“Temos assistido a um aumento de receitas indexadas à inflação”, reconhece CEO da EDP
Miguel Stilwell d’Andrade afirma que a subida dos preços está a levar a um aumento dos custos, mas a elétrica regista também um aumento de receitas indexadas à inflação nas redes no Brasil e Portugal.
“A aceleração da inflação a que estamos a assistir coloca alguns desafios à EDP”, reconhece o CEO, apontando o aumento dos custos de produção, construção ou desenvolvimento. Por outro lado, a elétrica tem vindo a assistir a um aumento de algumas receitas indexadas à inflação, como as redes no Brasil, em Portugal ou uma parte das receitas da EDP Renováveis, afirma Miguel Stilwell d’Andrade, em resposta por email a questões do ECO.
O presidente executivo da EDP, que é um dos nomeados na categoria de melhor CEO na relação com os investidores da 34.ª edição dos Investor Relations and Governance Awards (IRGAwards), uma iniciativa da consultora Deloitte, salienta ainda que a aposta do grupo nas renováveis, há quase duas décadas, “tem contribuído para atenuar o atual momento de incerteza”, uma vez que “as tecnologias limpas reduzem a volatilidade de preços”.
Engenheiro mecânico, formado na Universidade de Strathclyde (Glasgow, Escócia) e com um MBA pela Sloan School of Management do MIT, Miguel Stilwell entrou para a EDP em 2000, após vários anos na área de fusões e aquisições do UBS Investment Bank, que o levaram a várias geografias do globo. Na elétrica coordenou vários negócios de M&A e as entradas em bolsa da EDP Energias do Brasil e da EDP Renováveis, entre outras operações, chegando a administrador financeiro em 2018. Em julho de 2020, então com 44 anos, assumiu interinamente o cargo de CEO, passando a ocupar de forma efetiva as funções em janeiro do ano seguinte, após uma assembleia geral na qual foi eleito com 99,98% dos votos.
“Temos quase metade da população mundial, entre 3,3 e 3,6 mil milhões de pessoas, a viver em contextos altamente vulneráveis às alterações climáticas”, afirma, salientado a urgência de serem implementadas soluções. “A maior lição que todas as empresas devem retirar é a necessidade de contribuírem de forma ativa e efetiva para a transformação de que o mundo precisa”, sublinha.
Que desafios é que a aceleração da inflação está a criar para o negócio e de que forma é que a EDP está a responder a eles?
A aceleração da inflação a que estamos a assistir coloca alguns desafios à EDP, sobretudo por sermos uma empresa que atua num negócio de capital intensivo. Por um lado, pode significar o aumento dos custos de produção, construção, desenvolvimento, entre outros, face ao aumento de preços das matérias-primas, transportes e mão-de-obra. No entanto, também temos vindo a assistir a um aumento de algumas das nossas receitas que estão indexadas à inflação, tais como as redes no Brasil, em Portugal ou, por exemplo, uma parte das receitas da EDP Renováveis.
A aposta que o grupo tem feito, há quase duas décadas, nas energias renováveis tem contribuído para atenuar o atual momento de incerteza, uma vez que, além das questões ambientais e de independência energética, as tecnologias limpas reduzem a volatilidade de preços. Importa também referir que, neste contexto desafiante, a EDP tem procurado que todos os fatores externos que estão a ter implicações no setor da energia não representem um impacto negativo para os seus clientes, de forma a assegurar a maior estabilidade possível nos preços da eletricidade.
A inflação trouxe também um novo ciclo de aumento das taxas de juro. Qual será a resposta da EDP a este novo enquadramento?
A EDP faz uma gestão proactiva da sua exposição aos mercados e riscos financeiros, nomeadamente no que concerne a taxas de juro, com base na aplicação da política financeira do grupo. Tem, por isso, definidos rácios e procedimentos que lhe permitem manter uma situação financeira equilibrada apesar do contexto atual, sendo que atualmente, a percentagem de dívida a taxa fixa da EDP situa-se em torno dos 70%, acima de muitos dos seus pares.
“Shaping human lives through sustainability and technology” foi o tema escolhido para a edição deste ano dos IRGAwards, num convite à reflexão sobre a maneira como funcionamos enquanto sociedade e o legado que deixaremos às gerações futuras. O que é urgente mudar para deixarmos às próximas gerações um legado melhor?
Como empresa global, com uma liderança reconhecida na transição energética, temos uma responsabilidade ainda maior sobre o futuro do planeta e das novas gerações. Esse futuro, para o qual nos empenhamos e mobilizamos, com os melhores recursos e talentos, passa, claramente, pela sustentabilidade. Os últimos alertas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas deixam pistas muito claras sobre o caminho a seguir para prevenir ou combater as alterações climáticas, e sobre o que temos de fazer, rapidamente, para nos adaptarmos às consequências reais do aquecimento global.
Temos quase metade da população mundial, entre 3,3 e 3,6 mil milhões de pessoas, a viver em contextos altamente vulneráveis às alterações climáticas e, por isso, precisamos agora, mais do que nunca, de implementar soluções – e as renováveis são uma parte fundamental desta resposta. É esse o caminho que há muito estamos a abrir em várias frentes e em várias regiões do mundo, garantindo novos e inovadores projetos de energia verde, de mobilidade elétrica ou de eficiência energética que contribuem para reduzir e até eliminar o recurso a combustíveis fósseis e fontes poluentes. Ao mesmo tempo, apoiamos e promovemos o acesso a energia limpa, mesmo em comunidades remotas e mais desfavorecidas. Ninguém pode ficar para trás neste processo. Todos devem ter um futuro sustentável. É esse o compromisso da EDP: ser um agente de mudança por um futuro melhor e mais verde.
A maior lição que todas as empresas devem retirar é a necessidade de contribuírem de forma ativa e efetiva para a transformação de que o mundo precisa.
Da sua experiência como gestor, que lição considera mais valiosa para enfrentar o momento atual?
O atual momento que o mundo, e em particular a Europa, vive representa um sério aviso para todos: é preciso atuar agora e coletivamente para garantir um futuro sustentável para as próximas gerações. A maior lição que todas as empresas devem retirar é a necessidade de contribuírem de forma ativa e efetiva para a transformação de que o mundo precisa.
Enquanto gestor, e especialmente enquanto gestor de uma empresa que, pelo setor em que opera, desempenha um papel fundamental nesta mudança, a lição mais valiosa que retiro é a da necessidade de mobilizar as pessoas e o talento da empresa para construir soluções para os problemas que enfrentamos e para gerir o risco num momento de elevada complexidade e incerteza. A capacidade de reagir rápido, mas de forma consistente, é um fator decisivo perante um mundo em constante mudança, com novos desafios a emergir a cada dia.
Mas é também nestes tempos mais incertos que surgem as melhores oportunidades de crescimento porque são precisamente os desafios que nos levam a ir mais longe e a procurar soluções onde nunca antes procurámos. São temas que também nos obrigam a pensar e a fazer diferente, o que, no caso particular da empresa que lidero, tem permitido dar um significativo passo em frente na liderança da transição energética neste contexto de dependência das energias fósseis.
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