Despedimentos coletivos atingem recorde em julho

  • Lusa e ECO
  • 24 Setembro 2025

O número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos está a aumentar desde 2022, sendo que nos primeiros sete meses deste ano são já mais do dobro dos registados em igual período de 2023.

O número trabalhadores alvo de despedimento coletivo em julho — 781 — foi o mais elevado da última década nesse mês, com exceção do ano pandémico de 2020, segundo dados da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

De acordo com o mais recente relatório de evolução mensal dos despedimentos coletivos da DGERT, em julho foram abrangidos por processos de despedimento coletivo 794 trabalhadores, dos quais 781 acabaram por ser efetivamente despedidos.

Com exceção de 2020, marcado pela pandemia de Covid-19 e em que o total mensal de trabalhadores efetivamente despedidos ascendeu a 1.036, trata-se do número mais alto desde 2015, ano que foram despedidas 1.020 pessoas.

Dos 781 trabalhadores despedidos em julho, 68% eram homens e 32% mulheres, sendo que a maioria (340) laborava no setor das atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares, seguindo-se o setor das indústrias transformadoras (285).

Em julho, recorreram à figura do despedimento coletivo 43 empresas, 21 das quais microempresas, 15 pequenas empresas, cinco de média dimensão e duas grandes empresas.

As médias empresas lideraram, contudo, em termos de número de trabalhadores despedidos (313, 40% do total), seguidas das grandes empresas (219 trabalhadores, 28% do total mensal), das pequenas empresas (176, 23%) e das microempresas (73, 9%).

Na base de mais de metade (53%) dos procedimentos de despedimento coletivo esteve a redução de pessoal, surgindo o encerramento de uma ou várias secções de atividade como fundamento de 29% do total de processos e o encerramento definitivo da empresa como justificação em 18% dos casos.

Por regiões, Lisboa e Vale do Tejo liderou com 81% dos trabalhadores despedidos, num total de 633 pessoas, seguida do Norte (12%, 91 trabalhadores), do Centro (6%, 46), do Algarve (1%, oito) e do Alentejo (0,4%, três).

Foram 44 os processos de despedimento coletivo comunicados pelas empresas ao Ministério do Trabalho, sobretudo em Lisboa e Vale do Tejo (64%) e no Norte (20%), com as pequenas empresas a responderem por 45% do total, seguidas das microempresas com 32%, das médias empresas com 14% e das grandes empresas com 9% dos casos.

Considerando o número de processos comunicados em julho, as indústrias transformadoras lideraram com 25% do total, seguidas de perto pelo comércio por grosso e a retalho (23%). Na terceira posição surgem os setores das atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares e das telecomunicações, programação, informática, consultoria, infraestruturas de computação e outras atividades dos serviços de informação, ambos com 14%.

De janeiro a julho, o número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos cresceu 30,3% face a igual período de 2024, totalizando os 4.688, segundo cálculos da Lusa com base em dados da DGERT. Destes 4.688 trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos, 4.578 foram efetivamente despedidos até julho.

O número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos está a aumentar desde 2022, sendo que nos primeiros sete meses deste ano são já mais do dobro dos registados em igual período de 2023 (eram 2.140).

Também o número de despedimentos coletivos comunicados pelas empresas ao Ministério do Trabalho subiu 13,3% até julho, face a igual período de 2024, para 332.

De acordo com a análise dos dados da DGERT, o número de despedimentos coletivos comunicados está a aumentar desde 2023 e o valor registado nos primeiros sete meses de 2025 é o mais elevado desde 2020, período em que alcançou as 420 empresas.

Destes 332 despedimentos coletivos comunicados até julho, a maioria diz respeito a pequenas empresas e a microempresas, representando 38,6% e 36,1% do total, respetivamente, de acordo com os cálculos da Lusa com base nos dados da DGERT.

Por regiões, a região de Lisboa e Vale do Tejo e o Norte continuam a ser as regiões com maior número de despedimentos coletivos comunicados até julho, com 166 e 100 respetivamente.

