FMI alerta governos que consolidação orçamental deve ser calibrada
Estimativas do FMI apontam para desaceleração acumulada de 0,9% em três anos para economias desenvolvidas. Instituição deixa avisos para ritmo da consolidação orçamental.
Na recuperação da pandemia, e enquanto as economias enfrentam uma elevada inflação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que os governos devem ter em conta as circunstâncias do país para determinar o ritmo da consolidação orçamental. A instituição prevê que o abrandamento provocado pela pandemia pode ser de 0,9% em três anos para economias desenvolvidas e 1,3% para mercados emergentes.
“À medida que as políticas monetárias estão a ser normalizadas, durante crescentes pressões inflacionárias, os governos devem calibrar o ritmo da consolidação orçamental de acordo com as circunstâncias do país para evitar grandes interrupções e possíveis cicatrizes”, lê-se no World Economic Outlook (WEO) do FMI, cujos capítulos analíticos foram divulgados esta segunda-feira.
A instituição calculou o impacto económico da pandemia, que terá atrasado o crescimento em 0,9% em três anos nas economias desenvolvidas e 1,3% nos mercados emergentes. Apesar destas estimativas agregadas, o FMI alerta que o “atraso pós-pandemia no crescimento pode ser muito maior em países onde o endividamento está mais concentrado entre famílias com restrições financeiras e empresas vulneráveis; o regime de insolvência é ineficiente; o espaço fiscal é limitado e a política precisa de ser reforçada rapidamente”.
Assim, o FMI defende que as políticas devem ser ajustadas à situação de cada país. No caso dos países onde a “recuperação está bem encaminhada e os balanços privados estão em boa forma – principalmente em economias avançadas que beneficiaram de um generoso apoio governamental durante a pandemia — o apoio orçamental pode ser reduzido mais rapidamente”.
Por outro lado, noutros locais onde a recuperação é mais fraca, “apoio orçamental direcionado poderia ajudar a diminuir os riscos de interrupções e cicatrizes dentro de quadros orçamentais de médio prazo credíveis”. Já quando é difícil direcionar e existe menos margem de manobra, o FMI admite que pode ser necessário considerar medidas de reforço da receita para financiar várias prioridades.
A retirada dos apoios poderá assim ser um momento decisivo. Em Portugal, Governo está a contar com que o défice orçamental beneficie da retirada gradual das medidas da Covid-19. Segundo as projeções feitas no Programa de Estabilidade, a retirada das medidas de emergência aplicadas no âmbito da pandemia permitirá gerar uma “poupança” equivalente a 1% do PIB, em 2023.
Dívida será um dos maiores desafios na recuperação
Para o FMI, um dos principais desafios à medida que os governos estão a deixar as políticas de emergência da pandemia será mesmo o peso da dívida, que aumentou não só na vertente pública mas também privada.
Durante os tempos da pandemia, as medidas aplicadas pelos governos levaram a um aumento rápido da dívida. Mas verificou-se também que “a dívida corporativa não financeira aumentou entre empresas vulneráveis nos setores mais atingidos (por exemplo, aqueles que são intensivos em contacto)”, salienta a instituição.
Além disso, “a acumulação de dívida das famílias, embora mais modesta do que a das sociedades não financeiras em geral, foi em alguns casos fortemente concentrada nas famílias de baixos rendimentos”, destacam também. Neste cenário, existem diferenças significativas entre os países, que terão “implicações importantes para o crescimento futuro”.
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