Juros menos impostos e comissões. Quanto investir nas OTRV?
Aplicar 5.000 euros pode dar-lhe prejuízo nestas OTRV. E mesmo 10.000 euros chegam para... compensar a inflação. O ECO fez as contas aos impostos e comissões. Saiba quanto investir.
O IGCP está a acenar com um prémio de 1,9% nesta emissão de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), mas os impostos e, sobretudo, as comissões bancárias estão exigir mais (dinheiro) da parte dos investidores na hora de extrair rendimentos positivos com este empréstimo ao Estado. Pode perder dinheiro mesmo aplicando cinco mil euros. Dez mil euros? Chegam… para compensar a inflação. Quanto investir?
O ECO estabeleceu quatro cenários de investimento em função do montante investido: 1.000 euros, 5.000 euros, 10.000 euros e 16.600 euros. Os cálculos apresentados têm como base o simulador da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para cinco bancos: Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, BPI, Novo Banco e Santander Totta. Nota importante: à taxa da emissão de 1,9% deve ser somada a Euribor a seis meses, que não foi tida em conta nestas simulações.
Se tiver de ser, que seja com força
Como diz a música dos Deolinda, “o que tem de ser tem muita força”. Isto para dizer que, se estiver a pensar aplicar 1.000 euros — o montante mínimo exigido para investir nas OTRV (o máximo é de um milhão de euros) –, isso pode ser manifestamente insuficiente para extrair rentabilidades positivas do investimento.
Os encargos decorrentes de comissões (sobretudo relacionados com as chamadas comissões de custódia) bancárias e impostos atiram as rentabilidades para terreno negativo em qualquer dos bancos em análise. Ou seja, no final da aplicação a cinco anos, ficará sempre a perder dinheiro com o investimento realizado, entre 140 euros (BCP) e 250 euros (Novo Banco).
Mas o cenário muda no caso de já possuir uma conta de negociação. Dado que já teria de assumir encargos com as comissões de registo e depósito com outros títulos financeiros que tem em carteira, este custo surge diluído com uma aplicação de mil euros em OTRV, permitindo-lhe alcançar um retorno líquido positivo. Um retorno que será mais atrativo na CGD e BCP (mais de 50 euros) do que Santander Totta e Novo Banco ainda assim (menos de 10 euros).
Cenário 1: Investimento de 1.000 euros
Mesmo 5.000 euros podem não render
Não há dúvidas de que são sobretudo as comissões de custódia que desempenham um papel determinante na hora de avaliar se vale a pena ou não (e a partir de que montante) um investimento nesta nova emissão do IGCP. Tira melhor partido desta emissão de OTRV quem já possuir uma conta de negociação junto do intermediário financeiro.
Quem não possui, terá de realizar um esforço maior para chegar a terreno positivo. E, neste caso, uma aplicação de 5.000 euros bastaria para obter uma rentabilidade positiva. Mas, dos cinco bancos selecionados, esse montante pode também não ser suficiente. Veja-se o caso do Novo Banco: no final de cinco anos, o retorno em juros seria negativo em 2,65 euros, considerando já todos os custos (custódia e impostos incluídos). Nos restantes intermediários financeiros analisados, BCP e BPI conseguem ser mais atrativos para investimentos neste montante: mais de 100 euros.
Já tem conta de negociação? Terá mais a ganhar se for cliente da CGD. O banco estatal dá um ganho de 310 euros em juros com um investimento de 5.000 euros, de acordo com o simulador da CMVM. A Taxa Interna de Rentabilidade, que deve solicitar ao intermediário antes de investir, chega, neste caso, aos 1,246%.
Cenário 2: Investimento de 5.000 euros
Dez mil euros dão para 600 euros. Cuidado com a inflação
Naturalmente, quanto mais elevado o montante do investimento, maior o retorno (e exposição ao risco) consegue extrair. Para uma aplicação de dez mil euros, como se apresenta no terceiro cenário, o retorno com juros pode chegar superar mesmo os 600 euros nos cinco anos de investimento — casos do BPI e CGD, numa situação em que o aforrador não tem comissões com custódia.
Estes dois bancos apresentam taxas de rentabilidade acima de 1,2%. São melhores do que nos cenários anteriores, mas não chegam, porém, para compensar o efeito de erosão que a inflação — os preços deverão subir 1,5% este ano e acelerar nos próximos anos. No entanto, também a taxa das OTRV pode subir, basta que a Euribor a seis meses acelere.
Para o investidor que vai iniciar uma conta de negociação através desta emissão, BPI e BCP assumem-se como intermediários que melhores taxas de rentabilidade conseguem apresentar. Descontando todos os custos (impostos, subscrição, reembolso, pagamento de cupão e custódia), 10 mil euros investidos em OTRV pagam-lhe 418,88 euros e 400,98 euros ao longo dos cinco anos previstos no prazo do investimento, respetivamente.
Cenário 3: Investimento de 10.000 euros
O cenário ótimo
Num quarto cenário, assumimos um investimento de 16.600 euros, que foi a aplicação média de um investidor na última operação do género, em novembro do ano passado.
Na teoria de um mercado racional, onde as decisões dos investidores são otimizadas em função do lucro e risco, pode ser um cenário a considerar. Aliás, apenas neste cenário quatro, e considerando o “fardo” das comissões de custódia, é que encontramos as taxas de rentabilidade capazes de superar a subida dos preços.
Vai estrear-se neste tipo de investimentos? BPI, BCP e CGD podem ser a melhor solução para abrir uma conta negociação que albergue estes títulos de dívida do Estado. Ao fim de cinco anos, terá um ganho de mais de 800 euros.
Já tem conta aberta num destes intermediários? Será presenteado com retornos mais elevados se for cliente do BPI ou CGD, pagando juros na casa dos 1.050 euros em cinco anos.
Cenário 4: Investimento de 16.600 euros
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