Parceiros sociais preocupados com aumento dos despedimentos coletivos na indústria

Os parceiros sociais ouvidos pela Lusa manifestaram-se preocupados com o aumento do número de despedimentos coletivos no setor da indústria, referindo temer que se agravem nos próximos meses e pedindo uma resposta robusta.

À Lusa, o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) afirma que os dados mensais “requerem uma leitura prudente”, dado que “poderão ainda suscitar medidas posteriores que afastarão ou aproximarão o número de trabalhadores abrangidos do número de trabalhadores efetivamente despedidos e contrapõe com o número de despedimentos coletivos comunicados pelas empresas que, no segundo trimestre deste ano alcançou os 127, isto é, “próximo dos 125 do 2.º trimestre de 2024”.

“Ou seja, não nos parece que haja, para já, motivos de preocupação”, aponta João Vieira Lopes, admitindo, no entanto, que, “nalgumas regiões”, o setor do comércio “começa a ressentir-se da situação em outros setores, nomeadamente setores industriais que estão em processos de reestruturação por múltiplos motivos o que naturalmente se reflete no consumo“, acrescenta.

Quanto ao futuro, o presidente da CCP admite que os impactos “podem ser mais significativos”, devido à “entrada de novos grandes operadores a trabalharem quer no formato físico, quer no online” e aponta que ainda falta “medir o efetivo impacto” das tarifas impostas pelos EUA, “que acabarão por refletir ainda que indiretamente no setor do comércio”.

Também a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP), veem o setor da indústria como o de maior fonte de preocupação.

“De facto, a situação na indústria transformadora preocupa-nos, devido à tendência de contração da produção nos últimos meses, acompanhando uma evolução similar na Europa e, em particular, na Alemanha e em França. Países que são, depois de Espanha, os principais destinos das nossas exportações”, adianta fonte oficial da confederação liderada por Armindo Monteiro, à Lusa.

Não obstante, a CIP realça que a “resiliência” das empresas portuguesas tem evitado que “as dificuldades da atividade industrial sejam totalmente refletidas no mercado do trabalho”, onde se tem assistido “desde o início do ano, a alguma recuperação do emprego nas indústrias transformadoras”.

Ainda assim, a confederação alerta para os “sinais” dados por “determinados setores industriais”, sublinhando que “fazem temer que o aumento de despedimentos coletivos se agrave nos próximos meses”, na sequência de “muitas empresas estarem a atingir o limite da sua resistência, sob o efeito acumulado de aumentos de custos e de uma conjuntura externa particularmente adversa”.

Por sua vez, a CGTP destaca que “42% dos trabalhadores despedidos por via de despedimento coletivo [nos primeiros sete meses do ano] provinha das indústrias transformadoras” e sublinha que o número de trabalhadores alvo de despedimentos “são aspetos que não podem ser negligenciados e exigem uma mais robusta resposta”, considerando ainda que o anteprojeto do Governo de revisão da legislação laboral “agravam esta situação, ao fomentar a precariedade dos vínculos laborais”.

À margem do Fórum Social do Porto, que decorreu na quinta e sexta-feira, o secretário-geral da CGTP indicou ainda que “nos setores de indústria, normalmente de vestuário e calçado” há trabalhadores a serem despedidos e “amanhã estão noutro local de trabalho a trabalhar para o mesmo patrão”, pedindo que se denunciem estas situações.

A par da CGTP, também a União Geral de Trabalhadores (UGT) argumenta que o aumento do número de trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos “deverá levar o Governo a olhar muito bem” para as alterações que pretende fazer à lei laboral.

“Nós precisamos é de combate à precariedade. Precisamos é de garantia de segurança no emprego. Não podemos ter despedimentos ‘a la carte’”, afirmou Carlos Silva, ex-secretário-geral da UGT e atualmente representante da central sindical no Comité Económico e Social Europeu, à margem do Fórum Social.

Nos últimos meses têm sido noticiados em várias empresas ligadas ao setor da indústria. Foi o caso da Coindu, indústria de componentes têxteis para o setor automóvel, da fábrica da japonesa Yazaki Saltano em Ovar ou da fábrica da Tupperware.

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