, responsável de Dados e Analítica do SLB, aquando da apresentação do projeto, no Convento do Beato.

“Atenção que agentes não significam o mesmo para todos. É importante clarificar o que é que, tipicamente, designamos como agente. Já não estamos a falar só naquela capacidade básica de escrever uma prompt e dar um output, mas de algo que pode fazer a pesquisa, interagir com a informação e, depois, provocar uma determinada ação. Portanto, pode interagir com os processos de negócio”, esclarece Sofia Marta.

Para a líder da Google Cloud a nível nacional, este avanço da IA está a impactar inclusive a sociedade, como se viu em 2024 com a entrega do prémio Nobel da Química a três cientistas – nomeadamente o CEO da Google DeapMind, Demis Hassabis – pelos desenvolvimentos relacionados com a previsão da estrutura de proteínas, que impactam a medicina, a biologia e a investigação de novos medicamentos.

É aí que também entra o papel do mercado de democratizar o acesso à tecnologia nas escolas, na sua opinião. Sofia Marta dá como exemplo a educação, em que a Google passou a disponibilizar o Gemini sem custo adicional nas soluções de Workspace for Education. “É importante pôr nas mãos dos alunos e dos professores, desde cedo, ferramentas para que consigam incorporá-las e habituar-se à sua utilização”, garante.

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