Falta de seguros climáticos ameaça investimento em inovação sustentável
A FERMA considera que sempre que a prevenção face ao risco de uma mepresa seja insuficiente, a resposta não deve ser um “não”, mas um “sim, se” acompanhado de um plano de mitigação.
A dificuldade das empresas em obter seguros adequados para os riscos associados à transição climática ameaçam travar o investimento em inovação sustentável. De acordo com a edição 2025 do relatório Insuring the Transition, publicado pela Federação Europeia das Associações de Gestão de Risco (FERMA), pouco mudou desde o alerta lançado em 2022: as seguradoras continuam a retirar ou a limitar coberturas essenciais para setores ligados à transição energética, criando lacunas que expõem empresas a riscos financeiros e que podem atrasar projetos de descarbonização.
Muitas seguradoras justificam estas restrições com a ausência de dados históricos que permitam avaliar novos riscos. Mas a FERMA sublinha que o problema vai além da escassez de informação: falta também capacidade técnica e atuarial dentro das companhias para analisar projetos inovadores de forma diferenciada.
O resultado é um mercado marcado por exclusões indiscriminadas, diz a federação. Setores como reciclagem, energias renováveis e construção de infraestruturas enfrentam barreiras acrescidas. Empresas do setor da reciclagem veem a cobertura limitada devido ao risco acrescido de incêndios provocados por baterias de lítio. Parques solares e eólicos sofreram aumentos de prémios entre 20% e 40% em 2024. Projetos de captura de carbono ou hidrogénio são muitas vezes excluídos por serem classificados como “novos”, mesmo quando já ultrapassaram a fase de protótipo.
Este bloqueio é particularmente grave para pequenas e médias empresas ou startups. Ao contrário das grandes empresas, não têm capacidade para reter riscos nos seus balanços ou para criar empresas cativas de seguro. Muitas ficam obrigadas a escolher entre avançar com soluções inovadoras e arriscar a sobrevivência financeira ou abrandar nos seus compromissos de sustentabilidade, indica a FERMA
Para ultrapassar o impasse, o relatório aponta duas prioridades. A primeira é reforçar a recolha de dados e o conhecimento técnico. A federação considera que as seguradoras, corretores e empresas devem colaborar desde o início do desenvolvimento de novos projetos para recolher informação de risco e partilhá-la em plataformas setoriais. As companhias devem ainda investir em engenheiros e especialistas capazes de avaliar as tecnologias emergentes com maior rigor.
A segunda prioridade é uma mudança de paradigma no setor segurador. Em vez de aplicar exclusões globais ou tarifas indiferenciadas, as seguradoras devem adotar uma abordagem construtiva e individualizada. Empresas que implementam medidas robustas de gestão de risco devem ser recompensadas com prémios mais justos. Sempre que a prevenção seja insuficiente, a resposta não deve ser um “não” definitivo, mas sim um “sim, se” acompanhado de um plano de mitigação.
Sem cobertura adequada, a transição energética fica em risco. O setor segurador pode ser um travão ou um catalisador. Para a FERMA, é urgente que seguradoras, empresas, corretores e autoridades públicas trabalhem em conjunto. Só assim será possível transformar os riscos da transição em oportunidades e garantir que a economia europeia chega a 2050 mais verde e também mais resiliente.
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