CGD: Menos prejuízos em 2016, menos capital em 2017

Bruxelas aprova hoje formalmente o plano de capitalização com as contas de 2016. Foram cerca de 1,9 mil milhões de prejuízos e imparidades da ordem dos 2,8 mil milhões. Estado injeta menos capital.

Hoje é dia de apresentação de contas da Caixa… e de prejuízos, os mais elevados de sempre. Em 2016, o banco público registou um prejuízo da ordem dos 1,9 mil milhões de euros, apurou o ECO junto de fontes que conhecem o dossiê. Este é um valor abaixo do que estava inscrito no plano negociado com Bruxelas. Qual é a primeira consequência? Bruxelas aprova hoje formalmente o plano de recapitalização da CGD com uma injeção de dinheiro público inferior ao limite de 2,7 mil milhões admitido no plano pré-negociado ainda por António Domigues. Assim, com menos prejuízos, o Estado vai meter menos capital.

Ao fim de pouco mais de um mês em funções, Paulo Macedo tem hoje o primeiro dia D. Havia a conclusão das negociações com a DG Comp (a Concorrência europeia), era necessário fechar as contas de 2016 e, em simultâneo, dar início à operação de emissão de 500 milhões de euros de obrigações junto de investidores privados. Visto, visto, visto. Vamos por partes.

A equipa de Paulo Macedo estava obrigada a seguir a metodologia usada por António Domingues na avaliação das imparidades, um dos pontos críticos do plano de recapitalização e reestruturação do banco. Porquê? Bruxelas aceitava uma injeção de capital público se fosse em condições de mercado, isto é, com as mesmas regras e avaliações que teria um investidor privado se estivesse a investir em ações do banco público.

O antigo presidente da CGD admitia, no plano negociado com Bruxelas, um nível de imparidades – leia-se de malparado – entre os 3,1 e os 3,3 mil milhões de euros. Uma limpeza de balanço violenta, e só possível se existisse um reforço de capital, claro. Macedo fechou o plano – cujos números assentavam nas contas de junho – e chegou a um valor no final de 2016 ligeiramente inferior, em torno dos 2,8 mil milhões de euros, dos quais 2,4 mil milhões de crédito.

Ora, esta revisão, somada a um desempenho operacional que, segundo apurou o ECO, registou uma evolução mais favorável no segundo semestre relativamente aos primeiros seis meses, permitiu rever em baixa os prejuízos em relação ao esperado. Há, aqui, também ganhos nas operações financeiras e, sobretudo, efeitos fiscais associados aos chamados DTA (impostos diferidos) ainda por detalhar e que terão contribuído positivamente para uma redução do prejuízo, para os 1,9 mil milhões de euros.

Quais foram os resultados da Caixa nos últimos cinco anos?

  • 488 milhões de euros de prejuízos em 2011
  • 394 milhões de euros de prejuízos em 2012
  • 575 milhões de euros de prejuízos em 2013
  • 348 milhões de euros de prejuízos em 2014
  • 171 milhões de euros de prejuízos em 2015

A primeira parte do plano de recapitalização já foi executada. Na primeira fase, a CGD utilizou reservas livres e legais, no valor global de 1,4 mil milhões de euros, para limpar prejuízos passados. De seguida, aumentou o capital social de 5,9 para pelo menos 7,3 mil milhões de euros. Este reforço, integralmente subscrito pelo Estado, foi realizado em espécie, através da transferência de ações da Parcaixa (no valor de 490 milhões) e através do “perdão” dos Cocos (900 milhões de euros).

Agora, fechadas as contas de 2016, vai seguir-se a segunda fase da capitalização. O plano de negócios negociado em Bruxelas e que já tinha uma aprovação condicional apontava para um aumento de capital em dinheiro até 2,7 mil milhões de euros. Mesmo com esta revisão dos prejuízos, para 1,9 mil milhões de euros, Paulo Macedo gostaria de manter este valor de injeção de capital público, porque isso significaria uma ‘almofada’ de capital suplementar e rácios de solvabilidade mais confortáveis. Bruxelas, no entanto, não estará disponível para aprovar um montante de capitalização igual ao teto máximo admitido e, por isso, o Estado deverá injetar entre 2,5 e 2,6 mil milhões de euros na CGD.

Com o plano formalmente aprovado pela DGComp – e pelo BCE -, estão reunidas as condições para preparar o road-show de emissão de 500 milhões de euros de obrigações junto dos investidores privados. A peça que falta para completar o puzzle de capital do banco público.

No calendário indicativo, Paulo Macedo e os bancos de investimento continuam a acreditar que é possível fazer a operação até ao último dia do mês de março. Falta saber a que preço, claro. E, assim, ficará fechado o plano de recapitalização.

Como dizia esta semana Paulo Macedo, o plano de capitalização é condição necessária, mas não suficiente, para dar a volta à Caixa. É preciso pôr em prática a reestruturação operacional e assegurar o cumprimento do plano de negócios que impõe, por exemplo, a redução do crédito às grandes empresas e um aumento do peso do crédito a PME e do crédito à habitação.

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