Agricultura vai à COP. Dos solos à pecuária, novas “receitas” precisam-se
Georgete Félix e José Salema fala sobre a floresta no podcast Clima 3.0, no qual poderá acompanhar os temas que irão marcar a agenda da COP30.
- Este texto é escrito com base no podcast Clima 3.0, que trará aos leitores, diariamente e ao longo das duas semanas da COP, uma visão sobre os principais temas discutidos na COP30, numa série de dez entrevistas a especialistas das diversas áreas em discussão.
A relação da agricultura com o clima é muito diversa: desde as emissões poluentes que produz, a partir da maquinaria agrícola, a par com as emissões da pecuária, até à retenção de carbono que é feita pelos solos, um sumidouro relevante. E, além disso, depende um recurso ameaçado pelas alterações climáticas, a água. Existem muitos desafios, mas também práticas promissoras, garantem Georgete Félix, consultora e investigadora nesta área, e José Pedro Salema, presidente e CEO da EDIA — Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas de Alqueva.
“O clima, impactando na agricultura impacta na nossa vida diária, já que nós comemos várias vezes por dia”, afirma Georgete Félix, considerando por isso que esta “é mesmo uma questão de sobrevivência”. Houve uma diminuição muito drástica das emissões num período compreendido entre 1995 e 2010, uma redução de cerca de 25%, indica. Em paralelo, é cada vez mais necessário investir na adaptação, “pensar em que culturas estão adaptadas onde e como, que níveis de produtividade conseguiremos ter”.
Contudo, uma ressalva: José Salema afirma que as emissões dos tratores não são contabilizadas como sendo do setor agrícola, mas sim no dos transportes. “A força motriz, a força mecânica, a tração, é essencialmente alimentada com energia fóssil e vai ter que mudar“, defende, acrescentando que os tratores elétricos ainda são muito limitados na sua capacidade de autonomia.
-
Georgete Félix, consultora de sustentabilidade na Agricultura e José Salema, CEO e presidente da EDIA, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO -
Georgete Félix, consultora de sustentabilidade na Agricultura e José Salema, CEO e presidente da EDIA, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO -
Georgete Félix, consultora de sustentabilidade na Agricultura e José Salema, CEO e presidente da EDIA, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO
Em paralelo, tendo em conta a alteração nos padrões da precipitação, “é muito importante a eficiência.”, sublinha. É ainda necessário ter em conta que a forma como se faz agricultura é “completamente diferente” dependendo do país ou até região, alerta ainda o CEO da EDIA.
Ainda há um caminho a fazer na descarbonização, mas há, sobretudo, um caminho a fazer para colocar a agricultura como parte da solução.
“Ainda há um caminho a fazer na descarbonização, mas há, sobretudo, um caminho a fazer para colocar a agricultura como parte da solução“, considera Georgete Félix. Uma delas tem a ver com o potencial que a agricultura tem ao nível do sequestro de carbono. “O solo tem uma capacidade de sequestro de carbono enorme se for realmente gerido de uma forma sustentável“, afirma.
No que diz respeito ao solo, José Salema, explica que hoje se devolve a fertilidade ao solo, sobretudo, através de “sacos de pó branco”, os fertilizantes. No seu entender, “este modelo tem que se romper. Nós não podemos continuar a usar energia em quantidades brutais para fazer adubos químicos e depois transportá-los, que têm outra pegada, e depois aplicá-los e emitir mais gases com efeito de estufa”.
"Este modelo [de fertilização dos solos] tem que se romper. Nós não podemos continuar a usar energia em quantidades brutais para fazer adubos químicos e depois transportá-los.”
A fertilidade do solo pode resolver-se com fertilização orgânica, em vez de recorrer a adubos químicos, explica. Podem ser usados adubos orgânicos, que são lixos tratados, mas precisam de escala. As barreiras ao desenvolvimento desta indústria são a concorrência química, já instalada, e o investimento inicial, que é “muito grande”.
-
Georgete Félix, consultora de sustentabilidade na Agricultura, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO -
Georgete Félix, consultora de sustentabilidade na Agricultura, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO -
Georgete Félix, consultora de sustentabilidade na Agricultura, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO
Olhando à pecuária, Salema sublinha que “há sistemas de produção pecuário que têm balanços negativos de carbono”. Desde que exista uma pastagem biodiversa, com um solo rico, consegue reter mais carbono no solo do que aquele que é emitido. Agora, não é regra, e tem de se caminhar nesse sentido. Além disso, mantém-se uma questão relevante: “temos áreas muito grandes desflorestadas, para produzir animais”, alerta Félix.
-
José Salema, CEO e presidente da EDIA, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO -
José Salema, CEO e presidente da EDIA, em entrevista ao Capital Verde Hugo Amaral/ECO
Na COP, no que diz respeito à agricultura, seria um sucesso “uma declaração a dizer que vamos todos no mundo passar a ter sistemas de agricultura regenerativo como deveríamos”, na ótica do CEO da EDIA. Para Georgete Félix, seria importante acordar-se um financiamento climático mais expressivo para o setor agrícola, o qual consiga, de alguma forma, influenciar as políticas públicas, nomeadamente a Política Agrícola Comum na Europa.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Agricultura vai à COP. Dos solos à pecuária, novas “receitas” precisam-se
{{ noCommentsLabel }}