Práticas legais e saúde mental no top 5 dos riscos para as pessoas
As práticas legais, de compliance e financeiras, bem como a saúde mental, parte do top 5 dos riscos mencionados pelos DRH portugueses, nem sequer constam do top 10 europeu e global.
A cibersegurança e privacidade dos dados é o principal risco que os gestores de recursos humanos (RH) em Portugal e a nível global identificam com potencial gravidade de impacto para as pessoas. A partir daqui, as as prioridades dos diretores de RH portugueses são bem distintas das dos gestores de outros mercados. As práticas legais, de compliance e financeiras, bem como a saúde mental, em segundo e quinto lugares da lista de preocupações dos DRH nacionais, respetivamente, nem sequer fazem parte do top 10 europeu e global, concluiu o “MMB People Risk Report 2022”, da Mercer. Motivo? “Necessidades expostas pela crise pandémica ainda (estão) no topo das preocupações das empresas portuguesas”, aponta Paulo Fradinho, business leader da Mercer Marsh Benefits Portugal, à Pessoas.
“O risco que ocupa o primeiro lugar no ranking de prioridades em Portugal está perfeitamente alinhado com os resultados globais e europeus. Efetivamente, as restantes posições não refletem a mesma ordem de prioridades mencionadas internacionalmente. Listamos em segunda posição as práticas legais, de compliance e financeiras e na quinta posição a saúde mental, e ambas não são mencionadas no top 10 europeu e global. Damos mais destaque à obsolescência da tecnologia de RH (quarta posição) e aos riscos associados às políticas de compensação e benefícios (terceira posição) do que os restantes mercados europeu e global“, comenta Paulo Fradinho.
“Inversamente, o risco associado às mudanças da natureza do trabalho, muito destacado globalmente e na Europa, não faz parte do top 10 nacional e damos menor destaque aos riscos relacionados com administração e sistema fiduciário (10.ª posição)”, continua.
Empresas desatentas às mudanças da natureza do trabalho são “fonte de preocupação”
Entre as principais razões para interpretar este desalinhamento estão a “falta de cobertura do tratamento de condições relacionadas com a saúde mental e a falta de recursos do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”. “Estas podem ser algumas das causas que fazem com que as necessidades expostas pela crise pandémica ainda estejam no topo das preocupações das empresas portuguesas”, sugere Paulo Fradinho.
“Por outro lado, a menor gravidade assignada pelas nossas empresas aos riscos associados às mudanças da natureza do trabalho pode ter uma leitura dupla. Por parte das empresas que já estabeleceram ou estão a estabelecer bases sólidas de trabalho flexível e remoto, conciliador do work-life balance, e possuem a estrutura tecnológica para o fazer, o risco estará devidamente identificado e mitigado.”
Haverá também casos de empresas que acreditam ser possível regressar completamente à forma de trabalhar preponderante antes da pandemia, desvalorizando as mudanças introduzidas pela crise pandémica. Estas empresas são fonte de preocupação para nós, porque estão a colocar em risco a viabilidade e a sustentabilidade dos seus modelos de negócio, nomeadamente poderão enfrentar dificuldades crescentes na atração e retenção de talento chave.
Mas há outra leitura possível: “a que nos preocupa”, adianta o responsável. “Haverá também casos de empresas que acreditam ser possível regressar completamente à forma de trabalhar preponderante antes da pandemia, desvalorizando as mudanças introduzidas pela crise pandémica. Estas empresas são fonte de preocupação para nós, porque estão a colocar em risco a viabilidade e a sustentabilidade dos seus modelos de negócio, nomeadamente poderão enfrentar dificuldades crescentes na atração e retenção de talento chave.”
Saúde mental. O grande desafio de 2023?
Entre os gestores de RH nacionais, a saúde mental é o quinto principal perigo para as pessoas. Quase 70% das empresas portuguesas afirmam estar a tomar medidas para lidar com a exaustão das suas equipas, quatro em cada cinco empresas consideram que os riscos associados à saúde & segurança têm um grande impacto no seu negócio e uma em cada duas empresas planeia investir na otimização dos custos dos benefícios de bem-estar e na saúde e bem-estar dos colaboradores nos próximos dois anos.
“Estes dados, de 2022, dizem-nos que a saúde e o bem-estar dos colaboradores já foram identificados como um grande desafio em 2020, 2021 e continua a sê-lo em 2022. Não é uma perspetiva que tenha um prazo para ser solucionado. É um reflexo de conclusões que as empresas já integraram na sua estratégia global: a saúde e resiliência dos seus negócios passa pela saúde e resiliência das suas pessoas.”
“Este princípio foi válido durante a pandemia e continuará a ser válido perante os futuros desafios que as empresas tiverem de enfrentar, em 2023 e nos anos posteriores. Podemos afirmar que o bem-estar das pessoas é uma vantagem competitiva da organização”, comenta.
Por outro lado, as lideranças das empresas estão, normalmente, mais expostas ao escrutínio interno e externo e é sobre elas que pesa a responsabilidade de identificar corretamente os riscos e desenvolver estratégias e planos de ação integrais para os transformar em oportunidades. “São muito sensíveis especialmente aos problemas reputacionais que podem surgir quando um risco não é devidamente ponderado, nem nenhuma resposta proativa é preparada”, afirma Paulo Fradinho.
