O que tem de acontecer para a Zona Euro entrar em recessão, segundo o BCE

O cenário base do banco central aponta para uma estagnação da atividade na Zona Euro entre o final deste ano e os primeiros meses do próximo. Mas já há um guião para o que levará o PIB a cair.

Um inquérito da agência Bloomberg aos economistas atribuía, em meados de agosto, uma probabilidade de 60% a uma recessão na Zona Euro no próximo ano, perante a subida da inflação e os preços muito elevados da energia. Uma visão que continua a ser disputada pelo BCE, que admite apenas uma estagnação no seu cenário central de projeções. Mas, pela primeira vez, essa hipótese surge no cenário adverso traçado pelo banco central.

Além de anunciar uma subida histórica de 75 pontos base na taxa diretora, o BCE divulgou projeções frescas para a economia da Zona Euro. As estimativas para a inflação foram revistas em alta, passando a apontar para uma taxa de inflação média de 8,1% em 2022, 5,5% em 2023 e 2,3% em 2024. Já as previsões de crescimento foram cortadas.

Os dados mais recentes apontam para um abrandamento significativo da economia da Zona Euro, com a economia a estagnar mais para o fim do ano e no primeiro trimestre de 2023″, afirmou Christine Lagarde no discurso em que anunciou as decisões de política monetária. Os novos números são 3,1% este ano, 0,9% em 2023 e 1,9% em 2024. Nenhum com sinal menos.

A presidente do BCE foi confrontada na conferência de imprensa com a dessintonia entre a perspetiva da maioria dos economistas e o aparente otimismo do banco central. A responsável apontou então para a existência de um cenário adverso nas projeções, onde se assume uma contração do PIB de 0,9% no próximo ano.

O que tem de acontecer para que isso aconteça? Um dos pressupostos assumidos é que “a guerra na Ucrânia seja muito prolongada, implicando tensões geopolíticas persistentes”. Um conflito prolongado é, de resto, o que esperam muitos observadores. Presume-se também que todos os regimes de sanções são mantidos, resultando em choques maiores e mais duradouros para a área do euro.

O aumento da incerteza resultaria num aumento substancial dos spreads dos títulos de dívida empresarial, à queda dos mercados de ações, bem como uma deterioração das condições de crédito dos bancos, tanto no mercado interno como no global.

Em relação à crise energética, o principal fator que motiva o disparo da inflação na Zona Euro, o cenário adverso pressupõe “um corte completo dos fluxos de petróleo marítimo para a área do euro e do gás russo”, algo que é já praticamente uma realidade no caso do gás, embora não se saiba por quanto tempo. Assume também que os países do bloco não conseguem fontes alternativas de abastecimento de gás e muito limitadas no caso do petróleo. Tudo isto, num contexto de um inverno particularmente rigoroso.

As consequências seriam preços da energia ainda mais elevados e racionamentos. A cotação média do gás natural seria de 360,6 euros por MWh, face a 202,3 euros este ano. O petróleo custaria em média 138,2 dólares, muito acima dos 89 dólares a que o Brent cotou na quinta-feira. O cenário adverso inclui ainda preços das matérias-primas agrícolas 24% acima do cenário base, devido a um corte de 30% nas exportações da Rússia e Ucrânia e ao impacto de custos mais altos na energia e dos fertilizantes.

O cenário adverso contabiliza ainda o impacto de um crescimento inferior do PIB mundial. “A atividade económica no resto do mundo e o comércio seriam afetados negativamente, pesando bastante na procura externa direcionada à Zona Euro”, afirma o BCE.

Neste cenário adverso, a economia cresceria menos já este ano, apenas 2,8%, e sofreria a tal contração de 0,9% em 2023, mas mantendo o crescimento de 1,9% em 2024. O rumo da inflação seria também diferente, para pior: 8,4% este ano, 6,9% em 2023 e 2,7% no ano seguinte.

Um dos temas que tem dominado as discussões dos economistas sobre a política monetária do BCE é até que ponto a quebra do PIB não acabará por refrear a subida das taxas de juro. Por ora, Christine Lagarde está claramente mais preocupada em baixar a inflação para 2% e cumprir o mandato da instituição.

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