Municípios da serra da Estrela exigem estado de calamidade
Seis municípios pedem ainda o "apoio urgente e imediato ao setor agrícola, pecuário e à exploração florestal”. Governo agenda reunião com os autarcas na próxima segunda-feira.
Os seis municípios abrangidos pelo Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) exigiram esta quinta-feira que seja decretado “estado de calamidade”, devido ao incêndio que atinge a região, e apoios imediatos para colmatar prejuízos de “centenas de milhões de euros”.
“Defendemos decretar com efeitos imediatos o estado de calamidade para toda a área do Parque Natural da Serra da Estrela e a elaboração de um plano de revitalização deste nosso parque”, exigiu o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, após uma reunião conjunta com autarcas da Covilhã, Celorico da Beira, Gouveia, Seia e Manteigas.
A serra da Estrela está a ser afetada por um incêndio que deflagrou no dia 6 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e foi dado como dominado no sábado, dia 13, mas sofreu uma reativação na segunda-feira. Foi considerado novamente dominado na quarta-feira à noite. As chamas estenderam-se ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingiram ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.
Sérgio Costa, que falava aos jornalistas em nome dos seis municípios abrangidos pelo PNSE, após uma reunião conjunta nos Paços do Concelho de Manteigas, disse que aquele plano de revitalização terá de ser “ao nível do reordenamento florestal, da paisagem, ao nível hídrico e turístico”.
“O apoio urgente e imediato ao setor agrícola, pecuário e à exploração florestal” são outras exigências dos autarcas que, tendo em conta a contabilidade feita na reunião desta quinta, apontaram um prejuízo na ordem das “centenas de milhões de euros”.
“Se contabilizarmos toda a área ardida, toda a floresta destruída em todo este nosso parque natural, as habitações que arderam, as explorações animais, a alimentação para os animais, seja o pasto, sejam os armazéns agrícolas, a alimentação que estava armazenada”, justificou.
No entender do porta-voz, “há medidas que devem ser implementadas no curto prazo, no imediato”, tal como “o estado de calamidade, que tem de ser de imediato [decretado], porque só faz sentido quando está a desgraça” a acontecer. Sérgio Costa defendeu que este incêndio “é uma verdadeira tragédia para a região e para o Parque Natural da Serra da Estrela”.
“O tratamento prioritário das bacias hidrográficas do [rio] Zêzere e do [rio] Mondego, evitando que toda a bacia do vale do Tejo e do baixo Mondego, de onde se extrai muita água para abastecimento de milhões de pessoas, sejam afetadas pela contaminação da água”, é outra medida exigida.
O autarca explicou que as águas poderão ser afetadas “em virtude da erosão e da contaminação dos solos e das linhas de água” que “chegam aos grandes centros do país”, abastecidos através de Castelo de Bode e Aguieira. “Pode imaginar-se o prejuízo que isto tudo pode acarretar de uma forma indireta”, apontou Sérgio Costa, lembrando que a Barragem de Castelo de Bode se situa em Tomar, distrito de Santarém, e a da Aguieira em Mortágua, no distrito de Viseu.
Os autarcas exigem ainda “a aprovação de medidas de curto prazo para a estabilização de emergência dos solos e das encostas afetadas pelo incêndio e a recuperação das infraestruturas viárias e outras, designadamente telecomunicações e abastecimento de água”.
Quanto à área afetada pelo incêndio, o autarca disse que são os organismos do Governo que estão a contabilizar, mas apontou para “mais de 20 mil hectares”, desejando que este número não aumente, tendo em conta a previsão de subida das temperaturas nos próximos dias. Os autarcas aguardam que “o incêndio seja dado como extinto para que a tal comissão independente, com a presença dos municípios, faça a investigação do que correu menos bem nesta matéria”.
“Que vigiem muito bem os tais pontos quentes, que sejam imediatamente extintos quando necessário, mas naturalmente também aqueles outros pontos que não são quentes, são frios, mas que alguém acha por bem torná-los quentes à custa do fogo”, pediu.
Na reunião estiveram os presidentes das câmaras de Covilhã, Guarda, Manteigas e Celorico da Beira, o vice-presidente da Câmara de Gouveia e o vereador do Ambiente da Câmara de Seia, o único dos seis municípios não atingido pelo fogo.
Governo vai reunir-se com autarcas de concelhos mais afetados por fogo na serra da Estrela
O Governo vai reunir-se na segunda-feira com os presidentes de câmara dos cinco concelhos mais afetados pelo incêndio da serra da Estrela, com o objetivo de aferir os prejuízos causados e “estabelecer as medidas necessárias de apoio”.
De acordo com informação transmitida à agência Lusa por fonte do gabinete da ministra da Presidência, esta reunião, na qual estarão presentes vários ministros, vai acontecer na segunda-feira de manhã, pelas 10:00, em Manteigas (distrito da Guarda).
O executivo vai reunir-se “com os autarcas dos municípios do Parque Natural da Serra da Estrela mais afetados pelos incêndios”, nomeadamente Covilhã, Guarda, Manteigas, Celorico da Beira e Gouveia, “para avaliar as necessidades e respostas integradas para estes concelhos” na sequência do incêndio que lavra naquela região.
“Esta reunião visa aferir os danos e prejuízos causados por aquele que foi o maior incêndio florestal ocorrido este ano no país, de forma a estabelecer as medidas necessárias de apoio às famílias, às empresas e à reabilitação das zonas afetadas, nomeadamente do Parque Natural da Serra da Estrela”, referiu a mesma fonte.
Pelo Governo, estarão presentes a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa e a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes.
(atualizado às 21h30 com o agendamento da reunião)
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