Requalificação profissional: uma opção obrigatória

  • Pedro d’Albuquerque e Castro
  • 14 Junho 2022

É impensável acreditar que estudar até aos 20 e poucos anos, ainda que ao mais alto nível, continuará a proporcionar uma vantagem competitiva no mercado de trabalho que se prolongue por tanto tempo.

Infantário. Ensino primário. Secundário. Para alguns, Licenciatura. Depois Mestrado. E, por norma, ficamos por aqui. Um percurso que até tem sido alargado, mas, ainda assim, que continua a ter um final bem delineado.

Ao longo de gerações tem sido este o percurso académico da larga maioria daqueles que, posteriormente, ingressam no mercado de trabalho na esperança de “trabalhar na área”. Mas a verdade é que esse mesmo mercado de trabalho, em consequência do mundo à sua volta, tem mudado radicalmente ao longo dos últimos anos. E, com ele, têm mudado as necessidades das empresas, especialmente aquelas que se têm sabido adaptar.

O World Economic Forum chegou à conclusão que, em várias indústrias, os empregos mais procurados do momento nem sequer existiam há 10 ou mesmo 5 anos. Em 2018, a Dell concluiu que 65% das crianças na escola primária irão ter profissões que ainda não existem atualmente.

Com base nestes números, como é que deverá mudar a nossa preparação? Fará sentido manter a lógica académica que tem predominado até aqui? Fará sentido acreditar que uma licenciatura ou um mestrado, nos dão bases suficientes para conseguir empregos especializados ao longo de 40/50 anos de carreira? Quanto mudará o mundo entretanto?

É impensável acreditar que estudar até aos 20 e poucos anos, ainda que ao mais alto nível, continuará a proporcionar uma vantagem competitiva no mercado de trabalho que se prolongue por tanto tempo. A aposta na continuidade da aprendizagem ao longo da vida e da carreira, o upskilling e a requalificação profissional, parecem ser a única alternativa para quem se quiser manter atualizado e competitivo face às gerações que lhe sucedem.

Um relatório do McKinsey Global Institute indica que cerca de 14% da população mundial terá de mudar de profissão até 2030 devido à digitalização, automação e avanços ao nível da inteligência artificial, que começam a ter um impacto cada vez mais disruptivo no dia a dia empresarial. Estes dados mostram-nos que esta mudança não vai afetar as próximas gerações, ela já começou. E o grande problema é que os impactos já se sentem, tendem a crescer exponencialmente nos próximos anos, mas os mecanismos de adaptação estão longe de estar à altura do desafio.

Para percebermos melhor o potencial do impacto desta transformação em Portugal, olhemos à qualificação da nossa população ativa: em 2019 quase metade dos portugueses entre os 25 e 64 anos não tinha o ensino secundário completo, e apenas 26,3% havia completado o ensino superior. Tal, provavelmente, terá como consequência uma grande franja da população a ocupar posições de trabalho pouco especializado – exatamente aquele tipo de trabalho que está mais em risco de disrupção e de vir a ser substituído, já a curto prazo.

Sabendo isto, será possível encontrar algum ponto positivo no meio de todos estes desafios e adversidades? Como sempre que há uma grande revolução no mercado de trabalho, claro que sim. De acordo com a Manpower, 69% dos empregadores a nível global assumem ter dificuldades em encontrar talento para áreas como IT, Marketing, Operações e Logística. Isto parece demonstrar que, paralelamente a uma redução (ou extinção) na oferta de algum tipo de emprego, há também um acréscimo noutro tipo de necessidades, para onde podem ser canalizados os esforços da população ativa. Essa transformação não é fácil, nem instantânea, mas tem um caminho e pode acontecer.

Para tal, é fundamental que aquele paradigma com que começou este texto, de um percurso académico com um princípio, meio e fim tão bem definidos, se altere completamente. É fundamental que as empresas, nomeadamente as grandes organizações, que têm essa capacidade, liderem esta transformação, para que os seus quadros as possam ajudar a ultrapassar os desafios que ainda não fazem ideia que vão enfrentar. E que cada um de nós, a título individual, procure constantemente vetores de diferenciação e requalificação que lhe permita ter uma vantagem competitiva num mercado de trabalho cada vez mais disruptivo.

Por fim, podendo este parecer um desafio individual, que irá afetar a carreira de cada um, um olhar mais atento demonstra um impacto bem mais alargado. A capacidade que tivermos, ou não, de o encarar e ultrapassar enquanto país, irá ser determinante na capacidade que temos, ou não, de suportar uma economia digital e inovadora, e estarmos preparados para os desafios que iremos enfrentar no futuro. Um futuro que já chegou.

  • Pedro d’Albuquerque e Castro
  • Project leader, NTT DATA

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