“Temos de fazer mais para incorporar o risco de catástrofe na forma como vivemos”

  • ECO Seguros
  • 27 Abril 2022

Desde 1980, só 40% do prejuízo causado por catástrofes tem seguro. Nas regiões mais pobres do mundo a cobertura é quase zero, assinala o último relatório da ONU sobre Redução do Risco de Desastres.

Novo relatório da ONU para a Redução do Risco de catástrofes reforça alertas para um cenário de autodestruição da Humanidade. Nas duas últimas décadas aconteceram 350 e 500 desastres de média e grande dimensão por ano e prevê-se que a frequência dos eventos catastróficos aumente para 1,5 por dia, em 2030, com o número de desastres naturais a alcançar 560 por ano, colocando milhões de vidas em risco, antecipa o Global Assessment Report on Disaster Risk Reduction (GAR2022), acabado de publicar pelo gabinete das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRRUN Office for Disaster Risk Reduction).

“A atividade humana está a contribuir para o aumento do risco de catástrofes no mundo“, alertam os autores do estudo. Apesar de alguns progressos, “a espiral de risco avança mais do que se reduz a ameaça de um colapso global”.

A questão central a que o GAR2022 procura responder é como podem os sistemas de governação evoluir para melhor enfrentar os riscos sistémicos do futuro? No mundo atual, sobrepovoado e interligado, “as catástrofes têm um impacto cada vez maior, em cascata, atravessando geografias e setores, que se vê à medida que a pandemia de coronavírus (COVID-19) e as alterações climáticas aceleram as evidências,” nota o documento. Os sistemas globais estão cada vez mais ligados e, por conseguinte, mais vulneráveis a um cenário de risco incerto para as cadeias alimentares, cadeias de abastecimento e serviços sociais. As catástrofes, os prejuízos económicos (danos segurados + danos não segurados) e as vulnerabilidades subjacentes que geram o risco, tais como a pobreza e a desigualdade estão a aumentar na mesma medida em que habitats e bioesferas enfrentam risco de colapso, coincidem os especialistas internacionais participantes na elaboração do relatório que se constitui como um balanço a meio termo do Quadro de Sendai (objetivos globais de redução de risco definidos no Japão, para o período 2015-2030).

O mundo precisa de fazer mais para incorporar o risco de catástrofes na forma como vivemos, construímos e investimos, que é o que nos está a colocar numa espiral de autodestruição”, frisou Amina Mohammed, Secretária-Geral Adjunta da ONU, na apresentação do relatório, em Nova Iorque. Sem uma ação reforçada que construa resiliência ao risco sistémico, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas “não poderão ser alcançados”, adverte o relatório com subtítulo “Our World at Risk: Transforming Governance for a Resilient Future” salientando que:

  • A emergência climática e os impactos sistémicos da pandemia de Covid-19 apontam para uma nova realidade;
  • Compreender e reduzir o risco num mundo de incerteza é fundamental para alcançar um desenvolvimento genuinamente sustentável;
  • A melhor defesa contra choques futuros é transformar os sistemas agora, construir resiliência na abordagem às alterações climáticas e reduzir a vulnerabilidade, exposição e desigualdade que propiciam desastres.

O documento de 236 páginas elenca formas de envolvimento da indústria seguradora para mostrar como, além da criação de novas soluções (como adaptar seguro paramétrico à agricultura, promover pools de risco e participar em fundos de contingência), as companhias de (re)seguro podem ajudar a consciencializar comunidades (incluindo governos e entidades privadas), contribuir com as suas competências (tecnologia de modelação) para fortalecer a resiliência e influenciar processos de decisão no sentido da redução de desastres, sugere o documento.

O relatório também apresenta exemplos particulares (de vários lugares do mundo) de subvalorização da necessidade de cobertura e de recusa de contratação de seguros, comportamentos que o UNDRR atribui a uma perceção errada do risco e da utilidade do seguro. Estes casos, que qualifica de otimismo, “amnésia” e complacência, entre outros comportamentos, devem ser substituídos por um esforço de ação coletiva para inverter a frequência dos desastres e até reduzir a sua ocorrência.

O GAR 2022 cita dados sigma (série de estudos da Swiss Re), segundo os quais, das perdas resultantes de catástrofes a nível mundial em 2020 apenas metade estavam segurados (aproximadamente 89 mil milhões de dólares de um valor estimado em 202 mil milhões de dólares de prejuízos económicos). Isto ultrapassou a média anual anterior de 71 mil milhões de dólares em perdas seguradas, indicou o Swiss Re Institute, em 2021. Entre 1980 e 2018, em média, só cerca de 40% de todas as perdas relacionadas com desastres estavam seguradas, acrescenta o estudo da UNDRR referindo dados da resseguradora Munich Re. No entanto, “os seguros estão esmagadoramente concentrados nos países mais ricos,” observa.

A nível regional, a percentagem mais elevada de perdas económicas ocorre na Ásia e na região do Pacífico, onde os países perdem, em média, 1,6% do pib em consequência de catástrofes naturais. África é a segunda região mais afetada, com uma média de perdas económicas relacionada com catástrofes a corresponder a 0,6% da economia (produto interno bruto).

“A boa notícia é que as decisões humanas são as que mais contribuem para o risco de desastres, por isso temos o poder de reduzir substancialmente as ameaças que pendem sobre a Humanidade e, especialmente, sobre os mais vulneráveis. Os desastres podem prevenir-se, mas só se os países investirem tempo e os recursos necessários para compreender e reduzir os seus riscos,” nota Mami Mizutori, Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a redução do Risco de Catástrofes e Chefe do UNDRR.

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