Para “quebrar ecrãs, criar laços” entre equipas e atrair os 2.000 funcionários a ir ao escritório, a francesa Natixis criou espaços de trabalho com arquitetura, sons, odores e sabores de 12 cidades.
Etienne Huret trocou a Índia por Portugal em junho de 2020, numa fase ainda inicial da pandemia de Covid-19 e quando o hub de inovação da francesa Natixis tinha “apenas” 800 colaboradores. Volvidos pouco mais de dois anos, a operação no Porto está prestes a chegar às 2.000 e “muitas pessoas não passaram aqui nenhum dia connosco”, desabafa o gestor. Com a operação em crescimento — e já depois de acrescentar um piso “mais clássico” às instalações inauguradas em 2017 –, decidiu avançar com um conceito inovador de espaços de trabalho, designado de “Villages”, para “atrair as pessoas de uma forma diferente”. “Para quebrar as paredes e os ecrãs, para responder à necessidade de criar laços”, frisa o managing director, em declarações ao ECO/Pessoas.
Dividido por dois pisos e um total superior a 3.800 metros quadrados, este projeto recria 12 cidades de quatro continentes – Manaus, Santiago, Dakar, Paris, Porto, Mascate, Cidade do México, Xangai, Tóquio, Londres, Bangalore e Brooklyn – dentro da sede da empresa e tem capacidade para 200 pessoas. Sem revelar o investimento, mas admitindo ter um custo de construção 15% superior ao de um espaço tradicional, o responsável explica que estas “Villages” devem ser requisitadas pelas diferentes equipas. A ideia é que cada uma delas possa usufruir desta experiência, pelo menos, uma vez por mês, fazendo assim com que ao final de um ano tenha completado esta “volta ao mundo”.
Desenvolvidas com o apoio da Tétris, empresa de arquitetura e construção subsidiária da JLL, as “Villages” começaram a ser idealizadas há dois anos. As primeiras seis estão a ser utilizadas desde julho; as restantes ficam prontas em outubro. Equipadas com tecnologia que promete ajudar a otimizar o trabalho colaborativo e contribuir para maior agilidade e eficiência, cada uma delas está dividida em três zonas principais: espaços de trabalho individuais (workstations); espaços abertos e fechados para atividades de colaboração que necessitam de privacidade visual e acústica (meeting rooms); e locais de cowork, para tarefas de colaboração e reuniões informais, que incluem cabines insonorizadas, zonas de silêncio, livraria, cozinha ou uma área lounge.
Além de estarem decorados com os elementos arquitetónicos característicos de cada uma destas 12 cidades, os espaços combinam ainda diferentes sons, odores e sabores. Por exemplo, na “Village” de Tóquio haverá um bar de sushi e na de Paris uma boulangerie com bolos frescos ou a transmissão em direto do céu da capital francesa; em Manaus sente-se a densidade da floresta e ouvem-se os ruídos dos animais; em Mascate há uma duna macia a fazer de anfiteatro e onde pode saborear um chá local; e no espaço alusivo ao Porto não faltam a recriação das caves, o aroma do vinho português mais conhecido em todo o mundo, os socalcos em xisto do Douro ou um barco rabelo em estaleiro.
O objetivo, quando se aluga uma destas Villages, é que toda a equipa esteja junta. Por outro lado, nestes espaços há uma atitude diferente e podemos ser mais disruptivos. Temos esta coisa obsessiva por acelerar e melhorar os processos, que é o valor acrescentado da companhia em Portugal.
“O objetivo, quando se aluga uma destas ‘Villages’, é que toda a equipa esteja junta e tenha a possibilidade de passar um tempo em conjunto, num ambiente muito confortável. E é mesmo necessário porque muitas pessoas estão sozinhas em casa e não dizem que precisam de ajuda e de sentir empatia. Por outro lado, nestes espaços há uma atitude diferente e podemos ser mais disruptivos, alterar as maneiras de pensar. Temos esta coisa obsessiva por acelerar e melhorar os processos, que é o valor acrescentado da nossa companhia em Portugal”, resume Etienne Huret. A empresa definiu um modelo de trabalho híbrido, que implica, no mínimo, a presença de oito dias por mês no escritório, pelo menos uma vez por semana.
Estas ‘Villages’ contam com 50 embaixadores, que são colaboradores responsáveis por apresentar o conceito aos colegas e dar feedback à equipa de gestão do espaço, para garantir uma dinâmica de melhoria contínua. Para assegurar uma utilização coordenada destes novos locais, a empresa criou a função de Office Experience Manager, que será desempenhada por Elodie Couto, responsável pelo planeamento e gestão eficiente, sustentável e criativa destes espaços.
“Festejar a diversidade” com 25% de estrangeiros
A Natixis em Portugal integra a área de negócio Global Financial Services, a componente global do Groupe BPCE, prestando serviços para as suas duas áreas — Corporate & Investment Banking e Asset & Wealth Management — e, de forma transversal, para as entidades do grupo financeiro que resultou da fusão do Groupe Caisse d’Épargne e do Groupe Banque Populaire. A partir do Porto, onde se instalou em 2017, está focada em soluções para o negócio, operações e cultura de trabalho do grupo em todo o mundo, e conta com profissionais nas áreas de tecnologias de informação, atividades de suporte à banca e compliance.
A Natixis ocupa o complexo de escritórios que reabilitou o antigo Central Shopping, erguido nos anos 1990 entre a Rua de Santos Pousada e a Avenida de Fernão de Magalhães e onde tem como vizinhas outras tecnológicas, como a Feedzai ou a Bouygues Telecom Services. O projeto das ‘Villages’ permitiu rasgar uma outra entrada para os escritórios, um acesso específico a esta nova área a partir do jardim interior. A nova receção é inspirada num aeroporto, com as clássicas sinaléticas pretas e amarelas e um painel de informação sobre a ocupação das salas. É também ali, junto à carcaça de uma aeronave, que ficará instalada a equipa de apoio técnico, para responder à falta ou avaria nos equipamentos eletrónicos.
Etienne Huret destacou ao ECO/Pessoas que estes novos espaços de trabalho alusivos a 12 cidades espalhadas pelo mundo são também “uma forma de festejar a diversidade” no seio da Natixis, em que 25% da força de trabalho tem nacionalidade estrangeira, num total aproximado de 400 pessoas provenientes de 31 países. Para um total aproximado de 2.000 colaboradores, a empresa passa a contar a partir de agora com quase 1.200 lugares no edifício de escritórios com 15 mil metros quadrados. Ou seja, suficientes para pouco mais de metade do total do efetivo.
“Começámos por ocupar os pisos 6 e 7. Quando cheguei à empresa, acrescentámos o piso 5 e passámos nessa altura de 650 para 1.000 lugares. E agora com estes dois novos pisos [3.º com 1.815 metros quadrados e o 4.º com 1.989 metros quadrados] passamos a ter 1.200 lugares. E estamos a pensar acrescentar mais, com uma quarta opção neste mesmo edifício. Será um novo piso, uma nova área de expansão. Estamos a acabar a negociação” adiantou o managing partner, destacando o objetivo de fazer com que uma ida ao escritório não seja apenas “a experiência de um dia de trabalho” normal.
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Natixis dá volta às “villages” do mundo para regresso ao escritório no Porto
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