Retalho precisa de investir até 35 mil milhões de euros adicionais para transformar força laboral

O setor, que emprega 26 milhões de pessoas na UE, terá de formar até 13 milhões de funcionários e contratar até 1,5 milhões de pessoas todos os anos, até 2030, conclui a McKinsey.

Não há dúvidas. Nos próximos anos, os retalhistas têm de acelerar a formação ao longo da vida dos seus profissionais, para não perderem o comboio da transformação do setor e manterem-se competitivos frente a outras companhias do setor do retalho, mas não só. Competências e talentos são palavras que não podem faltar nesta equação. O número? Entre 25 a 35 mil milhões de euros. Esta é a quantia adicional estimada pela McKinsey que o retalho precisa de injetar até 2030 para transformar a sua força laboral, valor a somar aos 50 a 70 mil milhões de euros que o setor já investiria.

Mas há outros números grandes. “O setor retalhista e grossista emprega 26 milhões de pessoas (13% da mão de obra da União Europeia). Desempenha um papel fundamental como motor na educação e formação para a UE. Para enfrentar os desafios da transformação tripla, o setor precisará de formar até 13 milhões de funcionários e contratar até 1,5 milhões de pessoas todos os anos, até 2030″, lê-se no relatório “Transforming the EU Retail & Wholesale Sector”, elaborado pela consultora americana McKiseny & Company.

Para isso, o investimento adicional previsto no setor do retalho é de entre 25 a 35 mil milhões de euros. Um valor que soma aos 50 a 70 mil milhões de euros que o setor já investiria até 2030.

Como é que as funções podem mudar?

Das operações nas lojas até à logística nos armazéns, passando ainda pela área corporativa, é expectável que as funções no retalho — tal como em muitas outras indústrias — se transformem.

Nas operações de loja, por exemplo, o aumento da utilização do self-checkout poderia reduzir o tempo dos funcionários que trabalham nas caixas em até 50%, até 2023. Mudanças que obrigam a novas tarefas para compensar o tempo libertado. “Isto poderia incluir o apoio ao cliente em estações de self-checkout e a recolha produtos de encomendas online (…) Os atuais funcionários nas caixas podem ter de adquirir novas competências e aprofundar as já existentes, como a assistência ao cliente e o conhecimento de como utilizar ferramentas digitais, incluindo as estações de self-checkout, os scanners digitais de preços e aplicações para smartphones“, sugere a consultora.

O setor como um todo pode precisar de investir um total de 25 a 35 mil milhões de euros em iniciativas de requalificação até 2030, que é 40 a 60% mais do que investe atualmente.

Relatório McKinsey

Nas vendas, à medida que as lojas adotam reabastecimento de prateleiras robotizadas, etiquetas de preços digitais e frigoríficos inteligentes que verificam o inventário e datas de validade, o pessoal pode ter mais tempo para se especializar e melhorar o serviço ao cliente, mas, ao mesmo tempo, vai precisar de conhecimentos mais técnicos de análise de produto e receitas.

Já na área da logística, mesmo nos países da União Europeia, onde a disponibilidade para a automatização é elevada, apenas metade dos novos armazéns são semi-automatizados. Com a automação a sugerir “alto potencial para ganhos de produtividade”, espera-se que o número de postos de trabalho nos armazéns também cresça com o comércio eletrónico.

“Pessoas em funções de armazém podem precisar de novas capacidades para tomarem decisões baseadas em dados e usarem analítica avançada para, por exemplo, saberem prever da procura; e gerir a transição de offline para operações omnichannel, incluindo gestão de stocks e fluxos para lojas online”, lê-se no relatório.

Nas funções relacionadas com o transporte, a McKinsey dá conta que os postos de trabalho também estão a aumentar, fruto do comércio online. “É esperado que surjam novos trabalhos relacionados com a last mile delivery [a última etapa do processo], parte na categoria dos retalhistas. (…) Novas tecnologias, como os drones de entregas, podem trazer novos requisitos de skills para manutenção técnica e outras funções.”

Já na área corporativa, é provável que o número de postos de trabalho relacionados com a gestão de categorias e marketing aumentem. Mas, atenção, estes profissionais vão precisar de “competências técnicas e de análise” para lidarem com “preços dinâmicos, gestão de tráfego online e taxas de conversão ao longo do funil de compra”, assim como com a “manutenção do website de comércio eletrónico”.

Finalmente, nas funções de recursos humanos, enquanto se espera que a automação reduza o número de tarefas administrativas, a previsão da consultora é que o número de profissionais em RH aumente, consequência da necessidade de encontrar “estratégica” e “talento com a formação necessária”. Os profissionais de recursos humanos terão, por sua vez, de munir-se de competências técnicas e aptidões emocionais para lograrem atrair e formar talento diverso.

Ser um íman para o talento torna-se crítico. Muitas indústrias estão também à procura de novos talentos para preencher novas funções, particularmente em digital e analítica, e as empresas do comércio retalhista terão de competir.

“Ser um íman para o talento torna-se crítico. Muitas indústrias estão também à procura de novos talentos para preencher novas funções, particularmente em digital e analítica, e as empresas do comércio retalhista terão de competir. A taxa de ofertas de emprego no setor do retalho atingiu o nível mais alto de sempre, de 1,8% em 2021, acima dos 1,3% em 2020 e do 1% em 2012, refletindo a atual dificuldade de preencher as vagas em todos os setores da economia.”

Recomendações

Para que o setor se mantenha competitivo frente a outras companhias — não só retalhistas, mas de todas as outras indústrias — o relatório da McKinsey sugere que sejam definidos planos claros de evolução e progressão de carreiras. Competências, upskilling, reskilling e atração e retenção de talento são as áreas de atuação.

  • Competências

A consultora norte-americana recomenda que as retalhistas proporcionem mais aprendizagens, nomeadamente através da formação profissional e vocacional que prepare as pessoas para carreiras no setor.

  • Upskilling e reskilling

A McKinsey salienta a importância do upskilling — “oferecer formação para dar aos empregados as novas competências necessárias à evolução das funções” — e do reskilling — “proporcionar formação para dar aos trabalhadores as competências necessárias para a transição para novos postos de trabalho, dentro ou fora do setor”.

  • Atração e retenção de talento

Passo crucial para potenciar a competitividade da indústria do retalho, mas com “Employee Value Proposition [EVP] mais definidos”.

“Para alguns papéis vitais, tais como funções de cientista de dados, os retalhistas e os grossistas estão a competir por talentos, não só uns com os outros, mas também com empresas de outros setores. O número de anúncios de emprego para cientistas de dados excede agora o número de candidatos. Para preencher lacunas nestas áreas e manter talento de topo, as empresas do setor podem precisam de aguçar ou renovar os seus EVP. Os retalhistas e grossistas podem distinguir-se através de modelos de trabalho mais flexíveis, regalias específicas da função, programas de diversidade e inclusão, por exemplo, para empregados com deficiências”, sugere a McKinsey no relatório.

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