Mecanismo ibérico para limitar preço da luz é vantajoso para as empresas, diz a CIP
"A CIP está convicta de que este mecanismo [ibérico para limitar o preço do gás usado na produção da eletricidade], se bem aplicado, terá para as empresas um balanço favorável", disse Saraiva ao ECO.
A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) está convencida que o mecanismo ibérico para a limitação do preço do gás destinado à produção de eletricidade “se for bem aplicado” será vantajoso para as empresas, mas critica a complexidade do mesmo e a falta de transparência no mercado da eletricidade.
“A CIP está convicta de que este mecanismo, se bem aplicado, terá para as empresas um balanço favorável, embora devido à constante subida do preço do gás natural e, nalgumas horas à fraca participação das ofertas de eletricidade renovável, a perceção deste balanço seja difícil”, disse ao ECO o presidente da confederação, António Saraiva.
A CIP está convicta de que este mecanismo, se bem aplicado, terá para as empresas um balanço favorável.
A polémica em torno dos aumentos do mecanismo ibérico para limitar o preço do gás usado para produzir eletricidade estalou quando o presidente executivo da Endesa disse, em entrevista conjunta à Antena 1 e Jornal de Negócios, que os consumidores deveriam esperar já nas faturas de julho um aumento que poderia ir até 40%. “Já nas faturas do consumo elétrico de julho, as pessoas vão ter uma desagradável surpresa e isto não tem nada a ver com as empresas elétricas, tem a ver com a repercussão e a distribuição pelos consumidores da dívida criada pela diferença entre o verdadeiro preço de mercado do gás natural e o preço que se aceita que seja considerado na produção de eletricidade”, disse Nuno Ribeiro da Silva. “Estamos a falar de qualquer coisa na ordem dos 40%, ou mais, relativamente ao pagamento do mês anterior“, precisou.
O Governo acusou Nuno Ribeiro da Silva de ser alarmista e de as suas afirmações “não corresponderem à verdade”, porque “os preços com o mecanismo serão sempre mais baixos do que sem ele”, disse o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, que agora, por despacho do primeiro-ministro vai passar a validar previamente as faturas da Endesa a serviços e entidades do Estado.
Para demonstrar que o mecanismo de facto ajuda a mitigar o impacto da subida dos preços do gás nos mercados internacionais, no domingo, dia em que foi emitido o primeiro comunicado em reação às declarações de Nuno Ribeiro da Silva, o preço médio no MIBEL era de 114,14 euros por MWh a que acresciam mais 84,94 euro por MWh do ajustamento, o que resulta num preço total de 199,08 €/MWh. Mas se o mecanismo de ajustamento não estivesse em vigor o valor seria de 253,16 €/MWh. Ou seja, este “travão” traduziu-se numa redução de 54,08 €/MWh, que corresponde a uma poupança de cerca de 21%, explicou o Executivo.
Além disso, “os preços de Portugal e Espanha têm sido consistentemente abaixo de países como França ou Itália”, acrescentava o comunicado citando dados de domingo: “Nos mercados francês e italiano estão a praticar-se preços de 319,51 €/MWh e 385,71 €/MWh, respetivamente”. Uma diferença de preços que pode ser explicada pela introdução a 15 de julho do mecanismo ibérico, mas também porque a maior incorporação de energias renováveis na formação dos preços da eletricidade é maior em Portugal.
António Saraiva confirma que “os aumentos dos preços da eletricidade contidos nas propostas de fornecimento às empresas são uma realidade desde o último trimestre de 2021, a qual se manteve ao longo do primeiro semestre de 2022”. E se o mecanismo ibérico até pode ter “um balanço favorável”, o patrão dos patrões aponta que “veio introduzir, de facto, maior complexidade a este mercado já de si muito específico”.
Os aumentos dos preços da eletricidade contidos nas propostas de fornecimento às empresas são uma realidade desde o último trimestre de 2021, a qual se manteve ao longo do primeiro semestre de 2022.
Por isso, “a CIP está a envidar todos os esforços para que a informação oficial sobre o mercado da eletricidade e, em particular, sobre o mecanismo seja reforçada, a bem da transparência e de uma maior confiança dos consumidores“, explica o presidente da confederação.
António Saraiva já pediu “urgência na tomada de medidas” para preservar a competitividade das empresas em geral e dos setores mais afetados pela subida dos preços da eletricidade e do gás. À subida generalizada dos preços, nalguns casos, soma-se a escassez de certas matérias-primas, industriais e agrícolas, uma “conjuntura que teima em persistir” e que “muitas empresas em Portugal estão a suportar mal”, alertou o presidente da CIP.
O patrão dos patrões considera que “se os preços internacionais do gás natural continuarem, de modo consistente e sem previsão de redução, bem acima dos 100 euros/MWh e, por vezes, a ultrapassarem os 200 euros/MWh, os preços da eletricidade serão crescentes, com mecanismo de ajuste ou sem ele“, concluiu em declarações ao ECO.
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