Moda e tecnologia atrasam consumo mais sustentável
Deco Proteste pede que consumo descartável de artigos de moda e de tecnologia sejam "corrigidos" com urgência, apelando a que consumidores sejam mais ponderados nas suas compras.
Nos últimos cinco anos, a palavra “sustentabilidade” ganhou uma nova dimensão nas empresas: deixou de se referir apenas ao ambiente, incluindo também valores sociais e éticos, e passou a ser mais uma exigência que e uma simples preocupação. Esse conceito passou também a integrar o dia-a-dia dos consumidores, influenciando cada vez mais as decisões na altura da compra. Segundo o barómetro do Oney Bank, realizado em parceria com a Harris Interactive, em 2022, 96% dos consumidores portugueses admitiam estar particularmente atentos à sustentabilidade dos produtos.
Ainda assim, existem hábitos que para a Deco Proteste podem comprometer a transição para um estilo de vida mais equilibrado. Um deles, são as compras na indústria de fast fashion, isto é, “comprar desnecessariamente peças de roupa só porque são baratas, estão em saldos ou em promoção, mas que duram muito pouco“, seja pela baixa qualidade do material ou pela rápida alteração de tendências, explica Rita Rodrigues, diretora de Comunicação e Relações e Institucionais ao ECO/Capital Verde. Marcas como a Shein, Primark e as lojas do grupo Inditex (Zara, Bershka ou Stradivarius) são frequentemente vistas como promotoras de fast fashion.
Além disto, os equipamentos eletrónicos e elétricos (EEE), como os telemóveis ou eletrodomésticos, são substituídos muitas vezes “sem, antes, verificarmos se podem ser reparados” ou são substituídos face ao “ritmo do marketing das marcas, sem que tenham uma razão efetiva para o fazerem“, acrescenta a responsável. Ambos estes consumos são considerados pela Deco Proteste como consumo descartável, sendo por isso necessária uma “correção urgente” nos hábitos.
O alerta surgiu este domingo, dia em que a Deco Proteste assinala do Dia Nacional da Sustentabilidade (“Dia S”), considerado como uma oportunidade para se renovarem os apelos para a necessidade de serem adotados hábitos mais sustentáveis. Segundo a organização de defesa do consumidor, muitas são as pessoas que defendem comportamentos mais sustentáveis, mas ainda são poucas aquelas que os praticam, e isso verifica-se no consumo de roupa e de tecnologias, principalmente.
Se por um lado, “o consumo de têxteis tem o quarto maior impacto negativo no meio ambiente e nas alterações climáticas, e o terceiro maior para o uso da água e do solo“, por outro, os equipamentos eletrónicos e elétricos “têm impactos diretos na produção de resíduos e na extração de matérias-primas”, sendo que, dos EEE descartados por empresas e consumidores a nível europeu, “só cerca de 35% acabaram em sistemas oficiais de recolha e reciclagem”, conta Rita Rodrigues. “Os restantes 65% são exportados, reciclados em condições não conformes ou ilegais, enviados para deposição final com o lixo comum ou ficam guardados em casa dos consumidores, mesmo já não estando a ser usados”, ressalva.
“Não comprar é mais económico e sustentável”
A verdade é que a procura por alternativas sustentáveis e baratas nem sempre é fácil, nem barato. No caso dos equipamentos eletrónicos e elétricos, diz Rita Rodrigues, pode mesmo chegar a “implicar algum custo inicial mais elevado”, caso procuremos por opções energicamente mais eficientes e duradouros. “No entanto, e considerando o tempo de vida dos produtos, estes acabam por se tornar mais económicos, pelo que, na realidade, ser mais sustentável não é necessariamente “mais caro”, argumenta. No caso dos têxteis, caso as marcas mais ecológicas fujam ao orçamento, pode sempre considerar a venda de roupa em segunda mão.
Mas em todo o caso, “é importante que um consumidor, antes de comprar um produto novo, pense se realmente necessita dele ou se lhe dará muito uso. Na realidade, o “não comprar” é sempre a solução mais económica e sustentável“, realça a responsável. A estratégia deve passar, por isso, por “não ceder à pressão do marketing das marcas e da compra da novidade pela novidade” e procurar “prolongar o tempo de utilização dos equipamentos, avaliar a sua reparabilidade e, quando necessário, equacionar a compra de um recondicionado ou em segunda mão”.
Segundo um estudo recente da Deco Proteste com as congéneres em Espanha, Itália e Bélgica, se uma peça de vestuário for reutilizada por mais 50% da vida útil original, sem exigir nenhum arranjo, pode melhorar o seu desempenho ambiental entre 9% e 30% em média (para as categorias ambientais mais importantes). Deve-se, também, reduzir a temperatura de lavagem da roupa, que tem efeito na duração do ciclo da máquina, ajudando na redução do consumo de eletricidade e de água.
Agentes políticos também têm responsabilidades
A responsabilidade de serem adotadas mudanças nos hábitos de consumo não está, contudo, concentrada apenas no consumidor. Para a diretora de Comunicação e Relações e Institucionais da entidade, “a mudança tem de partir de todas as partes”, ressalvando que “os agentes políticos e económicos têm um papel fundamental na mudança de políticas, produtos e dos seus processos produtivos“.
Um exemplo disso, recorda Rita Rodrigues, foi o Plano de Ação para a Economia Circular de 2020, apresentado pela Comissão Europeia, que identificou os têxteis como uma cadeia de valor do produto chave e definiu uma estratégia para o setor se tornar mais sustentável. Em Portugal, está definida a meta de janeiro de 2025 para estabelecer a recolha seletiva de têxteis a nível nacional.
Outro exemplo, a nível dos equipamentos elétricos e eletrónicos, foi a aprovação da mais recente diretiva do executivo comunitário e que obriga a criação de uma porta de carregamento comum, o modelo USB-C, para telemóveis, tablets e headphones, independentemente da marca. De acordo com a Comissão Europeia, estas novas obrigações irão resultar numa maior reutilização de carregadores e ajudarão os consumidores a economizar até 250 milhões de euros por ano em compras desnecessárias de carregadores. Por cá, a Deco Proteste apela a que as entidades gestoras de resíduos de EEE melhorem o serviço de troca do velho por novo, e transformem esta recolha mais capilar, ou seja, “fazer a recolha cada vez mais próximo da origem”.
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