Trabalho híbrido e remoto representa, no máximo, 30% das vagas
Recrutadoras defendem que candidatos querem trabalho à distância como parte integrante do seu pacote salarial. Apenas 2% dos profissionais ficariam felizes com um regresso ao escritório a 100%.
Depois do ‘boom’ do trabalho remoto, que acabou por ser um modelo forçado devido à pandemia da Covid-19, a maioria das empresas mantém os regimes laborais pré-pandemia. Entre as cerca de 1.000 a 2.000 ofertas de emprego publicadas no portal do Alerta Emprego, apenas entre 3% a 4% são para trabalho totalmente remoto, e só 2% para regimes híbridos. Já na Michael Page, o trabalho remoto ou híbrido representa 30% das mais de 1.600 oportunidades divulgadas no website, sabe a Pessoas.
“Das cerca de mil a duas mil ofertas que vamos reunindo no portal, conseguimos identificar cerca de 3% a 4% para regimes de trabalho totalmente remoto e cerca de 2% das ofertas para regimes híbridos”, avança Joana Piteira, general manager do Alerta Emprego.
Contudo, reforça que os números podem não representar exatamente a realidade no mercado de trabalho, pois muitas empresas não selecionam a opção de teletrabalho ou trabalho híbrido ao publicarem as vagas. Num contexto de escassez de talento, e em que o trabalho flexível pode ser determinante na atração de novos colaboradores, porque é que não o mencionam? “Em primeiro lugar, pode ser porque as empresas ainda não estão ‘habituadas’ a selecionar essa opção nos anúncios de emprego. Sentimos que muitas das empresas não selecionam a opção, embora depois na descrição da vaga esteja explicado”, esclarece.
“Em segundo lugar, frequentemente as empresas guardam essa informação para fases mais avançadas da entrevista. Embora seja um excelente benefício, as empresas querem muitas vezes filtrar os candidatos e ver o verdadeiro interesse na empresa e na vaga e não apenas no facto de poderem trabalhar a partir de casa. Neste sentido, o trabalho híbrido é um benefício muitas vezes referido apenas em fases mais avançadas do processo”, complementa Joana Piteira.
A contagem fornecida à Pessoas pela Michael Page, apesar de não fazer a distinção entre as vagas destinadas a trabalho híbrido e a trabalho totalmente remoto, já mostra uma percentagem mais elevada de organizações portugueses a recrutarem com a opção de trabalhar à distância. Entre as mais de 1.600 oportunidades divulgadas pela recrutadora, 30% são para trabalho remoto ou híbrido.
“No pós-pandemia, temos assistido a bastantes empresas a optarem, pelo menos, pelo regime híbrido. Algumas regressaram a 100% presencial e outras promovem 100% de flexibilidade. A vertente 2/3 dias em casa/escritório ou 3/2 dias em casa/escritório tem sido a mais comum nos regimes híbridos“, comenta Sílvia Nunes, diretora da Michael Page.
“A verdade é que os candidatos procuram atualmente este benefício como parte integrante do seu package salarial”, reforça.
“O período pandémico agitou bastante o mundo empresarial e promoveu grandes mudanças no dia a dia das empresas. Hoje verificamos cada vez mais ofertas para trabalho 100% remoto, quando comparadas ao período pré-pandemia. O que sentimos é que, apesar de muitas empresas já utilizarem o trabalho remoto como benefício para os seus profissionais, muitos candidatos também já o exigem, mesmo que este não seja apresentado numa primeira fase”, concorda Joana Piteira.
Apenas 2% ficaria feliz com regresso ao escritório a 100%
O “Portugal Salary Guide 2023”, elaborado pela Hays, reforça a importância dada pelos profissionais ao trabalho flexível. Questionados sobre como se sentiriam caso tivessem de regressar ao escritório a tempo inteiro, 25% admitiu que gostava de ter um regime mais flexível e 15% disse mesmo que começaria à procura de um novo desafio profissional.
Apenas 2% dos profissionais inquiridos pela consultora ficariam felizes de regressar a 100% ao escritório. Mas em certos setores — como é o caso da construção e imobiliário, legal e marketing e comunicação — essa percentagem é mesmo nula.
Então, o que faria os profissionais aceitar uma oferta de trabalho que implicasse trabalho totalmente presencial no escritório? Mais de 40% diz que só um salário mais elevado poderia levá-los a aceitar. E 20% aceitaria caso a empresa tivesse um horário flexível.
Ao mesmo tempo, 8% dos profissionais garantem mesmo que não considerariam de todo a proposta, e apenas 3% diz que aceitaria caso as condições do escritório fossem “extraordinárias”, o que demonstra que não são os escritórios renovados que atraem os profissionais às instalações.
IT continua a liderar ofertas para trabalho remoto
As funções remotas são, regra geral, mais comuns entre as ofertas de trabalho para o setor tecnológico, revelam as empresas de recrutamento ouvidas pela Pessoas. No entanto, áreas ligadas ao apoio ao cliente, contabilidade, gestão e marketing começam também a oferecer, cada vez mais, vagas com possibilidade de trabalho remoto, alerta Joana Piteira, do Alerta Emprego.
“Aliás, a tendências é que mesmo os setores mais tradicionais façam um esforço por acompanhar esta tendência, disponibilizando uma maior flexibilidade aos seus profissionais, no que respeita ao modelo em que trabalham”, acrescenta.
Por outro lado, entre as empresas que mais recrutam para trabalho totalmente presencial, a responsável destaca “funções que não são possíveis desempenhar em modelo remoto ou hibrido não oferecem estas opções, nomeadamente, em setores como o retalho e distribuição, que recrutam quer para funções de loja quer para funções de fábrica, onde é fundamental que o colaborador esteja presente.”
Sílvia Nunes, da Michael Page, considera antes que a tendência é independente de um setor ou dimensão em específico. “Pode acontecer tanto num setor de eletrónica de consumo, como na área alimentar. Depende da realidade de cada organização e não tanto de um setor de atividade em particular”, defende.
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