Pré-publicação: “Gestão de Empresas com o Pessoas a Bordo”. Tudo tem a ver com o propósito

  • Trabalho
  • 7 Junho 2022

A Pessoas faz a pré-publicação do artigo intitulado "Tudo tem a ver com propósito", escrito por Sérgio Luciano, CEO da Quilaban. A obra vai ser apresentada esta quarta-feira.

Coordenado por Pedro Ramos e Vasco Ribeiro, o livro “Gestão de Empresas com Pessoas a Bordo” vai ser apresentado esta quarta-feira, pelas 17h30, na Fundação IP, em Lisboa. A obra sobre gestão e recursos humanos aborda a atual centralidade do papel das pessoas nas empresas.

A Pessoas faz a pré-publicação do artigo intitulado “Tudo tem a ver com propósito”, de Sérgio Luciano, CEO da Quilaban desde 2013. Licenciado em Gestão Financeira e com um MBA pela Universidade Católica, em parceria com a ESADE de Barcelona, o profissional iniciou a sua carreira em auditoria na Ernest & Young e foi na Alliance Healthcare, como CFO, que consolidou a sua experiência na área da distribuição farmacêutica.

O livro “Gestão de Empresas com Pessoas a Bordo” é editado pela Editora d’Ideias.

Tudo tem a ver com propósito

(Perspetiva de Sérgio Luciano)

Vivemos tempos extraordinários.

As fronteiras dos nossos mundos alargaram-se. A maior consciência da realidade que nos envolve, potenciada pela informação, pela partilha de conhecimento, pelo ativismo em torno de causas e problemas concretos do mundo e da Humanidade, é acompanhada por uma crescente complexidade. Os efeitos sistémicos de ações aparentemente inofensivas numa esfera regional têm impactos muito mais amplos do que se poderia antecipar.

A metáfora do efeito borboleta, desenvolvida por Edward Lorenz em 1969 e que integra a Teoria do Caos, é hoje bem mais fácil de entender. Vivemos numa rede extensa e muito intrincada de interações, cuja real dimensão de impacto é impossível de compreender ou de antecipar com rigor.

A nossa visão do mundo tem progredido no sentido da maior consciência individual e coletiva. E assim também a nossa visão do papel das empresas e das pessoas no mundo. Sempre, e cada vez mais, envolta em complexidade.

A vida das empresas está a passar por importantes transformações. O conceito de criação de valor através da sua atuação ganhou amplitude. O lucro e a liquidez, indicadores tradicionais de geração de valor para os acionistas, são apenas parte de um conjunto mais amplo de referenciais de performance. As empresas são comunidades geradoras de impactos económicos, sociais e ambientais muito relevantes. A sua consciência quanto a estes impactos e a sua determinação no sentido da sustentabilidade e da criação de valor para todos os seus stakeholders é condição sine qua non para que perdurem e se desenvolvam.

As dinâmicas de ESG — Environmental, Social and Governance — são uma importante tendência no mundo empresarial e ilustram bem o nível do desafio que as empresas enfrentam. Numa perspetiva de impacto, como daí decorre, as fronteiras da empresa alargam-se. A competitividade, mais do que dependente dos recursos atuais da empresa, estará dependente do que será capaz de fazer no futuro perante uma realidade ainda mais fluida, mutável e com níveis de exigência sobre a sua performance muito amplificados.

Para responder a um desafio desta magnitude, as empresas têm nas pessoas o recurso fundamental para interpretar a realidade e sobre ela atuar com agilidade, criatividade e em cooperação. A atração e retenção de talento, assim como de capital, é um desígnio fundamental para que as empresas possam cumprir o seu fito de criação sustentável de valor, num ambiente extraordinariamente competitivo e desafiante. Requer um nível aprofundado de sensibilidade e de compreensão quanto aos impactos da realidade sobre a forma como as pessoas sentem, pensam e se veem como parte do mundo e da dinâmica das organizações.

A tradicional conceção funcional e relativamente circunscrita da intervenção das pessoas nas empresas está a dar lugar a uma perspetiva orgânica, na qual se diluem os tempos e os espaços e se combinam objetivos, sonhos e emoções.