“Sabemos que um em cada dois managers de topo identificou os riscos relacionados com as práticas de talento como tendo um alto impacto no negócio. Neste caso, vendo o copo meio-vazio, ainda há muito trabalho a fazer para alicerçar a importância do bem-estar e engagement dos colaboradores como um princípio básico para a sustentabilidade do negócio.”
Top 5 dos riscos identificados pelos gestores de RH nacionais
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1.º Cibersegurança e privacidade dos dados
No que concerne a este risco, a liderança de topo reconhece que os cibercrimes, cada vez mais sofisticados e frequentes, têm empurrado esta ameaça para o topo da agenda das lideranças executivas. 77% das empresas portuguesas dizem que estão atualmente a abordar o risco da cibersegurança e da privacidade dos dados e 78% admitem que têm papéis e responsabilidades claras para gerir a exposição a estas ameaças. Contudo, apenas 37% têm atualmente em vigor políticas eficazes de cibersegurança, programas e sistemas de apoio, tais como autenticação multi-fator, formação e gestão de fornecedores e encriptação de dados. Em contraste, 44% das empresas a nível mundial e 41% em toda a Europa dizem ter estes sistemas.
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2.º Práticas legais, de compliance e financeiras
A falta de práticas e investimentos financeiros responsáveis aumenta o risco de atividades fraudulentas e perdas financeiras. Os resultados do estudo da Mercer indicam que 78% das empresas portuguesas dizem que já estão a gerir este risco, em comparação com apenas 68% das empresas a nível mundial e em toda a Europa. Além disso, 69% das organizações em Portugal afirmaram que têm papéis e responsabilidades claras na gestão de ameaças legais e financeiras.
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3.º Tomada de decisão e transparência nas políticas de benefícios e remuneração
A incapacidade de gerir programas de benefícios ou fundos de investimento de forma precisa, justa e de acordo com as promessas feitas pode resultar em erros dispendiosos e obrigações não cumpridas. “Como resultado, muitas empresas estão cada vez mais a ver a necessidade de uma política forte de tomada de decisão relativamente a benefícios, recompensas e transparência. Uma em cada duas organizações revela planear investir na otimização dos custos dos benefícios de bem-estar e saúde dos colaboradores nos próximos dois anos, bem como considerar oportunidades de externalização e simplificação da gestão”, revela o estudo “MMB People Risk Report 2022”.
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4.º: Obsolescência de tecnologia de RH
“Esta ameaça resulta numa incapacidade de tornar as atividades, benefícios e cuidados de saúde mais personalizados, convenientes e seguros. Isto pode conduzir a um subaproveitamento da experiência do colaborador, resultando, em última análise, numa maior rotatividade e perda de talento. Um terço dos gestores de RH e de risco inquiridos identificam a mudança — cultura adversa — como um desafio para atingir os objetivos de digitalização e maior flexibilização.”
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5.º: Saúde mental
72% das empresas em Portugal dizem estar atualmente a gerir o risco associado à saúde mental, em comparação com apenas 66% em toda a Europa. No entanto, apesar de estar no Top 5 dos riscos em Portugal, apenas 44% das organizações estão a planear investir na saúde mental no futuro.
Profissionais de RH e de risco em colaboração
De modo a mitigar os riscos identificados, a Mercer sugere a colaboração entre os profissionais de RH e os de risco. “As organizações e os colaboradores desenvolvem as suas atividades num determinado macro contexto, que lhes apresenta continuamente riscos e oportunidades. A pandemia e a guerra na Ucrânia são exemplos de macro eventos que afetaram todos os agentes do mercado e a que todas as organizações tiveram de responder”, recorda o business leader da Mercer Marsh Benefits Portugal.
“Ao coordenar as suas estratégias de resposta com equipas de gestão de risco e equipas de gestão de pessoas, as organizações estão a assegurar que o foco das suas ações cairá tanto na proteção do negócio como na proteção do talento, promovendo assim o ciclo virtuoso que permite criar e manter negócios verdadeiramente sustentáveis”, continua.
Ao coordenar as suas estratégias de resposta com equipas de gestão de risco e equipas de gestão de pessoas, as organizações estão a assegurar que o foco das suas ações cairá tanto na proteção do negócio como na proteção do talento, promovendo assim o ciclo virtuoso que permite criar e manter negócios verdadeiramente sustentáveis.
As sinergias daí resultantes podem também ajudar as empresas a deixarem de ser “meramente reativas” aos acontecimentos para passarem a ser “proativas”, podendo ter alguma margem de antecipação de riscos eventuais e futuros para o negócio e mantendo, ao mesmo tempo, altas taxas de retenção e atração de talento.
“Os riscos associados às pessoas podem ser o principal risco do negócio, por esse motivo acreditamos que as empresas devem repensar o equilíbrio entre os aspetos económicos e a empatia pelas pessoas”, conclui o responsável.
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