Os 3 passos do negócio CTT que dão nova ambição à Tranquilidade

Ao tomar 8,71% do Banco CTT, e com acordos de distribuição exclusivos com o grupo dos correios, a Tranquilidade/Generali está com quem mais capta poupanças em Portugal.

O anúncio do propósito de aquisição de 8,7% do capital do Banco CTT pela Tranquilidade/Generali Seguros, a companhia portuguesa do grupo italiano e 10º maior do mundo, faz acreditar que a presença italiana no país se vai reforçar e muito. Sem declarações por parte dos CTT e da Generali, uma vez que a operação precisa ainda de ser autorizada pelas entidades reguladoras Banco de Portugal, ASF e Banco Central Europeu, o prospeto da parceria estratégica entre CTT, Banco CTT e Tranquilidade/Generali Seguros, entregue na Comissão de Mercado de valores Mobiliários (CMVM), dá certezas e pistas em relação às intenções da seguradora italiana.

Philippe Donnet, CEO mundial da Generali, esteve com Pedro Carvalho, CEO em Portugal, para assinar um protocolo com a Fundação Champalimaud. Na altura, julho deste ano, não se referiu a novos investimentos.

A parceria tem três componentes. A primeira é um aumento de capital do Banco CTT subscrito pela Generali Seguros no valor de 25 milhões de euros em troca de uma participação de 8,71%, posição a ceder pelos CTT que ainda detém 100% do capital do seu Banco. A avaliação considera um valor 10% acima dos capitais próprios do Banco CTT no primeiro semestre deste ano que foi de 262 milhões de euros e, segundo a informação, vai permitir o desenvolvimento do banco e reforçar a sua posição de capital.

A segunda componente prevê um contrato de distribuição de seguros com os CTT. Os correios receberão 1 milhão de euros da Generali durante os primeiros 6 anos de contrato e potenciais pagamentos adicionais em função do desempenho alcançado. Os produtos a oferecer serão seguros Vida Risco, Automóvel, Saúde, Acidentes Pessoais, Multiriscos e outros do ramo Não Vida. Não estão previstos seguros de Vida financeiros e a rede a usar será de 569 postos de correio em todo o continente e regiões autónomas.

Finalmente, o negócio completa-se com um contrato de distribuição com o Banco CTT que vai usar as 212 lojas do Banco e os seus canais digitais para comercializar seguros de Vida Risco, produtos de poupança e coberturas para desemprego, automóvel, saúde, acidentes pessoais, multirriscos e outros ramos Não Vida. Por este acesso a Generali pagará 9 milhões de euros ao Banco CTT, também por 6 anos e com potenciais pagamentos adicionais em função do desempenho comercial.

Este reforço de redes a junta-se à rede de distribuição da Tranquilidade/Generali composta, no final do ano passado por 13 lojas próprias -em Lisboa, Porto e 11 lojas nos Açores -, e 641 lojas de parceiros com imagem da Tranquilidade ou Açoreana, dos quais 282 são exclusivos.

O canal bancário que faltava para poder crescer

À Tranquilidade/Generali faltava um canal bancário e uma rede como a dos CTT para dar um impulso ao seu ramo Vida que conta pouco do total da sua produção, apenas 6% em 2021 e estavelmente assim desde há anos. Os acordos de distribuição com os CTT junta a seguradora à entidade que mais capta poupança em Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro, sendo os seus clientes enormes financiadores da dívida da República Portuguesa. Também o banco tem uma atividade crescente partilhando quase sempre o mesmo espaço físico da estação de correios.

Os bancos têm um peso demasiado importante para se não contar com eles. A Fidelidade está principalmente com a CGD, Ageas com o Millennium bcp, GamaLife e Mudum com o Novo Banco, BPI VeP e Allianz com o BPI, as Lusitania com o Montepio, as CA com o Crédito Agrícola. A Generali está atualmente a vender alguns seguros no Novo Banco, nos CTT e no Banco CTT, mas nada relevante. Segundo dados da Associação Portuguesa de Seguradores o canal bancário representou cerca de 48% das vendas totais de seguros. Para as companhias exclusivamente de Vida o seu peso ascendeu a 77% em 2021. Para as companhias Não Vida foi de 25% porque, nesse campo, os agentes e mediadores de seguros têm maior sucesso.