O ambiente de trabalho não é uma realidade autonomizável ou independente da dimensão mais holística da vida das pessoas. Faz parte da sua vida, numa combinação dinâmica, sendo uma de muitas variáveis de um sistema de equilíbrio complexo e exigente. Mais do que uma construção de Legos com peças de cores e dimensões bem definidas e posições concretas e estáveis, a dinâmica da vida das pessoas, assim como das empresas, assemelha-se mais a um magma, fluido, complexo, flexível e dinâmico.

Nesta realidade, as pessoas são a inteligência e a rede neuronal das empresas: sensores sofisticados, capazes de gerar movimentos ágeis de adaptação e ajuste à realidade e de se constituírem como agentes de criação da própria realidade.

A velocidade do desenvolvimento e a dinâmica de transformação do mundo trouxeram novos e exigentes desafios às empresas e ao papel das pessoas no seio das empresas. Do paradigma «empresa para a pessoa» — enquanto garante de estabilidade, conformismo e segurança — passamos para um novo paradigma «pessoa para a empresa» — assente na partilha de um projeto comum e de uma visão para o futuro.

São as pessoas que constituem a base fundamental do desenvolvimento das empresas, contribuindo com o seu talento, com a sua originalidade e com o seu trabalho, numa rede integrada de influência que se alarga para além da própria empresa. A vida das empresas molda-se com a vida das pessoas, numa simbiose potenciada pelo encontro de um referencial comum de motivação para a ação, criador de sentido e significado e orientado para o futuro.

A esse referencial pode chamar-se propósito.

Algo que nos inspira e anima para irmos além de nós próprios, a sair de espaços de conforto, a aceitar a vulnerabilidade que decorre de explorar novas dimensões de possibilidade. Que constitui a visão do que desejamos alcançar e é um catalisador da energia mobilizadora para a ação. Que é fator de coesão e de alinhamento de vontades. Um farol no meio da tempestade da incerteza e da variabilidade.

O propósito é uma declaração de identidade e de determinação quanto ao futuro que se deseja construir, simultaneamente forte e flexível. Forte, no sentido em que revela uma orientação clara, inspiradora, ambiciosa e exigente. Flexível, na medida em que promove a combinação de talento, não circunscrevendo, antes ampliando, as possibilidades de cooperação entre as pessoas para a construção do fim que inspira. As empresas, mais do que espaços seguros e estáveis, garantes de bem-estar, são agora espaços de cooperação dinâmica de pessoas em torno de um propósito mobilizador e unificador.

O propósito liga as pessoas às empresas e aponta para o futuro.

Pessoas, empresas e propósito são os vértices de um triângulo virtuoso, cuja dinâmica depende de um quarto elemento, que o expande — a liderança. São líderes fortes, também eles pessoas, com um fino sentido de missão e com uma inteligência apurada, que constroem ecossistemas empresariais capazes de acolher o talento e a ambição das pessoas, dando-lhes espaço de criação. Que reforçam a confiança, promovendo a relação, fomentando o conhecimento, praticando o que defendem e cultivando a integridade.

São líderes humanistas, inconformados, que reforçam a autoestima das pessoas e as estimulam a confiar em si próprias e a explorarem o desconhecido, inspiradas por um desejo maior, que tomam como seu e do qual encontram eco na empresa de que são parte, que criam o futuro. São intérpretes e tradutores de múltiplas linguagens e sinais, criando um idioma comum em torno do propósito, unindo as pessoas no seio das organizações, na construção de algo maior que as partes. São líderes que não receiam o desconhecimento do que está para lá do horizonte e que se determinam a mobilizar pessoas e empresas para a construção do futuro que desejam e de um legado para os vindouros.

Há uma nova centralidade das pessoas nas empresas e há também uma nova centralidade das empresas no mundo. Só as pessoas, cooperando, podem lidar com os níveis de complexidade que o mundo encerra.

As empresas são centros fundamentais de combinação de talento para a promoção de dinâmicas económicas, sociais e ambientais verdadeiramente transformadoras e sustentáveis. Um propósito maior — revelado através de uma atuação consistente, ética, dinâmica e flexível — é um íman de atração de talento que traz até às empresas o ímpeto de desenvolvimento e de expansão, e às pessoas o espaço de realização pessoal necessários para a construção de uma sociedade mais equilibrada, justa e sustentável.

São líderes inspirados e inspiradores, ao serviço das pessoas, quem transforma esta visão em realidade.

Dia após dia.

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