Mais de 40% dos seniores portugueses dá dinheiro aos filhos todos os meses

Desperdiçada no emprego e ávida de viagens, a população com mais de 55 anos é “rede de apoio" vital para os mais jovens, mas teme perder qualidade de vida com subida de preços na habitação e energia.

Mais de metade dos agregados familiares seniores em Portugal (55,3%) tem duas fontes de rendimento mensal – e em 13,4% dos casos até mais do que isso –, sendo que esta população composta por pessoas com mais de 55 anos de idade constitui “uma rede de apoio para aqueles que lhes são mais próximos”.

De acordo com o Barómetro do Consumidor Sénior em Portugal, a que o ECO teve acesso, 53% dos seniores portugueses ajuda economicamente algum membro da sua família ou do círculo próximo. Sobretudo os filhos (42%), enquanto o restante auxílio é prestado a outros familiares ou amigos. Os resultados deste inquérito mostram que 74% dessas ajudas são mensais e que um em cada três beneficiários depende mesmo delas para sobreviver.

Realizado pelo Centro de Investigación Ageingnomics, que foi criado há cerca de dois anos pela Fundação Mapfre, este que é apresentado como o primeiro estudo a medir as prioridades e os padrões de consumo dos portugueses com mais de 55 anos, aponta que quase metade dos inquiridos (48,8%) consegue poupar ao final do mês. Entre os que têm capacidade de o fazer, a maioria (78%) diz poupar menos de 30% dos rendimentos.

Se surgisse uma “despesa imprevista e inevitável” no valor de 1.000 euros no agregado familiar, 50% teria de recorrer a poupanças e 23% admite que não a conseguiria suportar. Sem dinheiro, quase metade pediria emprestado a um familiar ou amigo, 22% recorreria ao cartão de crédito e 27% a um empréstimo bancário – uma opção que adquire maios importância à medida que o montante aumenta.

Previsão da evolução das despesas em 2023

Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis; alimentação e bebidas não alcoólicas; e saúde. São estas as três áreas em que é percecionada uma maior despesa, seguidas das comunicações e dos transportes/mobilidade. É também com a casa e com a energia que mais preveem gastar no próximo ano, sendo estas as rubricas que, “tendo em conta os preços atuais, mais põem em risco a qualidade de vida” destas pessoas. Por outro lado, as despesas mais sacrificadas em 2023 serão nas áreas do ensino / educação, bebidas alcoólicas e tabaco, tecnologia e lazer.

Como crê que será a sua situação económica a partir de agora? 54% acredita que será igual ou melhor do que a atual. Menos divididos e mais preocupados estão os 1.100 inquiridos em agosto quanto ao atual sistema de pensões. Dois em cada três (65%) sentem que “está em risco em relação ao futuro” e há ainda 20% que não sabe responder a isso. São os mais jovens entre os mais velhos (faixa dos 55 – 60 anos) os que mais desconfiam da sustentabilidade da Segurança Social, com a percentagem a chegar aos 75%. Com que idade começaram a planear a reforma? 36% fê-lo antes dos 45 anos, enquanto 16% esperou até depois dos 60 – e percentagem semelhante assume que ainda não o fez.

Esta geração goza de boa saúde física e económica. Portugal está nas melhores condições para beneficiar da silver economy, um novo vetor económico que pode contribuir para o país com novos empregos e produção de riqueza.

Economia Prateada - Barómetro do Consumidor Sénior em Portugal

“A maioria dos seniores portugueses poupa todos os meses, é capaz de assumir despesas imprevistas e permitir-se ajudar pessoas próximas, geralmente os seus filhos. (…) Esta geração goza também de boa saúde física e económica, de acordo com os dados disponíveis e as conclusões deste barómetro. Assim sendo, Portugal está nas melhores condições para beneficiar da silver economy (economia prateada), um novo vetor económico que pode contribuir para o país com novos empregos e produção de riqueza”, lê-se nas conclusões deste estudo.

Do talento desaproveitado à vontade de viajar

Em Portugal, onde a esperança média de vida quase toca nos 81 anos, há 3,87 milhões de pessoas com mais de 55 anos, o que corresponde a 37% da população portuguesa. Mais de sete em cada dez possuem casa própria (em 52% dos casos já está paga), enquanto 18% arrenda a preço de mercado – uma percentagem que aumenta à medida que as pessoas envelhecem. A esmagadora maioria (71%) diz já não ter intenção de mudar de residência. E aceitaria viver num lar de idosos? Quase metade (47,3%) ainda não decidiu e 23% responde que não.

O estudo com o título “Economia Prateada” será apresentado esta manhã num hotel de Lisboa, num evento em que participam o CEO da Mapfre Portugal, Luís Anula, o secretário de Estado do Tesouro, João Nuno Mendes, ou José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS). Comprova que os portugueses com mais de 55 anos não deixaram de viajar com a pandemia (73% saiu durante dois ou mais dias em lazer nesse período) e que em 2023 tencionam fazê-lo com maior frequência (85,4%), sendo os destinos nacionais fora do seu distrito (57,9%) os favoritos, seguidos das viagens pela Europa (31,3%).

Frequência de viagens por lazer ou turismo desde o início da pandemia

Aliás, no que toca à perceção da imagem de Portugal, é nos aspetos relacionados com o turismo que surge a melhor classificação (média de 8,39, numa escala de 1 a 10). Pelo contrário, é no capítulo das oportunidades de emprego e empreendedorismo (5,55) e da atividade profissional (5,88) que o país pontua pior, na perspetiva dos maiores de 55 anos. Dois em cada três lamentam que o mercado de trabalho não valorize suficientemente a sua experiência e conhecimentos.

“A população silver é uma força motriz do turismo português, já que a maioria viaja e está disposta a viajar mais num futuro próximo. Ao mesmo tempo, valoriza muito Portugal como destino turístico, mas também como um destino de aposentação. Por outro lado, é muito crítica em relação ao mercado de trabalho e à falta de oportunidades para o talento sénior”, lê-se neste estudo elaborado pela Fundação Mapfre, que é a primeira atividade do Centro de Investigación Ageingnomics fora de Espanha.

Num capítulo feito em colaboração com a Google, este barómetro evidencia ainda que a população digital sénior portuguesa está informada sobre a atualidade política e económica: 29% está a par das últimas notícias online sobre estes grandes temas, sendo 56% mais provável encontrar alguém bem informado nesta faixa etária do que nas restantes idades; e 48% pertence ao segmento Avid Investors (investidores ativos que se informam online), enquanto abaixo dos 55 anos a percentagem fica-se pelos 39%.

E no campo da sustentabilidade, o que estão os seniores portugueses dispostos a fazer para assegurar uma produção mais sustentável e uma menor emissão de CO2 para o ambiente? 85% a modificar os hábitos de consumo, 81% no consumo energético e 75% a votar em partidos que deem prioridade à transição ecológica. Ao invés, alterar os hábitos de transporte (55%), investir no seu próprio sistema de produção e consumo de energia (49%) e assumir custos mais elevados em alguns aspetos do seu consumo diário (37,6%) estão entre as opções menos escolhidas pelos maiores de 55 anos.

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