A lacuna em Vida levou a Generali a ser muito especializada em acidentes de Trabalho e Automóvel, com crescimentos elevados em produção no ramo saúde com a ajuda da operacionalização da Advance Care, participada da Generali S.p.a que também foi adquirida ao mesmo tempo que a Seguradoras Unidas, e ao mesmo proprietário, por 90 milhões de euros. As ligações também se estendem a Europ Assistance, outra seguradora do grupo italiano.

Ao mesmo tempo a Tranquilidade está de saída das suas participadas em África. Vendeu a carteira da Tranquilidade Moçambique à Fidelidade e tentou em 2020 alienar a sua participação de 49% na Tranquilidade – Corporação Angolana de Seguros, mas a pandemia e demoras várias fizeram cair o negócio. O foco é mesmo Portugal.

Até agora o negócio Vida significava pouco para a Tranquilidade, o nome da marca principal é cada vez mais usado que Generali Seguros mesmo para designar a própria companhia de seguros. A partir desta operação, caso seja aprovada, o negócio irá de produtos de investimento e poupança, aos mais populares seguros de risco puro, como os associados ao crédito à habitação e ao crédito ao consumo, que vão certamente ter novo incremento na carteira da companhia.

Ao ramo Vida está ligado a necessidade de capitais próprios, ou movimentos financeiros com garantias muito fortes, para assegurar a solidez dos balanços das companhias. Para crescer, os acionistas têm de investir para assegurar rácios de solvabilidade estabelecidos por regras europeias. No final de 2021, a Tranquilidade estava abaixo da média do mercado, mas bastante acima do mínimo. O empenho evidente da casa-mãe na expansão portuguesa e a pequena dimensão da operação local, a juntar a dados como a retenção na companhia dos lucros de 58 milhões de euros obtidos no ano passado, reforçam a ideia de que em pouco tempo a composição da carteira estará diferente, com a Generali s.p.a., conhecida mundialmente pelo seu conhecimento no ramo Vida, a ter correspondência no negócio da sua portuguesa Tranquilidade e a dar o necessário respaldo.

É esta Assicurazioni Generali S.p.A que detém 100% da Tranquilidade. Com cerca de 70 mil milhões de euros de prémios emitidos por ano, cerca de 6 vezes todo o mercado nacional, é o 10º maior do mundo e 3º maior da Europa, depois da francesa AXA, que vendeu os seus negócios portugueses ao Grupo Ageas, e da alemã Allianz. Está em 50 países e, em Itália, detém 33% do mercado enquanto em França e Alemanha controla cerca de 20%.

Depois de, em janeiro de 2020, comprar a Seguradoras Unidas por 510 milhões de euros a fundos da americana Apollo Global Management, a Generali s.p.a. decidiu manter as marcas portuguesas e esquecer a sua própria que utilizava em Portugal desde 1942. As marcas são a Tranquilidade com mais de 150 anos, Açoreana dada a sua história de 130 anos e sua posição dominante nos Açores e a LOGO, marca digital de seguros lançada em 2008, a primeira seguradora direta a disponibilizar compra de seguros totalmente online. São hoje a bandeira da Generali Seguros SA, criada em outubro de 2020 como resultado da fusão da Seguradoras Unidas, da Generali Vida e da Generali, a que tratava dos ramos Não Vida.

Mesmo antes da grande aposta no ramo Vida, a Tranquilidade é, ao fim dos primeiros nove meses de 2022, a 2ª maior companhia no mercado nacional, com cerca de 10% de quota embora, enquanto grupo, a Ageas Portugal seja o 2º maior com as suas quatro companhias a conseguirem 16%. A liderança pertence historicamente à Fidelidade com 30% do mercado.

Retificação: o artigo foi alterado. Por lapso foi indicado que os pagamentos da Generali aos CTT e Banco CTT, respetivamente de 1 e 9 milhões de euros, eram anuais, quando o prospeto divulgado pelo grupo CTT à CMVM não indica essa periodicidade nem outra.

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