EDP já está a produzir moléculas de hidrogénio no Carregado
O projeto de demonstração que a EDP desenvolveu na antiga central termoelétrica do Ribatejo já deu origem à primeira molécula de hidrogénio. Conheça o projeto.
A EDP já está a produzir hidrogénio a partir da antiga central termoelétrica do Ribatejo, no Carregado, que irá injetar numa turbina a gás em ambiente industrial real.
A produção da primeira molécula pela empresa, em Portugal e na Europa, aconteceu no âmbito de um projeto europeu de demonstração, o FlexnConfu, financiado pelo programa Horizon Europe, apresentado esta terça-feira na central térmica. A produção de hidrogénio no Carregado é feita através de um equipamento, um eletrolisador de 1,25 megawatts (MW), com o qual se pretende aumentar a flexibilidade de centrais térmicas.
Na cerimónia na qual a EDP anunciou a produção da molécula, esta terça-feira, o CEO, Miguel Stilwell d’Andrade, considerou “histórico” para o grupo, sendo este um “primeiro passo” no que diz respeito à utilização de hidrogénio, “uma tecnologia embrionária”. “É preciso ir dando estes passos para aprender, do ponto de vista técnico, do ponto de vista económico, como é que isto funciona“.
O hidrogénio produzido no Carregado começou agora a ser injetado agora na central a gás. “O objetivo do projeto está em [perceber] como se comporta a central com este mix entre hidrogénio e gás natural, para depois ver se conseguimos escalar ao longo do tempo“, explicou o líder da EDP.
Nas instalações da central está o eletrolisador, o “coração” do projeto, que separa a molécula de água em moléculas de oxigénio e hidrogénio, utilizando eletricidade. O oxigénio é libertado para a atmosfera, explicou Miguel Patena, diretor de Engenharia de hidrogénio da EDP Renováveis. O hidrogénio será usado para incorporar uma mistura de gás — 1% de hidrogénio para 99% de gás natural — que será utilizada na central para produzir eletricidade.
O piloto consegue produzir até 400 quilos de hidrogénio, e são necessárias 11 horas para o fazer. O eletrolisador separa, por hora, as moléculas de 200 litros de água desmineralizada, tratada na central e, depois de descartar o oxigénio, encaminha o hidrogénio para um compressor, para depois seguir para o armazenamento. Incorporando 1% de hidrogénio no gás que é queimado na central, os 400 quilos demoram 4 horas a ser utilizados na totalidade.
Miguel Patena indica que seria possível utilizar hidrogénio em percentagens superiores, de até 40%, mas seriam necessárias modificações à central, que implicam novos investimentos. Uma incorporação de 10% de hidrogénio usado na central permite uma redução de 3% nas emissões de gases da atividade, continuou o diretor.
A maioria da eletricidade que é usada para produzir este hidrogénio vem da rede, pelo que não é necessariamente verde, e portanto o hidrogénio produzido no Carregado e usado na central não está certificado como verde, até porque se trata apenas de um projeto piloto. No entanto, toda a eletricidade usada é coberta garantias de energia renovável, garantindo que é produzida energia renovável na mesma medida em que é gasta neste projeto, indicou Ana Quelhas, diretora geral de Hidrogénio da EDPR.
O Flexnconfu teve o pontapé de partida em abril de 2020, prevendo-se na altura a duração de 48 meses, ao quais se somaria um ano dedicado à demonstração do funcionamento da instalação piloto e validação de modelos. Contudo, o projeto é apenas dado como concluído agora, mais de um ano depois do inicialmente previsto. Este projeto europeu foi desenvolvido em colaboração com um total de 21 parceiros, e exigiu um investimento de 12,6 milhões de euros, que foi apoiado em 70% por fundos da União Europeia (UE).
Legislação nova de renováveis a caminho
A ministra do Ambiente, que marcou presença e discursou na cerimónia em que foi anunciada a produção da primeira molécula de hidrogénio no Carregado, considerou que “o hidrogénio é importante para quilo que a eletricidade não consegue resolver“, nomeadamente a descarbonização da indústria e do setor dos transportes, considerando por isso que este momento é “importante para Portugal, que quer cumprir o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC)”.
A chefe da tutela salientou uma série de medidas que estão em curso, por parte do Governo, que procuram promover projetos de descarbonização. Maria da Graça Carvalho indicou que está finalizada legislação, e pronta a ir a Conselho de Ministros, que “torna mais simples a criação de zonas de grande procura” e clarifica as regras de atribuição de capacidade de ligação à rede. Estão também em curso medidas para acelerar licenciamentos e a transposição da Diretiva das Renováveis (RED III), na qual está prevista a definição de “zonas de aceleração” de renováveis, nas quais o licenciamento é simplificado.
De 1 a 150 megawatts: os projetos de hidrogénio da EDP
Além do Flexnconfu, a EDP tem em mãos três outros projetos de produção de hidrogénio espalhados pela Península Ibérica, alguns com uma capacidade prevista mais de 100 vezes superior. A energética integra o GreenH2Atlantic, que prevê a produção de hidrogénio com um eletrolisador de 100 MW, no espaço da antiga central a carvão, em Sines.
Do lado de lá da fronteira, em Aboño, está prevista a produção de hidrogénio com um eletrolisador de até 150 MW, numa primeira fase, para depois se transformar a central térmica de Aboño num vale de produção de hidrogénio renovável — intenção que ‘suporta’ o nome do projeto, Asturias H₂ Valley.
Este projeto conta com o apoio do Governo Espanhol (IPCEI e PERTE) e da Comissão Europeia (Innovation Fund). Por fim, em Cádiz, está planeado o Green H₂ Los Barrios, que prevê a produção de hidrogénio com um eletrolisador de até 130 megawatts, também numa primeira fase, seguida mais uma vez da transformação dessa central térmica num vale de produção de hidrogénio renovável. O apoio financeiro, neste caso, é dado apenas pelo Governo espanhol (IPCEI e PERTE).
(Notícia atualizada com correção: hidrogénio produzido na central do Carregado não é verde)
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