Governo prefere comboio em Braga mais perto de Vigo que do aeroporto do Porto
Construção de troço entre o Aeroporto Francisco Sá Carneiro e Nine (Famalicão) colocaria Viana do Castelo a menos de uma hora do Porto e traria benefícios a Braga e à restante região do Minho.
A construção de uma nova linha de alta velocidade entre Porto e Vigo é um dos principais projetos para a ferrovia até final desta década. O Governo pretende colocar as duas cidades a hora e meia de distância sobre carris, menos uma hora do que atualmente. Mas o projeto, tal como está, pode afastar cidades como Braga e Viana do Castelo, que pertencem à Linha do Minho.
Este projeto está dividido em duas fases e tem sido apresentado pela Infraestruturas de Portugal nos últimos meses.
Até 2030 pretende-se construir um novo troço entre Braga e Valença, sem paragens intermédias. O custo desta obra é de 1,25 mil milhões de euros e ainda depende das obras do lado de Espanha, sobretudo da saída sul da estação de Vigo. A deslocação entre Porto e Vigo passa a durar uma hora e 25 minutos, menos uma hora do que atualmente.
Ao mesmo tempo, será construída a ligação, em túnel, entre a atual estação de Porto-Campanhã e o aeroporto Sá Carneiro, no valor de 450 milhões de euros em conjunto com a nova ligação em alta velocidade entre Lisboa e Porto. Em paralelo, será ainda duplicado, de duas para quatro vias, o troço da Linha do Minho entre Contumil e Ermesinde, por 60 milhões de euros.
Depois de 2030, o Governo pretende construir a ligação ferroviária entre o aeroporto Sá Carneiro e a estação de Nine, no valor de 350 milhões de euros. Nessa altura, o comboio entre Porto e Vigo passará a demorar apenas 48 minutos.
Múltiplos efeitos (adiados) para o Minho
Os efeitos do troço Nine – Sá Carneiro não ficam por aqui e podem beneficiar a Linha do Minho convencional: de Braga ao aeroporto do Porto bastariam pouco mais de 20 minutos de comboio; a partir de Viana do Castelo, a viagem até ao Sá Carneiro e, depois, a Campanhã, demoraria menos de uma hora — e passaria a ser mais rápida do que o autocarro expresso.
O Governo insiste em dar prioridade ao troço entre Braga e Valença porque “permite o maior ganho de tempo de viagem na ligação Porto – Vigo”, justifica ao ECO fonte oficial do ministério das Infraestruturas e Habitação.
Apesar de a ligação entre o aeroporto e Nine ter mais efeitos para a coesão territorial, o gabinete de Pedro Nuno Santos argumenta que a construção da nova linha entre o Porto e Nine “tem um impacto pequeno no tempo de viagem total, permitindo poupar cerca de 10 a 15 minutos”.
À espera de Espanha
Para que Porto e Vigo fiquem a uma hora e 25 minutos de distância também é necessária a colaboração do Governo espanhol. Em 21 de abril, Pedro Nuno Santos pediu aos vizinhos para “dar corda aos sapatos” e “não haver o risco de chegarmos com uma linha à fronteira e não termos nada do outro lado”.
O Governo português aguarda a divulgação dos estudos para a saída sul da estação [de alta velocidade] de Vigo. “Precisamos que isso fique concluído para que depois possamos avançar com os nossos projetos”, referiu em 28 de junho o governante em entrevista ao jornal Faro de Vigo.
Se o calendário não descarrilar, Portugal e Espanha querem promover, em 2023, estudos de viabilidade económica e de exploração antes de avançarem com o pedido de avaliação de impacto ambiental.
“Prioridades invertidas”
O investigador Manuel Margarido Tão não concorda com a opção do Governo português. “As prioridades estão invertidas. A ligação Sá Carneiro – Nine – Braga tem muito mais efeitos económicos imediatos a nível regional do que a construção do novo troço Braga – Valença e traria uma poupança de tempo que já teria reflexos em Viana do Castelo e Valença”.
Pelo contrário, “apostar apenas na construção do troço Braga – Valença não resulta num encurtamento do tempo de viagem de Braga para sul“, argumenta o especialista em Transportes da Universidade do Algarve.
Manuel Margarido Tão também defende que os novos troços no norte do país sejam construídos em simultâneo: “Já não há vantagens em fazer tudo por etapas e não se sabe se haverá fundos comunitários depois de 2030”. Na altura, a União Europeia poderá contar com novos membros como a Ucrânia, a necessitar de verbas avultadas para a reconstrução do país após a invasão da Rússia.
Cabe ao Governo decidir se pretende apostar numa ligação internacional entre a cidade Invicta e a região da Galiza ou reforçar a coesão territorial em toda a região do Minho.
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