PIB cresce 6,4% em 2022 mesmo que economia estagne
Após a surpresa positiva no primeiro trimestre, a economia portuguesa até pode estagnar nos próximos trimestres que, mesmo assim, o PIB crescerá 6,4% em 2022. Governo previa 4,9% no Orçamento de 2022.
O desempenho da economia portuguesa veio trocar as voltas aos economistas que acompanham e fazem previsões para o PIB português. Ao contrário do esperado, a atividade económica acelerou e tornou o ponto de partida para o resto do ano ainda melhor. Agora, se o PIB estagnar nos próximos três trimestres devido à guerra na Ucrânia e à aceleração da taxa de inflação, a economia crescerá mesmo assim 6,4%, acima do esperado por todas as instituições, incluindo o Governo (4,9%).
A estimativa é feita pelos economistas do ISEG na síntese de conjuntura de maio divulgada esta terça-feira e foi confirmada pelo ECO com cálculos a partir dos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) até ao momento. Por estagnação do PIB entende-se a variação nula em cadeia (entre trimestres) no segundo, terceiro e quarto trimestre — em termos homólogos, o PIB deverá continuar a exibir crescimentos expressivos por causa do efeito de base. No primeiro trimestre, o PIB cresceu 2,6% em cadeia e 11,9% em termos homólogos.
“O nível do PIB no 1º trimestre faz com que, mesmo sem crescimento em cadeia até ao final do ano, o crescimento anual em 2022 se venha a fixar em cerca de 6,4%, valor que excede as melhores previsões anteriores à estimativa do INE para o 1º trimestre“, lê-se na síntese de conjuntura. Antes de serem conhecidos os dados do primeiro trimestre, tanto o ex-ministro das Finanças, João Leão, como o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, apontava para um crescimento de 3,6% se o PIB não fosse crescer em cadeia nos trimestres de 2022.
Caso se confirme um crescimento de 6,4% este ano, o PIB português chegará ao final deste ano 2,2% acima do nível pré-pandemia (ano de 2019), segundo os cálculos do ECO. A expectativa do Governo na proposta do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) era que o crescimento de 4,9% em 2022 pusesse o PIB 0,7% acima do nível anterior à Covid-19.
A dúvida agora está no desempenho da economia portuguesa nos próximos trimestres. Por um lado, fatores como o impacto da guerra e a aceleração da taxa de inflação, assim como as dificuldades das cadeias de abastecimento e a normalização da política monetária, poderão fazer-se sentir mais. Por outro lado, setores como o turismo e a construção deverão continuar a crescer e a dar gás à retoma portuguesa pós-Covid, a qual está atrasada face à média europeia.
“A questão que se põe é se irá continuar a haver nos próximos trimestres um crescimento em cadeia positivo, ou não, e qual a sua dimensão“, explicam os economistas do ISEG, apontando que “não é impossível um crescimento anual inferior, com taxas de crescimento trimestrais marginalmente negativas, o que poderia acontecer na segunda metade do ano”. Daí que o intervalo de previsão vá de 6% a 7,2%.
O ISEG nota que “este cenário torna-se mais provável se o crescimento da Zona Euro se aproximar da recessão até ao final do ano devido à guerra da Ucrânia”. “Contudo, o que atualmente se considera mais provável para Portugal é um cenário com crescimentos positivos em cadeia do PIB trimestral, ainda que a diminuir fortemente até ao final do ano“, admitem os economistas. Ou seja, na realidade o cenário mais provável atualmente é que o PIB português cresça mais de 6,4% no conjunto do ano.
Este desempenho da economia portuguesa diverge da maioria dos outros países europeus em que o PIB está a travar, já afetado pela guerra no primeiro trimestre. Mas há potenciais explicações para este diferencial, como explicam os economistas do ISEG: “Os diferentes ritmos de crescimento entre países estão relacionados com a estrutura da sua economia e com efeitos base originados pelos períodos de maior intensidade local da pandemia”.
“No caso português, tendo a atividade turística um peso relevante, Portugal foi dos países que mais decresceu no primeiro ano da pandemia, e que recuperou abaixo da média em 2021 (sobretudo devido ao 1º trimestre)”, explicam, notando que “agora, com a pandemia controlada, e a retoma da procura turística internacional, o desempenho português inverte-se“. Já outros países, porventura mais dependentes da economia russa, terão tido um “primeiro impacto negativo decorrente da guerra na Ucrânia” mais pronunciado.
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