Exclusivo CEO do Novobanco diz aos trabalhadores que prepara banco para IPO

Durante uma reunião com os trabalhadores, Mark Bourke deu conta da estratégia do banco, que passa por ser "independente" e por uma oferta pública inicial. Irlandês já "vendeu" banco na Bloomberg.

Na primeira reunião que teve com os trabalhadores, o CEO do Novobanco abriu o jogo sobre o futuro do banco e revelou que a sua missão passa por prepará-lo para uma venda em bolsa através de um IPO (oferta pública inicial).

Não é segredo para ninguém que os americanos da Lone Star, depois de concluída a reestruturação do Novobanco, iriam avançar mais tarde ou mais cedo com planos para alienação da sua posição de 75%, à procura de retorno do seu investimento de mil milhões de euros injetados na instituição em 2017. Embora a ideia de um IPO venha ganhando alguma tração nas notícias nos últimos meses, estes planos nunca foram totalmente confirmados pelos responsáveis do banco, ainda que o tema seja discutido nos corredores da instituição.

Agora, se dúvidas ainda restassem, foram desfeitas com Mark Bourke a admitir internamente, junto dos trabalhadores, que o próximo capítulo do banco passa por uma espécie de regresso à bolsa – de onde o malfadado BES saiu em 2014, na sequência da sua capitulação.

No encontro de estreia com a comissão de trabalhadores após ter tomado posse como CEO, o irlandês, que já tem experiência de colocar um banco na bolsa (Allied Irish Banks, em 2017), foi questionado sobre o futuro do Novobanco. O que respondeu Mark Bourke? O substituto de António Ramalho sublinhou que mais importante do que a venda é mesmo “preparar o banco para um IPO, de forma a assegurar um futuro completamente independente”, segundo descreveu a comissão de trabalhadores numa nota interna a que o ECO teve acesso.

E logo a seguir apontou o caminho que levará o banco ao “sucesso”: “Precisamos de entender os nossos clientes, centrar-nos nas suas necessidades e ter processos simples e eficientes”. O foco dos trabalhadores deve passar por “dar uma boa experiência ao cliente”, enquanto o banco terá de tomar “decisões prudentes em termos de capital para ter uma posição sustentável e de futuro”.

Na reunião, que teve lugar a 21 de setembro, Mark Bourke também fez questão de dizer que vai tentar reunir com os trabalhadores três vezes por semana para se inteirar dos problemas da instituição e “ter uma visão alargada do banco”, anotou a comissão de trabalhadores.

Questionado pelo ECO sobre estas posições atribuídas ao CEO, fonte oficial não quis fazer comentários, lembrando apenas que Mark Bourke já tinha dito publicamente que o seu objetivo era tornar o banco “independente”.

Bourke “vende” banco na Bloomberg

Foi justamente isso que disse na entrevista na Bloomberg. “Do nosso ponto de vista, o importante é ser independente, ser sustentável e ser capaz de competir e aguentar e aí tens efetivamente o destino nas próprias mãos”, afirmou, acrescentando que o mandato que a Lone Star lhe atribuiu passa sobretudo por “preparar o banco e deixá-lo em boa forma para o que acontecer”. “Como qualquer proprietário, [a Lone Star] quer ter um negócio bem-sucedido”, disse.

Depois de ressalvar que o mercado bancário em Portugal já está “provavelmente mais concentrado do que na maioria dos outros países”, sugerindo que não haverá tanto espaço para consolidação interna, Mark Bourke aproveitou os holofotes da maior agência de notícias financeiras do mundo para fazer uma pequena apresentação do banco, talvez já pensando em potenciais interessados.

Tem uma pura estratégia de retalho e corporate e no contexto de Portugal corporate significa sobretudo pequenas e médias empresas”, ressalvou o irlandês. Toda a rede comercial foi reconstruída e hoje o seu “mecanismo omnicanal” é capaz “de competir e aguentar num ambiente de juros baixos, sendo mais forte num ambiente de normalização dos juros”.

“Apostamos nisso: somos muito claros no que fazemos e muito claros no que não fazemos”, apontou.

Adiantou ainda que o legado do BES está reduzido a 5% e que conta baixar o malparado para 3% ou 4% nos próximos dois a três anos através de reestruturações de crédito e vendas de carteiras – tem atualmente dois portefólios à venda, o Projeto Minerva de 140 milhões e o Projeto Phoenix.

E vai precisar de mais capital? “A partir do momento em que estamos a fazer dinheiro, reduzimos o nosso legado para menos de 5%, o banco é capaz de gerar capital consistentemente. Vamos gerar entre 80 e 100 pontos base de capital este ano. Temos seis trimestres de resultados positivos, não precisamos de levantar capital”, assegurou Bourke.

O Novobanco registou lucros de 267 milhões de euros no primeiro semestre do ano, quase o dobro do resultado do mesmo período do ano anterior.

Reestruturação fechada até final do ano

Na reunião com os trabalhadores, Mark Bourke contou que o banco esperava ter o plano de reestruturação fechado no ano passado e que Bruxelas não fechou o processo, porque um dos 33 compromissos assumidos pelo Governo com a DGComp (da margem financeira) não foi atingido. Agora, a expectativa é que o processo seja encerrado em dezembro, “sem mais consequências”, pois o banco já cumpriu com os objetivos adicionais que estavam previstos, segundo explicou.

A mudança para o Tagus Park foi outro dos temas abordados, na sequência da venda da histórica sede na Avenida da Liberdade, em Lisboa, no verão. O dossiê está entregue à administradora Luísa Soares da Silva. O banco está a falar com outras empresas que também se mudaram no sentido de perceber como foi feito o processo para assegurar uma transição bem-sucedida.

O encontro foi aproveitado pela comissão para apresentar uma proposta para ajudar os trabalhadores a enfrentar o impacto da escalada dos preços. Ajuste salarial de 150 euros por mês durante seis meses e aumento temporário do subsídio de alimentação ou prémio único de 900 euros em dezembro foram alguns dos pedidos da comissão de trabalhadores, que estimou um custo de 5,3 milhões de euros com o total de apoios, com um impacto de apenas 0,9% nos resultados estimados para este ano. Bourke, que estava acompanhado da diretora de recursos humanos, respondeu que ia analisar a proposta, mas sem se comprometer e disse que era preciso ter “muito cuidado” com a situação financeira do banco.

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