Seguradores de Vida querem juros altos para voltarem a crescer

José Galamba de Oliveira, António Castanho e Nelson Machado explicam as razões por que a procura de seguros de Vida financeiros quebrou este ano. E por que vão voltar a subir.

José Galamba de Oliveira, presidente da APS, António Castanho da CA Vida e Nelson Machado do Grupo Ageas estão de acordo a apontar a incerteza mundial e nacional como causa para as hesitações dos clientes na subscrição de seguros de Vida financeiros.

O mercado dos seguros continua turbulento à espera de algumas definições da conjuntura mundial e do Governo, quanto a segurança social e incentivos à poupança. De acordo com os dados mais recentes publicados pela ASF, entidade reguladora, nos sete primeiros meses deste ano o mercado total atingiu os 7,2 mil milhões de euros, menos 4% que em igual período do ano passado. O segmento Não Vida cresceu 6,4%, enquanto o INE aponta para uma inflação média foi 6,5%. A explicação pode estar mais, por enquanto, no aumento do volume de negócios que na subida de preços nas tarifas aplicadas. Os seguros Vida baixaram 13% mas, enquanto os produtos Vida Risco aumentaram 8,5%, os seguros de investimento ou financeiros baixaram 21%, mais de 600 milhões de euros em apenas 7 meses.

“A queda na produção de seguros de vida financeiros, não é por falta de oferta das seguradoras, é sim, consequência direta do ambiente macroeconómico que vivemos – a grande volatilidade nos mercados, acentuada após o início da guerra na Ucrânia, bem como as expectativas de redução de rendimento disponível das famílias, está a gerar uma crise de confiança nos consumidores com impacto na tomada de risco associada a este tipo de produtos”, resume José Galamba de Oliveira, presidente da APS, associação que reúne seguradoras que representam mais de 99% no mercado nacional.

“O que se passou foi que em Abril os mercados entraram em total instabilidade culminando, em junho, com desvalorizações muito significativas das dívidas públicas, com particular relevo para a dívida italiana, obrigando o BCE a intervir no sentido de dizer ao mercado que iria atuar de forma a evitar ataques aos países Euro”, afirma António Castanho, presidente da seguradora CA Vida, que é parte do grupo que está no top 10 do mercado nacional. O gestor acrescenta que “essa instabilidade levou as seguradoras a reduzir drasticamente a comercialização dos produtos de Capitalização com particular destaque para os produtos que não sejam unit linked. Mas, mesmo estes, deixaram de ser promovidos para proteção dos clientes”.

Nelson Machado, administrador especializado na área Vida do Grupo Ageas Portugal – o 2º maior em Portugal -, refere que “o fator principal é a evolução em quebras dos mercados, alavancada pela incerteza provocada pela guerra da Ucrânia nos mercados energéticos e de matérias primas, fazendo com que as expectativas de recuperação ainda estejam muito enevoadas e dai não haver apetência para comprar os produtos que as Seguradoras preferem vender”, conclui.

Foi em abril deste ano que a queda se começou a fazer presente. “Em março isso não se notou muito porque um dos grandes players lançou um produto Unit Link Fechado de grande montante porque senão já esse mês teria sido em queda” explica Nelson Machado que lembra questões mais de fundo que travam o desenvolvimento dos seguros financeiros: “como quase sempre não há uma só razão, a atual incerteza associada ao impacto dos produtos de capital garantido na solvência e capital das seguradoras e a inexistência de vantagens fiscais nos produtos de poupança têm, de certeza, algum peso nesta tendência”, conclui.

Retoma previsível depois de FED e BCE terem definido política de taxas de juro

Ultrapassar este mau momento dos seguros de Vida financeiros parece estar mais próximo agora. António Castanho adianta que o cenário “poderá melhorar atendendo a que tanto a Reserva Americana como o BCE – este último foi muito renitente – já assumiram claramente que a política de taxas de juro tem por prioridade o controlo da inflação e que estas no seu limite inferior se manterão nos atuais níveis mesmo com uma eventual recessão no horizonte”.

Na opinião do presidente da CA Vida, “esta estabilidade permitirá no futuro próximo suporte para a atividade seguradora retomar o ritmo de crescimento do 1º Trimestre.

António Castanho nota que as famílias nesta fase estão a absorver os aumentos da energia e dos produtos alimentares. “Penso que o rendimento disponível vai reduzir drasticamente para muitas famílias culminando numa incapacidade para investir no seu futuro, designadamente na sua poupança e/ou reforma”. Contudo, acrescenta “este impacto estará atenuado pelos atuais níveis de poupança em depósitos bancários, os quais têm crescido sempre nos últimos anos, com particular relevo para o ano de 2020 e 2021”.

Captar as famílias para produtos Vida investimento poderá tornar-se mais eficaz. “Será previsível que muitos destes depósitos, atendendo ao facto de que não existe atualmente qualquer movimento no sentido de os bancos aumentarem as taxas de juro passivas, possam vir a ser convertidos em produtos de capitalização das seguradoras, dos quais se espera rentabilidades algo superiores e com risco diminuto”, conclui António Castanho.

Seguros Não Vida em linha com a inflação, já não com o PIB

Ao fim de sete meses deste ano, o conjunto dos ramos Não Vida está a evoluir mais com a inflação que com o PIB, como era habitual. Segundo dados da APS, que também divulgou números e que são geralmente muito semelhantes aos da ASF, houve um aumento de 6,1% em Não Vida o que significa uma queda de 0,4% se ajustado pelo valor da inflação média de 6,5% dos meses de 2022. No total de janeiro a julho os ramos Não Vida atingiram prémios de 3,7 mil milhões de euros.

A Saúde continua a ser o ramo que mais cresce, 11% relativamente a igual período de 2021, Automóvel que continua a ser o maior em volume cresceu apenas 2,2% enquanto Incêndio e outros riscos – que inclui coberturas multirriscos – subiu 6,4%, Acidentes de Trabalho também cresceu mas 5,7% enquanto Responsabilidade Civil atingiu 121 milhões de euros em sete meses, um valor 6,6% superior ao ano passado.

O conjunto de todos os outros ramos Não Vida atingiu 371 milhões, um valor 13% acima do ano passado.

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