Investimento no SNS permitiu retorno de 7,5 mil milhões para a economia

  • Lusa
  • 3 Maio 2022

Valor resulta de um contributo mais significativo na redução do absentismo e da melhoria da produtividade e do facto de o custo do trabalho diário em Portugal aumentar progressivamente.

O investimento no Serviço Nacional de Saúde em 2021 permitiu um retorno de 7,5 mil milhões de euros para a economia, graças ao impacto dos cuidados de saúde no absentismo e na produtividade, conclui um estudo divulgado esta terça-feira.

Houve um aumento que tem algum significado, face ao ano anterior, neste retorno, que é tributário de duas coisas: de um contributo mais significativo na redução do absentismo e da melhoria da produtividade (…) e também do facto de o custo do trabalho diário em Portugal ao longo dos anos ir aumentando progressivamente e, por essa via, acaba por se refletir num retorno para a economia”, explicou à agência Lusa o coordenador do estudo, Pedro Simões Coelho.

Segundo os dados do Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (Nova IMS), este retorno foi superior (mais 700 milhões) ao valor apurado em 2020 (6,8 mil milhões).

De acordo com os dados do estudo, a que a Lusa teve acesso, a maioria dos portugueses faltou pelo menos um dia ao trabalho em 2021 por motivos de saúde e 17% faltaram mais de 20 dias. No entanto, a prestação de cuidados de saúde pelo SNS permitiu evitar uma ausência laboral equivalente a 2,8 dias, representando uma poupança superior a mil milhões de euros.

O SNS permitiu ainda evitar 9,9 dias de trabalho perdidos em produtividade, resultando numa poupança de 3,9 mil milhões de euros. No total, somando o impacto no absentismo e na produtividade, o SNS permitiu uma poupança global de cinco mil milhões de euros por via dos salários.

Considerando o impacto dessa poupança, por via dos salários, e a relação entre produtividade/remuneração (valor referência do INE), o estudo conclui que os cuidados prestados pelo SNS permitiram um retorno para a economia de 7,5 mil milhões.

Os dados indicam também que o índice de sustentabilidade do SNS – que tinha caído no primeiro ano da pandemia – subiu em 2021 para 92,5 pontos, uma escalada explicada pela subida simultânea da qualidade percecionada e da qualidade técnica e por um significativo aumento da atividade (13%), que foi superior ao aumento da despesa (8%) e levou a um aumento da produtividade.

“Percebemos que 2021 é um bocadinho um ano de recuperação do Covid e por ter sido um ano de recuperação há uma subida impressionante da atividade”, disse Pedro Simões Coelho, sublinhando que se estimam valores acima dos verificados na época pré-pandemia.

“Simultaneamente, temos um crescimento da despesa, mesmo que corrigida com a dívida vencida, que é na casa dos 9% e, portanto, é inferior ao crescimento da atividade. Ora é exatamente isso que se deseja: um crescimento da atividade a uma taxa superior à da despesa, o que significa um aumento de produtividade”, acrescentou.

Pedro Simões Coelho recorda ainda que esta subida de produtividade, que impulsionou o crescimento do Índice de Saúde Sustentável, “é um pouco irrepetível, pois surge no seguimento de um ano pós-Covid”, e diz que, no futuro, novos ganhos de produtividade “não podem ser conseguidos senão à custa de restruturações, mudanças e aumentos de eficiência do sistema”.

A nota negativa diz respeito ao crescimento da dívida vencida no final do ano (em 2%), “mas que não é suficiente para impactar com significado a evolução do índice”, refere o estudo.

“Este aumento do deficit ainda não teve expressão na dívida vencida, que está mais ou menos constante e subiu 2%. O que significa que se conseguiu gerir o deficit de forma que ele não fosse passado para os fornecedores”, considerou, alertando: “a prazo, das duas uma – ou terá de ser financiado ou acabará por se refletir em dívida vencida.

Os dados indicam também que a despesa aumentou significativamente (8%) e realçam o crescimento substancial do deficit (+276%).

O trabalho, desenvolvido pela NOVA-IMS em colaboração com a AbbVie, Diário de Notícias e TSF, avalia não só a evolução da sustentabilidade do SNS, mas também o SNS do ponto de vista do utilizador. Identifica pontos fracos e fortes, bem como possíveis áreas prioritárias de atuação, além de procurar compreender os contributos económicos e não económicos.

Os dados divulgados esta terça-feira apontam para um ligeiro aumento da qualidade dos serviços de saúde percecionada pelos cidadãos (+0.7 pontos face ao ano anterior) e um considerável aumento na qualidade técnica, que passou dos 55,7 para os 63,4 pontos, valor superior aos registados no período pré-pandemia, em 2019 (58,8 pontos).

A avaliação dos portugueses do seu estado de saúde também melhorou: 77% considera o seu estado de saúde “bom” ou “muito bom”, uma percentagem superior à registada no ano anterior (59,8%).

Numa escala de 1 a 100, os portugueses classificam o seu estado de saúde com 75,7 pontos. Sem o efeito do SNS, o índice do estado de saúde ficaria pelos 63,2 pontos.

Contudo, mais de metade (53%) considera que o seu estado de saúde afeta negativamente a sua qualidade de vida, 47% considera que o seu estado de saúde provoca ansiedade ou depressão/dor ou mal-estar, 45% diz que dificulta a realização de tarefas diárias (pessoais ou profissionais) e 43% que dificulta a mobilidade.

O Índice de Saúde Sustentável é apresentado esta terça-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

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