O que é a inflação? E um ICO? Pequenos empresários passam no teste, mas não tiveram 100%
Cerca de 15% dos pequenos empresários não sabia que alta inflação significa um aumento acelerado do custo de vida. Apenas 6% sabe o que é uma oferta inicial de moeda.
Há meses que a alta inflação está na ordem do dia, mas nem todos os pequenos empresários em Portugal sabiam que isso significava um aumento acelerado do custo de vida: 15% falharam na pergunta. E ainda menos (6,3%) foram aqueles que indicaram saber o que é uma oferta inicial de moedas (ICO, na sigla em inglês), que ganhou grande notoriedade nos últimos anos com a ascensão da Bitcoin e outras criptomoedas e através da qual as empresas podem obter fundos através do lançamento de uma moeda digital.
Ainda assim, o 1.º Inquérito à Literacia Financeira dos proprietários e gestores de micro e pequenas empresas deu nota positiva a Portugal isto quando comparado com outros 13 países da OCDE.
O exame do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, que junta o Banco de Portugal, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e a Autoridade de Supervisão dos Seguros, procurou fazer uma análise profunda aos conhecimentos financeiros de uma grande porção do tecido empresarial do país: em 2020, as micro e pequenas empresas representavam cerca de 98% do número de empresas, empregando 52% dos trabalhadores.
De acordo com os resultados do inquérito a mais de 1.500 pequenos empresários, quase metade (49,8%) nunca recebeu formação em gestão financeira da empresa, nomeadamente através de um curso específico ou de formação na área.
Apesar da falta de formação, eles fazem-se valer da elevada experiência na gestão de empresas: mais de 70% referiram que já têm uma empresa há mais de dez anos. E também é provável que tenham aprendido alguma coisa com os seus progenitores, com metade dos empresários a dizerem que pelo menos um dos seus pais é ou foi também proprietário de uma empresa.
Isto pode ajudar a explicar os resultados globalmente satisfatórios quando os seus conhecimentos financeiros foram testados.
Por exemplo, à questão “Inflação alta significa que o custo de vida aumenta rapidamente”, 85,3% dos inquiridos respondeu acertadamente – há que ter em conta que o inquérito foi realizado entre julho e agosto do ano passado e se fosse agora, com quase todo o mundo a sentir a pressão da subida dos preços, provavelmente mais empresários acertariam na pergunta.
A taxa de sucesso foi mais baixa noutras perguntas como:
- Se um investimento financeiro der à empresa a possibilidade de ganhar muito dinheiro é provável que exista igualmente a possibilidade de perder muito dinheiro: 74,6% respondeu corretamente.
- Normalmente, um empréstimo a 15 anos exige prestações mais elevadas do que um empréstimo a 30 anos do mesmo montante, mas o total de juros pagos será inferior: 74,4% acertou.
- Quando uma empresa obtém capital próprio de um investidor, este fica com uma fração da propriedade da empresa: 61,7% respondeu bem.
Empréstimos e cartão de crédito populares. ICO: o quê?
No que diz respeito aos produtos financeiros, o empréstimo bancário (95,3%), cartão de crédito (92%) e leasing (88,5%) são os mais conhecidos pelos pequenos empresários.
E os mais usados também: o cartão de crédito era usado por 46,7% das empresas, 45% tinham empréstimos bancários, com o seguro de responsabilidade civil a ser o produto mais contratado pelas empresas (49,2%) – isto para lá das contas à ordem ou a prazo (98,5%).
Por outro lado, apenas 6,3% sabe o que é uma ICO e 22% sabe o que são obrigações ou empréstimos sustentáveis, refletindo os parcos conhecimentos dos pequenos empresários em relação ao mercado de capitais.
Mais reduzida é a percentagem das empresas que usam efetivamente estes instrumentos no financiamento da sua atividade: apenas 0,1% tem ICO e 0,6% obrigações ou empréstimos “verdes”.
Família, amigos e a memória ajudam na gestão
Como controlam os registos financeiros da empresa? A maioria fá-lo através de algum suporte duradouro. O formato eletrónico é o mais usual (58,4% dos empresários utilizam), mas há uma proporção considerável (32,3%) que delega essa função noutra pessoa, como o contabilista.
Mas também há quem não faça esse controlo de todo (0,3%) e quem recorra à memória para o fazer (0,7%).
Na hora de tomar decisões, a maioria (54,8%) recorre à ajuda de contabilistas externos à empresa na tomada de decisões financeiras, mas também pedem ajuda a intermediários financeiros (38,8%) e também aos familiares e amigos (37,4%). Contabilidade e impostos são os temas em que a ajuda foi solicitada com mais frequência, por 69,2% e 47,7% dos empresários.
No que toca à separação entre negócios e família, a generalidade dos empresários declarou ter contas separadas (98,5%), embora 5,1% considerem que é muito difícil fazer a gestão financeira de forma separada. Apenas 0,1% usam a mesma conta para o agregado familiar e para a empresa.
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