Falhar sem esmorecer

  • Catarina Santos Botelho
  • 12 Julho 2022

Apesar de ter atingido já a idade adulta, o estudante universitário necessita de ter ao seu dispor um conjunto de ferramentas que o ajudem a atingir todo o seu potencial.

Todos os anos, centenas de estudantes completam a sua licenciatura, mestrado ou doutoramento em Direito. No mundo digital, o culminar de tantos anos de esforço e dedicação é frequentemente capturado numa fotografia partilhada nas redes sociais, na qual o estudante segura orgulhosamente o seu diploma. A energia positiva e vibrante da fotografia testemunha e condensa todo um caminho percorrido, caminho este repleto de alegrias, mas também de alguns desafios. É sobre os desafios que pretendo falar aqui. Num mundo que hiperboliza a felicidade constante e que exterioriza narcisisticamente os sucessos, não parece haver disponibilidade mental para se falar dos fracassos, dos insucessos e das pedras no caminho. No entanto, essas pedras no caminho fazem parte do normal percurso académico de todos e de cada um, e podem ser superadas com determinação.

Desde logo, do lado da Faculdade, destaco a importância da personalização do ensino e da atenção individualizada ao estudante. Apesar de ter atingido já a idade adulta, o estudante universitário necessita de ter ao seu dispor um conjunto de ferramentas que o ajudem a atingir todo o seu potencial. O propósito não é paternalista ou muito menos procura infantilizar o estudante. Ao invés, o que se procura é oferecer um ensino diferenciado, no qual a exigência anda de mão dada com a empatia. Por outras palavras, almeja-se que a humanização do ensino do Direito. O estudante não é “mais um”, um número perdido numa pauta, mas é acolhido e valorizado como uma pessoa única e distinta de todas as demais. Alguns estudantes encontram grande alegria no voluntariado, nas tunas, ou nas associações de estudantes; outros precisam de afinar o método de estudo (v.g., através de tutorias ou mentorias) para obterem melhores classificações; outros necessitam de apoio psicológico que os auxilie a ultrapassar períodos difíceis das suas vidas; outros procuram superar algumas dificuldades ao nível da socialização com outras pessoas, ou reforçar competências essenciais para o futuro desempenho das suas profissões (como falar em público, por exemplo).

Inspirando-me nos preciosos conselhos de Fernando Savater, em “Ética para Amador”, a ideia-chave que recomendaria a todos os estudantes de Direito é a seguinte: “Primeiro, procura não falhar; depois, procura falhar sem esmorecer”. Neste sentido, é importante saber levantar-se a cada percalço no caminho, escutar os outros, pedir ajuda, aprender com os erros, crescer e abrir-se aos demais. Segundo, é crucial colocar as coisas em perspetiva. O que hoje nos incomoda será assim tão relevante daqui a cinco ou dez anos? Provavelmente não será. Terceiro, é imperativo encarar a vida com humor. Como escreveu Savater, a seriedade e a sisudez não costumam, ser sinais inequívocos de sabedoria. “A inteligência deve saber rir” e será ela que acompanhará o iter académico, todas as suas imensas alegrias e os alguns contratempos do caminho. Lá estaremos para aplaudir e admirar, com tanto orgulho, a fotografia do dia da entrega do diploma!

  • Catarina Santos Botelho
  • Coordenadora do Mestrado em Direito da Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica

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