Saída de empresas e sanções estão a estagnar economia russa
Um relatório da Universidade de Yale revela que a economia russa tem sido profundamente prejudicada pelas sanções e pela saída de negócios internacionais desde que Moscovo invadiu a Ucrânia.
A economia interna russa estagnou desde a invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro, revela um estudo da Universidade de Yale. Apesar de Moscovo continuar a encaixar milhares de milhões de dólares com as exportações de energia a preços elevados isso não compensa o impacto das sanções e a saída das empresas internacionais.
“Os resultados da nossa análise económica abrangente da Rússia são poderosos e indiscutíveis: não só as sanções e o recuo empresarial funcionaram, como paralisaram completamente a economia russa a todos os níveis“, afirmam os investigadores no relatório de 118 páginas, publicado pela Escola de Gestão de Yale no final de julho.
O documento, que se baseia em dados em grande parte não publicados, argumenta que a produção interna russa chegou a um impasse total sem capacidade para substituir os negócios, produtos e talentos perdidos. Mesmo que a Rússia seja capaz de ganhar mais dinheiro nas exportações de gás e petróleo, isso não compensou o impacto das sanções implementadas pelos EUA, União Europeia (UE) e aliados.
Segundo as conclusões dos investigadores, a dependência de Moscovo em relação à Europa, responsável pela compra de 83% das exportações de energia russas, deixa o país sob uma maior ameaça a médio prazo. “A Rússia está muito mais dependente da Europa do que a Europa está da Rússia“, afirmam.
As receitas russas com o setor da energia, aliás, têm vindo a diminuir nos últimos três meses. De acordo com o relatório, se a Europa Ocidental conseguir isolar-se do gás natural russo, Moscovo enfrenta uma situação “insolúvel” com a falta de um mercado para a sua produção. “Qualquer diminuição das receitas do petróleo e do gás ou dos volumes de exportação de petróleo e gás iria imediatamente colocar uma pressão sobre o orçamento do Kremlin”, aponta.
Por isso, defende que é falsa a narrativa do Kremlin de que as sanções contra a Rússia se transformaram numa “guerra de desgaste económico que está a ter o seu preço no Ocidente”, dada a suposta “resiliência” e mesmo “prosperidade” da economia russa. “É simplesmente falso – e um reflexo de mal-entendidos amplamente difundidos mas factualmente incorretos sobre a forma como a economia russa está de facto a aguentar-se face à saída de mais de 1.000 empresas mundiais e das sanções internacionais”, que terão impactado até cinco milhões de postos de trabalho, lê-se.
Entre os principais desafios que a Rússia enfrenta, o relatório destaca também a “escassez generalizada da oferta na sua economia interna“, devido à dificuldade para assegurar peças e tecnologia cruciais de “parceiros comerciais hesitantes”, considerando que “as importações russas entraram em colapso”.
As vendas a retalho e os gastos dos consumidores russos caíram 15% a 20% em termos anuais, segundo o relatório, que aponta como exemplo chave o setor automóvel. As vendas de automóveis passaram de 100.000 por mês para 27.000 por mês, e a produção estagnou devido à falta de peças e maquinaria. Sem acesso a componentes importados, os produtores russos estão a fabricar carros sem airbags ou travões modernos antibloqueio, usando apenas com transmissões manuais.
Para o relatório, Jeffrey Sonnenfeld, presidente do Instituto de Liderança Executiva de Yale, e os restantes académicos obtiveram dados não divulgados por especialistas sobre a economia russa e estatísticas em outras línguas que apoiaram as suas conclusões.
Tendo Moscovo parado ou reduzido a publicação de estatísticas económicas oficiais, incluindo números comerciais cruciais, o grupo de Sonnenfeld explorou dados na posse de empresas, bancos, consultores, parceiros comerciais russos e outros para construir uma imagem do desempenho económico russo.
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