Economia europeia entra em recessão se cortar gás russo
A Comissão Europeia prevê que a economia entre em recessão este ano se a União Europeia cortar o gás russo. A medida tem sido afastada para já, mas os países estão à procura de alternativas.
A Comissão Europeia acaba de cortar as previsões económicas para a União Europeia em 2022, mas o cenário pode piorar ainda mais caso haja um corte ao gás russo. De acordo com o cenário severo que incorpora essa hipótese, a economia europeia entraria em recessão ao registar taxas negativas em cadeia, ainda que o crescimento anual fosse positivo. Além disso, a taxa de inflação iria acelerar ainda mais do que o previsto atualmente.
Essa possibilidade foi comentada esta segunda-feira na conferência de imprensa de apresentação das previsões de primavera da Comissão Europeia. Paolo Gentiloni, comissário europeu para a economia, admitiu que a recessão poderia ser uma realidade, aumentando o impacto da guerra. Para já, o impacto negativo foi de 1,3 pontos percentuais (diferença do crescimento intra-anual em 2022 entre previsões), levando a um dos cortes de previsões entre exercícios consecutivos.
Para aferir potenciais desvios aos atuais números, a Comissão Europeia desenhou um cenário adverso em que simula um impacto ainda maior do preço da energia e um cenário severo em que há um corte do fornecimento do gás russo. No cenário severo, o crescimento do PIB seria inferior em 2,5 pontos percentuais face ao cenário base (2,7%) e a taxa de inflação seria três pontos percentuais acima (face aos atuais 6,1%).
O impacto iria prolongar-se para 2023 com o PIB a ficar um ponto percentual abaixo da atual previsão (2,3%) e a taxa de inflação (2,7%) um ponto percentual acima. Em suma, as “forças estagflacionárias” seriam reforçadas nestes cenários, com a economia a travar ainda mais e a inflação a acelerar novamente.
“Nestes dois cenários, o crescimento intra-anual estaria em território negativo“, sublinhou Gentiloni. Na prática, isto significa que a economia europeia entraria em recessão — a definição passa por dois trimestres consecutivos de quebra do PIB em cadeia –, apesar de manter um crescimento anual homólogo positivo.
Os peritos europeus explicam que o cenário severo reflete as possibilidades “limitadas” de substituição do gás russo “no curto prazo”. Tal acontece desde logo por causa das dificuldades de logística, em concreto de infraestruturas específicas, para receber gás de outras geografias. Acresce que os países produtores não conseguem aumentar a sua produção ao ritmo necessário para compensar “totalmente” uma paragem das importações com origem na Rússia. “Em resultado disso, um ajustamento no curto prazo a tal grande choque seria extremamente caro“, avisa a Comissão Europeia.
Um dos principais riscos é que, com a duração prolongada deste problema, levantam-se problemas com a espiral de inflação e salários. O efeito de cascata noutros setores intensivos em energia, como é o caso da agricultura ou de certa indústria, também pode vir a aumentar à medida passa cada vez mais tempo.
Apesar de reconhecer a utilidade deste cenário, a equipa da Comissão Europeia avisa que estas estimativas estão sujeitas a um elevado nível de incerteza, principalmente no caso do cenário severo por considerar um corte de energias em precedentes. A grande dúvida está na capacidade de substituição e na rapidez com que a disrupção seria resolvida. Acresce que este corte do gás russo podia criar mais disrupções nas importações de metais, fertilizadores e alimentos. Por fim, os Estados-membros têm diferentes níveis de exposição ao gás russo pelo que o impacto seria bastante diferenciado, pelo menos no início.
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